Petróleo pode testar os US$ 40 antes do fim do ano?

Vladimir Putin e Mohammad bin Salman Al Saud (2)
Vladimir Putin e Mohammad bin Salman Al Saud (2)

Por Barani Krishnan/Investing.com

Khalid al-Falih provavelmente esperava que os preços do petróleo continuassem caindo no período de festas de fim de ano e durante algum tempo no ano novo, até que seus planos de corte de produção tivessem início. O que o ministro de energia da Arábia Saudita talvez não esperava é o estrago que a forte queda vem causando no mercado.

O petróleo já perdeu US$ 6 por barril desde que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), liderada pelos sauditas, anunciou, no dia 7 de dezembro, que a Rússia e outros aliados não membros se unirão ao cartel para cortar 1,2 milhão de barris por dia (bpd) na oferta durante os próximos seis, a partir de janeiro.

Considerando que o mercado despencou quase US$ 25 por barril nos dois meses anteriores à decisão da Opep, as perdas das últimas duas semanas podem parecer relativamente pequenas.

Preços afundaram 40% em apenas 2 meses
Obviamente, em seu conjunto, a desvalorização de US$ 30 por barril desde as máximas de quatro anos de outubro de quase US$ 77 para petróleo norte-americano West Texas Intermediate WTI e de quase US$ 87 para o britânico Brent foi algo bastante estarrecedor.

Porém, mais do que essa perda de 40%, o que os poucos compradores que restam nesse mercado de baixa mais temem é aonde os preços podem parar. Às vésperas da reunião da Opep, o medo era que o petróleo viesse abaixo dos US$ 50 por barril.

Mas, depois da queda de 7% na terça-feira – terceira vez em que o mercado despencava tanto em um dia nas últimas quatro semanas – havia dúvidas se o petróleo conseguiria pelo menos se firmar acima dos US$ 40. A última vez em que o petróleo chegou a esses níveis foi em agosto de 2016, durante a primeira rodada da crise gerada pelo excesso de oferta do shale nos EUA.

Russos e sauditas se unem aos americanos na superprodução
Adam Sarhan, fundador do fundo de mercados mundiais 50 Park Investments, com sede em Nova York, já está se preparando para outra eventualidade como essa, já que o atual excesso de oferta está sendo causado não apenas pelo petróleo de shale, mas também pela produção recorde da Arábia Saudita e da Rússia.

A possibilidade de uma recessão mundial aumentou ainda mais o temor dos investidores, declarou Sarhan, que disse ainda:

“Os comprados em petróleo tremem só de imaginar o mercado abaixo dos US$ 40. Mas muitos se esquecem de que as cotações já chegaram a quase US$ 25 durante a primeira rodada da crise do shale.

Em um ‘bear market’ extremo como o que temos agora, as pessoas vão deixar de lado todas as boas notícias e focar no que está impulsionando a venda. Então, podemos chegar aos US$ 30, mas deve haver uma deterioração considerável dos fundamentos, dos aspectos técnicos e da economia mundial.”

Essa deterioração pode estar acontecendo, em razão das novas máximas de produção registradas nesta semana nos EUA, Arábia Saudita e Rússia.

A Energy Information Administration (IEA), dos EUA, declarou, em seu relatório mensal de exploração, na segunda-feira, que havia a expectativa de que a produção petrolífera das sete principais bacias de shale nos EUA ultrapassasse 8 milhões bpd até o fim do ano. Os Estados Unidos já são o maior produtor de petróleo do mundo, com um pico de produção de 11,7 milhões bpd e uma média de 10,9 milhões bpd neste ano. Para 2019, a EIA prevê uma média de 12,1 milhões bpd – um aumento de 1,2 milhão bpd em relação a este ano, o que, em tese, anula o plano da Opep de cortar a oferta nos próximos seis meses.

Além dos dados da EIA, a Reuters divulgou na terça-feira que a Rússia bombeou um recorde de 11,42 milhões bpd neste ano.As próprias exportações de petróleo bruto da Arábia Saudita em outubro subiram para 7,7 milhões bpd, em comparação com 7,433 milhões bpd em setembro, segundo os dados oficiais.

Combinados, esses números amenizam as notícias positivas, como o evento de força maior envolvendo 385.000 bpd, segundo a Companhia Nacional de Petróleo da Líbia, após a tomada de dois campos petrolíferos do El Sharara por militantes, maior campo de petróleo do país. Outra notícia que passou despercebida foi uma matéria da Bloomberg informando que o ministro de energia russo, Alexander Novak, planejava se reunir com executivos das empresas petrolíferas locais, na quarta-feira, para discutir os planos do país para cortar 228.000 bpd no primeiro trimestre de 2019.

Recessão global intensifica os temores
O petróleo também tem sido afetado pela instabilidade do mercado de ações nos EUA, bem como pela piora no desempenho das vendas de varejo na China em 15 anos e pelos esforços do Brexit, que poderiam deixar a economia britânica em seu estado mais vulnerável de todos os tempos, sem o apoio da UE.

Dominick Chirichella, do Instituto de Gestão Energética de Nova York, afirmou:

“O sentimento baixista está presente não só na comunidade de traders, mas também entre um número crescente de investidores e gestores de fundos, que agora esperam que a economia mundial se enfraqueça e desacelere a demanda de petróleo em 2019.”

Porém, mesmo que as notícias sobre o petróleo não sejam ruins, a tendência de venda provavelmente continuará por duas razões: o ressurgimento dos modelos operacionais baseados em algoritmos, que tomaram o lugar dos traders humanos, e o fato de que muitos destes estão de férias nesta época do ano, contribuindo para o baixo volume de negociação, típico para esta época do ano.

Como profecias que se autorrealizam e alimentam umas às outras, os modelos operacionais baseados em computador buscam novas mínimas técnicas que possam ser rompidas, ao mesmo tempo que o menor volume de negociação amplia o impacto de cada pernada de baixa. Resultado: vendas gerando mais vendas.

Algoritmos pioram a situação
Scott Shelton, analista e corretor da ICAP em Durham, Carolina do norte, afirmou que existe uma escassez de compradores no mercado como um todo.

“O que provavelmente é o problema maior, pois os algoritmos sentem o cheiro disso e continuam criando fraqueza para acionar os stops até mesmo dos menores compradores… O mercado está intensificando a dor, embora seja um mistério para mim quem ainda está na ponta compradora depois desses dois meses.”

Phil Davis, da PSW Investments, de Nova York, evidentemente não é um daqueles que perderam dinheiro comprando as quedas do petróleo algumas vezes nos últimos dois meses.Em suas palavras:

“É maluquice demais se envolver nesse mercado. Não estou nem vendido, nem comprado.”

Assim como Sarhan, Davis não descartaria que o WTI possa testar os US$ 40 antes do fim do ano, apesar de esse ser o suporte mais relevante do mercado. O analista complementou:

“O petróleo não está respeitando nada nesta etapa, e perdemos totalmente o controle da situação.”