A história do petróleo no ano passado era ditada pelo excesso de oferta. A história deste ano pode ser ditada pela demanda da China, ou melhor, pela falta dela.
Justamente no momento em que os “touros” do petróleo acreditavam que tinham tudo para fazer o mercado subir em 2019 – cortes agressivos de produção na Arábia Saudita e um Federal Reserve mais amigável, que pode não elevar a taxa de juros como se previa –, a incerteza com a economia global, particularmente na China, está segurando o rali nos preços do petróleo.
Um mercado com dificuldade para subir
O petróleo West Texas Intermediate subiu cerca de US$ 6 por barril, ou 14%, desde as mínimas de 18 meses atingidas na véspera de Natal.
Mas esses ganhos não foram fáceis. Houve muita volatilidade em quase todos os pregões desde 2 de janeiro, com o mercado apresentando dificuldades para segurar os ganhos obtidos no início até o fim. O pregão de segunda-feira foi um exemplo perfeito, em que o WTI novamente falhou em testar a importante resistência dos US$ 50, apesar de fechar na meta por duas sessões seguidas.
A Energy Aspects e o Goldman Sachs, duas reconhecidas instituições de pesquisas sobre o petróleo, não têm dúvidas em relação a qual será o calcanhar de Aquiles do mercado neste ano em sua opinião: compras mais fracas da China.
Em uma nota emitida na segunda-feira, os analistas da Energy Aspects em Londres disseram:
“A China sem dúvida é a maior preocupação, principalmente por causa da fraqueza dos últimos dados econômicos. Não é de surpreender que haja um arrefecimento das compras de petróleo na China no curto prazo, após o recorde de importações de novembro e a chegada de grandes remessas em dezembro.”
Previsão de queda de 26% no crescimento da demanda chinesa
Os analistas do Goldman Sachs (NYSE:GS), liderados por Damien Courvalin e Jeffrey Currie, que estão à frente da equipe de commodities do banco de Wall Street, declararam, em uma assessoria a clientes também divulgada na segunda-feira, que a expectativa para o crescimento da demanda petrolífera na China é de queda de 26%, de 475.000 barris por dia (bpd), em 2018, para 350.000 bpd em 2019, na comparação ano a ano.
Por outro lado, a expectativa para a demanda de outros países emergentes além da China é de recuperação, à medida que Brasil, Turquia, África do Sul e Rússia saiam da recessão, segundo os analistas.
Mas, os EUA e a China não vão realizar tratativas comerciais nesta semana, com probabilidade de fecharem algum tipo de acordo? Sim e não.
O fato de uma equipe de negociação de alto nível dos EUA, liderada pelo representante comercial, Jeffrey Gerrish, e pelo subsecretário do tesouro para assuntos internacionais, David Malpass, estar em Pequim para a reunião e de o vice-premiê chinês, Liu He, demonstrar surpresa pode ser considerado como um sinal positivo para as tratativas.
Tratativas sino-americanas ainda não têm acordo garantido
Mas, em razão da árdua lista de questões comerciais entre as duas nações e o ponto de ebulição atingido em suas relações antes da trégua de 90 dias acordada pelo presidente Donald Trump e o líder chinês, Xi Jinping, em 1 de dezembro, não é seguro pressupor que o acordo já esteja garantido até que ele, de fato, se concretize.
A Energy Aspects ressaltou a importância das negociações que estão sendo realizadas em Pequim, ao afirmar que riscos consideráveis e difíceis de quantificar, provocados pelas incertezas da guerra comercial sino-americana, já estavam começando a afetar os resultados corporativos na China. A empresa afirmou ainda:
“O governo (chinês) está tomando medidas para sustentar o crescimento, mas isso levará tempo.”
Nesse ínterim, a vacilante economia chinesa estava gerando um efeito dominó em toda a Ásia, complementou.
As adversidades incluem o colapso dos diferenciais do petróleo ESPO da China, do campo de Lula e de Djeno em relação à referência global, o Brent do Reino Unido, na medida em que as pequenas refinarias do país, conhecidas como “bules de chá”, decidiram processar a grande quantidade de abastecimento à disposição ao invés de importar mais.
Dificuldades das refinarias podem fragilizar o sentimento do mercado na China
As maiores refinarias chinesas, enquanto isso, não demonstravam qualquer pressa para restabelecer os estoques de forma substancial, diante das expectativas de um fraco crescimento da demanda no primeiro trimestre, provocado pelo festival do Ano-Novo Lunar chinês em fevereiro, durante o qual geralmente há feriados de até uma semana de duração, e pelo robusto plano de manutenção programado para abril.
Tudo isso aconteceu em um ambiente de mercado já fragilizado desde o fim de dezembro, após a demissão do diretor de operações da refinaria estatal Unipec, em razão de perdas que deixaram a comunidade local do setor de negociações extremamente cautelosa com a tomada de risco.
Para resumir, a Energy Aspects afirmou:
“Para o mercado de petróleo, apenas dois preços são realmente importantes: o preço que inviabiliza a oferta (abaixo de US$ 50 por barril de Brent), e o preço que destrói a demanda (acima de US$ 90-100 por barril de Brent). Qualquer outro preço entre os dois citados é meramente uma função do que as pessoas estão querendo pagar pelo produto.”
Atual crescimento da demanda está historicamente associado a recessões. A agência declarou também:
“Indo mais a fundo em 2019, o lado da oferta parece menos preocupante: a Opep está cortando a produção, os preços menores do petróleo ajudarão a racionalizar o crescimento da produção nos EUA, a indústria continua investindo pouco e existem diversos problemas pontuais para se preocupar. Em suma, não vemos uma situação de sobreoferta pelo lado da produção.
Porém, o que gera mais preocupação são os riscos do lado da demanda, pois estes serão os fatores tanto de alta quanto de queda dos balanços em 2019.”
Embora a UE como um todo importe cerca de 14 milhões de barris de petróleo por dia (bpd), a maior nação consumidora de petróleo é a China, com cerca de 8,4 milhões bpd. A economia chinesa, portanto, tem grandes implicações na demanda mundial de petróleo.
O Goldman Sachs, que reduziu seu call anterior para o Brent de US$ 70 para US$ 67,50 em 2019, e para o WTI, de US$ 64,50 para US$ 55,50, afirmou que suas estimativas mostravam que o mercado de petróleo estava precificando apenas 900.000 bpd, na comparação ano a ano, para o crescimento da demanda global neste ano. Segundo o banco, esse nível estava “historicamente associado a recessões localizadas”.