RIO – Ao retomar sua presença na África, a Petrobras optou por começar a reconstrução de seu portfólio em uma nova fronteira: São Tomé e Príncipe não produz um barril sequer de petróleo e ainda vive a expectativa de encontrar suas primeiras descobertas comerciais.
A primeira perfuração no país foi feita em 2022, por um consórcio formado por Galp e Shell. Multinacionais, como bp, Galp, Shell e TotalEnergies estão presentes no arquipélago com cerca de 1000 km² de área em terra, a 350 km da costa ocidental da África, no Golfo da Guiné.
Kosmos Energy (EUA), Oranto Petroleum (Nigéria), Sonangol (estatal de Angola) também entraram no offshore do país.
A Petrobras comprou participações e virou sócia da Shell em três dos sete blocos atualmente contratados pelo governo do país, em um modelo de partilha da produção.
Ao todo, são apenas 19 blocos mapeados, cobrindo toda a Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de São Tomé e Príncipe, que em si, possui uma área de 125 mil km².
Situando no mapa
São Tomé e Príncipe tem uma população estimada em cerca de 200 mil habitantes. É uma ex-colônia portuguesa, independente desde 1975 e o segundo país menos populoso do continente.
Está relativamente próximo de importantes países produtores de petróleo do Golfo da Guiné, como Nigéria, Gabão e Guiné Equatorial – todos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Em 2001, aliás, São Tomé e Príncipe e Nigéria assinaram um Tratado de Exploração Conjunta dos Recursos Petrolíferos na Zona de Desenvolvimento Conjunto (ZDC).
“O país enfrenta desafios estruturais típicos de países pequenos e remotos”, diz o Banco Mundial. O diagnóstico cita dificuldades com a segurança energética, no acesso à eletricidade e combustíveis, que assim como alimentos e fertilizantes precisam ser importados.
Petrobras busca reservas no exterior
O novo plano de negócios da Petrobras prevê investimentos de US$ 1,3 bilhão na carteira de exploração internacional, entre 2024 e 2028. A Colômbia é o principal destino dos recursos atualmente, onde opera em parceria com a Ecopetrol.
Ao anunciar a entrada em São Tomé e Príncipe, a empresa destacou, em nota, que a volta ao continente africano está alinhada à estratégia de longo prazo da companhia, de buscar a “recomposição das reservas de petróleo e gás, por meio de exploração de novas fronteiras e atuação em parceria”.
Os valores da aquisição não foram publicados. São 45% dos direitos sobre os blocos 10 e 13; e 25% no bloco 11, onde a Galp é sócia, com 20%. A Shell opera todos os contratos com 40%.
E a Agência Nacional do Petróleo de São Tomé e Príncipe (ANP-STP) administra 15% dos direitos governamentais sobre a partilha da eventual produção futura do óleo.
O primeiro poço offshore, perfurado em 2022 no bloco 6, por Galp e Shell “não demonstrou indícios de uma descoberta comercial”, segundo a petroleira portuguesa.
A perfuração identificou “um sistema petrolífero ativo” e a Galp afirmou na ocasião que ainda avaliava os próximos passos exploratórios.
Presença na África remonta aos anos 1970
A aquisição dos três blocos exploratórios em São Tomé e Príncipe marca a volta da Petrobras à África, quase quatro anos depois de encerrar sua presença no continente.
A Petrobras selou sua saída da África em 2020, ao vender a PetroÁfrica por US$ 1,45 bilhão. Encerrou, na ocasião, um ciclo de quatro décadas no continente – período no qual a brasileira passou por dez países africanos diferentes, na maioria deles sem sucesso.
O primeiro destino da Petrobras na África foi Angola, em 1979, ainda durante o regime militar, num contexto de uma década marcada pela independência do país africano e pelo segundo choque do petróleo – o que estimulou as petroleiras a buscarem a diversificação de reservas.
A segunda investida só ocorreu duas décadas depois, em 1998, já no governo FHC, quando a petroleira brasileira entrou na Nigéria – justamente onde ela teve seu maior sucesso no continente.
A internacionalização da Petrobras, na década de 1990, se deu num contexto bem diferente do atual: a companhia ainda não havia descoberto os grandes recursos do pré-sal e, sem expectativas de contar com suficientes reservas de óleo e gás no Brasil, se lançou rumo à África e à Bolívia, por exemplo.
Foi com Lula, nos anos 2000, e no início do governo de Dilma Rousseff, contudo, que a presença da Petrobras na África se acentuou, acompanhando os passos da política externa petista – que diversificou as relações internacionais do Brasil e pregava a cooperação Sul-Sul.
Entre 2004 e 2011, a companhia entrou na atividade de exploração de óleo e gás na Tanzânia, Líbia, Moçambique, Guiné Equatorial, Senegal, Namíbia, Gabão e Benin. A empresa, no entanto, jamais produziu nos demais países.
Com o pré-sal no centro de sua estratégia, a Petrobras foi, aos poucos, tirando a África de seu radar. E nesse contexto, em 2013, a Petrobras formou uma joint venture com o BTG, para investir, junto com um parceiro, e não mais sozinha, na Nigéria; e que, em 2020, se desfez do ativo.