O principal de opositor de Luis Arce na corrida presidencial boliviana, Carlos Mesa reconheceu a derrota nesta segunda (19), após as pesquisas de boca de urna apontarem a vitória de Lucho no 1º turno, o candidato do Movimiento al Socialismo (MAS), partido do ex-presidente, hoje exilado, Evo Morales.
“Muito grato pelo apoio e confiança do povo boliviano. Recuperamos a democracia e recuperaremos a estabilidade e a paz social. Unidos, com dignidade e soberania”, afirmou Arce.
O resultado oficial não foi proclamado pelas autoridades eleitorais do país, que decidiram às vésperas da abertura das urnas, cancelar a divulgação automática dos votos para presidente. Observadores internacionais, incluindo representantes da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do Parlamento do Mercosul (Parlasul), que contou com a deputada federal brasileira, Sâmia Bomfim (PSOL/SP).
Luis Lucho Arce, ex-ministro da economia de Evo Morales, figurava nas pesquisas prévias com mais de 40% das intenções de voto, enquanto o ex-presidente da Bolívia (2003-2005), Carlos Mesa, do Comunidad Ciudadana (CC), vinha em segundo com cerca de 30% do eleitorado.
Segundo informações da Folha de S. Paulo, a pesquisa do instituto Ciesmori apontam vitória de Arce com 52,4% dos votos. Segundo colocado, Mesa aparece com 31,5% dos votos. No levantamento, da Fundação Jubileo, a vantagem é maior para Arce, com 53% dos votos. Pelas regras eleitorais do país, basta uma maioria simples no 1º turno para decidir as eleições ou mais de 40% dos votos com uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado.
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“A amostra é muito contundente. Nós dissemos que respeitaríamos o resultado da eleição, seja para a vitória como para a derrota. Não é possível deixar de reconhecer que houve um claro vencedor nas eleições deste domingo, que foi Luis Arce”, afirmou Carlos Mesa.
Mais cedo, a presidente interina do país, Jeanine Añes, também reconheceu a vitória de Lucho Arce.
“Ainda não temos uma contagem oficial, mas pelos dados que temos, o sr. Arce e o sr. Choquehuanca venceram as eleições. Parabenizo os vencedores e peço que governem pensando na Bolívia e na democracia”, disse Añes, que chego a concorrer à eleição, mas retirou sua candidatura em um movimento visto como uma tentativa de não dividir o voto da direita boliviana.
A aposta era que Mesa poderia garantir um 2º turno, com a migração de votos de Jeanine Añez e do ex-presidente (2001-2002) Tuto Quiroga, que também desistiu. No caso de uma nova etapa, as pesquisas apontavam um empate de Carlos Mesa e Luis Arce.
David Choquehuanca, vice na chapa de Arce, foi ministro das Relações Exteriores de Evo Morales e era o candidato preferido do setor do partido mais próximo de Evo Morales. Ainda segundo a Folha de S. Paulo, a escolha de Lucho representou uma aposta na moderação. Evo Morales havia forçado uma reeleição em 2019, não prevista na legislação do país. Acabou derrubado pelos militares e, acusado de fraude eleitoral, fugiu do país. Está exilado na Argentina.
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Eleitores votaram em legado e promessas de reforma
Arce é diretamente associado à política nacionalista de Evo Morales, centrada no papel das estatais na economia. Durante a campanha, a exploração lítio ganhou destaque – deixando os planos para o setor de gás natural em segundo plano. Enquanto Lucho Arce defende o controle estatal das reservas naturais do país, Mesa sinalizava a abertura dos mercados para o capital privado e estrangeiro.
A falta de capacidade estatal para sustentar investimentos, conduto, pode se impor nos rumos da política energética do país, já que a exploração e produção de gás natural, considerada no passado a “chave do futuro” da Bolívia, vem enfrentando dificuldades.
Apesar da produção crescente, desde a nacionalização da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), em 2006, com a chegada de Evo ao poder, as reservas do país vêm caindo. Vários campos gaseíferos já estão em fase final de produção e não há descobertas suficientes para repor as reservas.
Para o ex-ministro de Hidrocarburetos, Mauricio Medinaceli, “essa falta de estratégia fez com que nos últimos 15 anos não houvesse uma politica de exploração séria, com recuperação de reservas que iam se esgotando para abastecer os mercados. Isso fez com que nos últimos anos do governo Morales, Bolívia não pudesse mandar os volumes comprometidos com Brasil e Argentina, levando o país a renegociar ambos os contratos”.
“Seja um governo de esquerda ou de direita, a economia fará com que eles tenham que tomar medidas de cunho liberal, abrir para investimentos privados, desregular o tipo de câmbio, mudar leis, porque já não temos mais capacidade de sustentar políticas populistas”, diz o consultor. Ele acredita que a mudança no marco legal do gás no Brasil também deve impulsionar mudanças nas políticas energéticas da Bolívia.
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