RIO — A estatal russa Tenex, subsidiária da Rosatom, manifestou interesse em ampliar sua atuação no Brasil, com foco na exploração de urânio e lítio — dois minerais estratégicos para a transição energética.
A declaração foi feita nesta quinta (8/5), durante reunião com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), que cumpre agenda oficial na Rússia acompanhando a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Estamos abertos a parcerias estratégicas com o Brasil, incluindo energia nuclear, recursos naturais e lítio, e confiantes na continuidade dos diálogos técnicos entre nossos países”, afirmou Sergey Polgorodnik, CEO da Tenex.
O Brasil possui uma das maiores reservas de urânio do mundo, estimada em 280 mil toneladas, mas ainda pouco explorada. Também é um dos seis maiores produtores globais de lítio e detém a oitava maior reserva do mineral, com destaque para o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, apelidado de Vale do Lítio.
Durante os encontros com a Tenex e a Rosatom, o ministro Alexandre Silveira disse que o governo Lula está comprometido com o fortalecimento da cadeia energética nacional e a descarbonização da economia.
“Temos grandes reservas de urânio e potencial para liderar esse setor globalmente. Essa cooperação com a Tenex acelera a produção nacional”, afirmou o ministro.
Silveira também apresentou o potencial do Vale do Jequitinhonha (MG) como polo estratégico do lítio.
“Temos reservas já em desenvolvimento e buscamos relações sólidas e de reciprocidade com parceiros estratégicos como a Tenex”, disse.
Urânio enriquecido
A estatal russa Rosatom é uma das principais fornecedoras globais de serviços nucleares e já opera em parceria com o Brasil por meio de contrato firmado com a Indústrias Nucleares do Brasil (INB).
Em março, a INB assinou acordo com a Internexco GmbH, empresa do grupo russo, para a exportação temporária de até 275 mil quilos de concentrado de urânio (U₃O₈), produzido em Caetité, na Bahia, para ser convertido e enriquecido na Rússia.
O material será devolvido ao Brasil até 2027 como hexafluoreto de urânio (UF₆) enriquecido a 4,25%, destinado à produção de combustível nuclear para abastecer a usina de Angra dos Reis.
A conversão é a única etapa do ciclo do combustível nuclear que a INB não realiza, e consiste na transformação do yellow cake (o concentrado de urânio) em hexafluoreto de urânio (UF6), um sal que tem como propriedade passar para o estado gasoso em baixas temperaturas.
Na ocasião, o presidente da INB, Adauto Seixas, afirmou que já estavam em andamento o licenciamento da exportação, a contratação do transporte marítimo e a logística terrestre até o porto de Salvador.
A tendência, segundo ele, é que fossem feitas novas licitações à medida que a produção em Caetité avançasse.