Internacional

Brasileiros apoiam reformas prometidas por Arce como condição para investir

Petrobras e J&F acenam com investimentos; estatal YPFB estima que poderá recuperar reservas a partir de 2028

Indústria brasileira apoia reformas prometidas por Luis Arce como condição para investir na Bolívia. Na imagem: Presidente Lula durante reunião bilateral com o presidente da Bolívia, Luis Arce, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, em 9/7/2024 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Presidente Lula durante reunião bilateral com o presidente da Bolívia, Luis Arce, em Santa Cruz de la Sierra (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

RIO – A estatal boliviana YPFB estima que a produção de gás natural no país voltará a crescer a partir de 2028, com o avanço do plano de investimentos para recuperar suas reservas.

Na esteira da visita do presidente Lula à Bolívia, nesta terça-feira (9/7), produtores brasileiros, como a Petrobras e a Fluxus (do grupo J&F), acenaram com a intenção de investir no país vizinho, mas cobraram reformas no marco legal para tornar o ambiente de negócios local mais amigável para atração de capital estrangeiro.

A produção boliviana caiu de 51,2 milhões de m3/dia em 2018 para 32,4 milhões de m3/dia em 2024 – o que afetou a capacidade de exportação do país vizinho ao Brasil e Argentina.

A YPFB vem executando um programa exploratório que já perfurou 20 poços desde 2021 e que prevê mais 35 perfurações. Para efeitos de comparação, entre 2014 e 2020, foram perfurados apenas sete poços.

A previsão da estatal é que a produção nacional deve se manter abaixo dos 30 milhões de m3/dia entre 2025 e 2027.

“Com os projetos atuais que estão sendo executados, pretende-se de certa forma sustentar essa curva [de produção] até 2028 e, a partir daí, começar a incrementar e superar os 40 milhões de m3/dia [a partir de 2031]”, disse o vice-presidente da YPFB, Ariel Montaño, ao participar do Fórum Empresarial Bolívia-Brasil, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.

A redução dos investimentos ao longo de anos cobra o seu preço hoje: em 2023, a Wood Mackenzie publicou um relatório em que projetava um declínio da produção mais rápido do que o esperado no país vizinho e que alertava para o fato de que o Brasil pode não dispor mais de gás boliviano ao fim da década.

Brasileiros pedem segurança para investimentos

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou, para uma plateia de empresários e autoridades dos governos do Brasil e da Bolívia, no Fórum, que a petroleira está aberta a investir na exploração e produção de gás do país vizinho, de olho na oferta do gás boliviano – mais competitivo que a produção offshore da estatal brasileira.

Magda disse que a empresa tem planos de retomar em 2025, com a YPFB, a exploração em San Telmo Norte e Astillero, no departamento de Tarija. O projeto enfrenta resistências internas e teve seu contrato suspenso por força maior.

“Nós estaremos onde formos bem vindos. Se as comunidades quiserem e nos aceitarem e se tivermos a possibilidade de perfurar esse poço, viabilizaremos esse projeto de San Telmo e teremos a produção de gás que a Bolívia e o Brasil merecem”, afirmou.

Ela também atrelou o plano de investir na Bolívia ao acesso de gás barato, para viabilizar investimentos em fertilizantes e gás-química – que utilizam gás como matéria-prima.

“A Petrobras acredita nas oportunidades exploratórias [da Bolívia], mas o que temos que dizer e ressaltar é que o gás que nós queremos para expandir o mercado precisa ser insumo para produção de petroquímicos e fertilizantes a preços acessíveis”, completou.

Já o CEO da Fluxus, Ricardo Savini, defendeu a necessidade de uma revisão do marco jurídico e regulatório da Bolívia. A empresa anunciou planos de investir US$ 100 milhões no país até 2028, para aumentar a produção de 100 mil m3/dia para 1,1 milhão de m3/dia nos três campos recém-adquiridos pela empresa brasileira no país vizinho.

“Também temos uma visão de investir em exploração. Já temos discussões avançadas com a YPFB para fazer parcerias, para entrar na exploração em busca de novos volumes, mas para isso precisamos de condições que hoje não estão dadas”, disse.

Ele sugere que a Bolívia deveria repensar os elevados índices de participação governamental cobrada sobre a produção de gás local. O executivo cita que, para alguns campos, a fatia do Estado chega a 92%. “Isso não é sustentável”.

“Há muitas coisas que podem se mudar no marco, mas resumiria numa coisa: tem que baixar é o government take”, disse. “Tem que se buscar a eficiência dessa equação para que os investimentos sigam”, complementou.

Momento na Bolívia é de instabilidade

O governo de Luis Arce tem acenado para uma agenda de reformas – a nova Lei de Hidrocarbonetos é a promessa de prioridade para depois das eleições presidenciais de 2025, para atrair investimentos estrangeiros.

O cenário político boliviano, porém, é de instabilidade. O país enfrenta, hoje, uma crise política e também econômica.

A ofensiva do general Juan Zúñiga – destituído da chefia do Exército após fazer declarações contra o ex-presidente Evo Morales – é o mais recente episódio das tensões políticas no país.

A tentativa de golpe, que culminou na prisão de Zuñiga, ocorre em meio a uma disputa de poder entre o atual presidente Luis Arce e seu ex-aliado Evo Morales – ex-presidente boliviano que, depois de ser reeleito em eleições contestadas em 2019, foi derrubado por um movimento militar apoiado pela direita.

O Movimento ao Socialismo (MAS), o partido governante, está dividido: Morales anunciou, em 2023, sua candidatura presidencial para as eleições de 2025 – contrariando abertamente Arce, que busca a reeleição.

A disputa respingou nas condições de governabilidade de Arce, que perdeu a maioria da base no Congresso.