RIO — A Comissão Europeia anunciou, nesta quarta (19/3), um plano de ação para o setor de aço e metais, buscando garantir a competitividade da indústria siderúrgica do bloco e sua transição para uma produção mais sustentável.
O plano, que integra a estratégia lançada em janeiro, batizada de Bússola da Competitividade (The Competitiveness Compass), tem entre seus eixos o acesso à energia limpa a preços competitivos e o uso do hidrogênio de baixo carbono como estratégias para descarbonizar a produção de aço na União Europeia.
Segundo Ursula von der Leyen, presidente da Comissão, o plano vem para que o aço, historicamente um motor econômico da região, continue a ser fabricado na Europa.
“Isso significa que temos que ajudar nossos produtores de aço que estão enfrentando fortes ventos contrários no mercado global. Para garantir que eles permaneçam competitivos, devemos reduzir os custos de energia e ajudá-los a introduzir tecnologias inovadoras e de baixo carbono no mercado”, disse.
Energia acessível
Com altos custos energéticos e a necessidade urgente de descarbonização, a indústria siderúrgica europeia enfrenta desafios significativos.
O plano propõe medidas como redução de taxas e encargos sobre a eletricidade, aceleração de licenças para projetos eletrointensivos, e maior flexibilidade para contratos de aquisição de energia (PPAs).
Para Henrik Adam, presidente da Associação Europeia do Aço (Eurofer), as propostas da são positivas, mas a energia continua sendo “o elefante na sala”.
“Os altos preços da energia afetam não apenas a produção de aço e metais, mas também estão prejudicando toda a cadeia de valor”, comentou.
Estímulo ao hidrogênio
Além de reduzir custos de energia, a iniciativa espera estimular o uso do hidrogênio verde e de baixo carbono como alternativa para substituir combustíveis fósseis — em especial o gás russo — no processo produtivo, quando a eletrificação direta não for viável.
“O hidrogênio é um facilitador essencial da descarbonização nas indústrias de aço e metais. Por exemplo, a redução direta — DRI/HBI — usando hidrogênio é a opção mais promissora para descarbonizar a produção primária de aço, e o hidrogênio é o principal concorrente para fornecer calor de alta temperatura em substituição do gás natural”, diz o plano.
DRI e HBI são produtos intermediários entre o minério de ferro e o aço, e que podem ser produzidos com hidrogênio.
A Comissão reiterou que vai publicar nas próximas semanas o Ato Delegado sobre Hidrogênio de Baixo Carbono, que definirá regras claras para o hidrogênio de outras rotas de produção que não a eletrólise com energia renovável, incluindo o uso de energia nuclear e gás natural com captura de carbono (CCS).
O Banco Europeu do Hidrogênio será um dos instrumentos utilizados para financiar essa transição, com um novo edital de leilão de hidrogênio verde previsto para o terceiro trimestre de 2025, olhando para possíveis consumidores siderúrgicos.
Concorrência global e dificuldades do setor
O plano vem em um momento em que o setor do aço, além dos altos custos domésticos de energia, enfrenta forte concorrência internacional, especialmente da China, que domina 55,1% da produção global de aço, enquanto a UE responde por apenas 6,8%.
A produção europeia tem diminuído de forma constante, com grandes empresas enfrentando dificuldades significativas. A ThyssenKrupp, por exemplo, anunciou em dezembro de 2024 um plano de reestruturação que prevê a demissão de 11 mil trabalhadores devido ao alto custo da energia e à pressão de importações mais baratas
Já a ArcelorMittal adiou investimentos em descarbonização em suas operações na Europa, alegando falta de previsibilidade regulatória e altos custos operacionais. Além disso, a Liberty Ostrava, na República Tcheca, declarou falência no ano passado.
Para combater a concorrência desleal, a UE reforçará suas medidas de proteção comercial, como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM), a fim de evitar que produtos importados utilizem mecanismos de greenwashing para escapar das tarifas, como produtos pré e pós acabados de aço de países que não cumpram o limite de emissões.
HBI e oportunidades para o Brasil
Nesta segunda (17/3), o projeto da Vale com a Green Energy Park (GEP) para a construção de uma planta de hidrogênio verde no Brasil foi incluído na lista prioritária do programa Global Gateway da União Europeia. O hidrogênio irá abastecer um mega hub de produção de HBI.
O Global Gateway é um programa europeu que prevê investimentos de até 300 bilhões de euros entre 2021 e 2027, focando em setores como energia, transporte e digitalização para fortalecer parcerias e cadeias produtivas globais.
Devido à necessidade de proteger a própria indústria siderúrgica, a estratégia europeia para descarbonização do aço encontrou na importação do HBI verde uma alternativa à transferência de plantas siderúrgicas para o Brasil, no conceito de powershoring.
Estudos apontam que a importação de HBI verde de países como o Brasil pode ser até mais competitivo do que a produção de hidrogênio verde na Europa para produção de aço.