RIO — Brasil e China firmaram nesta terça (13/5), em Pequim, um acordo que abre o mercado chinês para a importação de coprodutos do etanol de milho brasileiro, como o DDG e o DDGS, usados como ração animal.
A assinatura ocorreu durante a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país e foi conduzida pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, no Grande Palácio do Povo, e incluiu a abertura para para exportação de carne de pato, carne de peru, miúdos de frango (coração, fígado e moela), e farelo de amendoim, produzidos no Brasil.
“O Brasil alcança uma conquista histórica com o maior número de aberturas de mercado para a China de uma única vez. Um reflexo da confiança mútua e da boa relação entre os dois países”, avaliou Fávaro.
Já o presidente executivo da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, que integra a comitiva de empresários brasileiros na China, comemorou o tempo recorde para a abertura de mercado.
“É um fato histórico para o setor de etanol de milho”, disse. “Esse é um exemplo de como, quando o setor se organiza junto com o governo, os resultados vêm de forma célere e com bons frutos, ancorando investimentos e promovendo o que esse produto representa: a segurança alimentar”.
Em paralelo à assinatura dos acordos, a agenda da Unem na China, nos próximos dias, inclui visitas técnicas a empresas interessadas na importação de DDG/DDGS, como a estatal COFCO — maior processadora e comerciante de alimentos da China — e à fábrica da Wilmar Oleochemicals & Biofuels, além do Porto de Tianjin.
A ascensão do etanol de milho no Brasil
Em apenas sete anos, o setor de etanol de milho cresceu 18 vezes, consumindo atualmente mais de 17 milhões de toneladas de milho — número que pode ultrapassar 22 milhões até 2026.
Com margens operacionais robustas, que chegam a 30%, e retorno sobre investimento (TIR) de cerca de 15% ao ano, o modelo atrai capital privado e reforça o papel estratégico do milho na matriz energética nacional.
Além de garantir abastecimento energético contínuo durante a entressafra da cana-de-açúcar, o etanol de milho gera coprodutos de alto valor nutricional, como o DDG, usado principalmente na alimentação animal.
Só em 2024, a China importou mais de US$ 66 milhões desses produtos, segundo dados da aduana chinesa, o que sinaliza um mercado promissor para a produção brasileira.
“A indústria do etanol de milho oferece um equilíbrio raro entre sustentabilidade e retorno financeiro. Estamos falando de um modelo que transforma excedente agrícola em energia limpa, gera coprodutos de alto valor e movimenta cadeias produtivas inteiras com eficiência e larga escala”, explica Felipe Jordy, gerente de inteligência e estratégia da Biond Agro.
Etanol na transição chinesa
O Brasil também deu um passo para internacionalização da bioenergia na agenda da transição energética com a assinatura de um memorando de entendimento entre o Ministério de Minas e Energia e a Administração Nacional de Energia da China (NEA).
O documento reconhece o etanol como vetor estratégico de mobilidade de baixo carbono, além de incentivar o intercâmbio de experiências e estudos sobre as vantagens econômicas e ambientais do biocombustível.
“O Brasil é referência mundial na produção de etanol e de biocombustíveis, e queremos cooperar com a China no avanço da descarbonização do setor de mobilidade, assim como temos feito aqui com o Combustível do Futuro”, destacou o ministro Alexandre Silveira.
A assinatura ocorre num momento em que a China avança na implementação do E10 — mistura de 10% de etanol na gasolina — e busca alternativas para reduzir a pegada de carbono no setor de transportes.
Etanol “na vitrine”
Segundo Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), esses acordos reposicionam o Brasil como referência global em bioeconomia.
“A articulação institucional que temos acompanhado permite que o Brasil ocupe espaços estratégicos no novo desenho energético global. Esses avanços só são possíveis graças à liderança do governo federal, que tem conduzido com pragmatismo a inserção internacional do setor”.
O executivo também comemorou os anúncios que incluem a criação de um centro de pesquisa em energia renovável — entre a estatal chinesa Windey Energy Technology Group e o Senai Cimatec — e US$ 1 bilhão em investimentos da chinesa Envision Group na produção de combustível sustentável de aviação (SAF) no Brasil, a partir da cana-de-açúcar.
Gussi ressalta ainda que os biocombustíveis brasileiros são sustentados por instrumentos como os CBIOs (créditos de descarbonização) e por avaliações do ciclo de vida que comprovam sua sustentabilidade.
Para o executivo, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em Belém, no Pará, será uma plataforma para divulgação dos biocombustíveis brasileiros.
“A COP30 será uma vitrine para esse modelo, que já está em operação. Nosso desafio agora é comunicar ao mundo que o Brasil oferece um caminho replicável de descarbonização baseado em inovação, escala e sustentabilidade”.
O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, afirmou que o Brasil pretende dar protagonismo ao setor agrícola durante a conferência climática que será realizada em Belém (PA), em novembro deste ano, mostrando seu papel para ajudar no combate às mudanças climáticas.