RIO – A estatal boliviana YPFB descobriu uma nova fronteira de gás natural no país – a Bacia Subandina Norte, no Departamento de La Paz.
O presidente da Bolívia, Luis Arce, anunciou, nesta segunda-feira (15/7), que foram descobertas reservas de 1,7 trilhão de pés cúbicos (TCFs) a partir da perfuração de um único poço na região – o que faz da descoberta a mais importante do país desde 2005, segundo ele.
A YPFB acredita, no entanto, que existem outras estruturas semelhantes na área que rodeia Mayaya e que, juntas, têm um potencial de cerca de 7 TCFs – para efeitos de comparação, o Brasil possui reservas de 12 TCFs.
O presidente da YPFB, Armin Dorgathen, destacou que se trata de uma das descobertas mais importantes da Bolívia dos últimos 100 anos, só comparável ao poço Bermejo-2 – o primeiro poço de petróleo na Bolívia descoberto em 1924 pela American Standard Oil Company e que ainda está em operação.
“Encontramos outra bacia, (como) aquela que havíamos encontrado na parte de Tarija, na parte de Santa Cruz, há muitos anos, há 100 anos, quando o poço Bermejo foi encontrado e começou a se desenvolver. Hoje a YPFB encontrou o Subandino Norte, que é uma bacia nova, algo semelhante ao que tínhamos no sul”, explicou Dorgathen nesta segunda.
YPFB espera produzir na região em 3 anos
A petroleira boliviana vai perfurar mais três poços de delimitação para definir melhor a dimensão da estrutura e, a partir daí, realizar o seu desenvolvimento. A YPFB espera que o projeto comece a produzir em três anos.
O desenvolvimento das reservas, segundo o governo boliviano, exigirá a construção de um gasoduto para escoar uma produção de até 10 milhões de m3/dia. Além disso, a expectativa é que a área produza de 500 a 1.000 barris/dia de petróleo.
Arce classificou a descoberta como um megacampo que representa um marco para a recuperação da política de hidrocarbonetos do país e que traz esperanças para manter a capacidade de exportação de gás do país.
Os resultados da exploração do poço Mayaya Centro X-1, localizado na área Não Tradicional Lliquimuni, na Zona Subandina Norte da Bolívia, foram anunciados nesta segunda-feira (15/7), no contexto das celebrações do 215º aniversário da Revolução de 16 de julho de 1809 de La Paz, de caráter independentista.
O governo Arce tem acenado para uma agenda de reformas – a nova Lei de Hidrocarbonetos é a promessa de prioridade para depois das eleições presidenciais de 2025, para atrair investimentos estrangeiros.
O cenário político boliviano, porém, é de instabilidade. O país enfrenta, hoje, uma crise política e também econômica.
Na esteira da visita do presidente Lula à Bolívia, na semana passada, produtores brasileiros, como a Petrobras e a Fluxus (do grupo J&F), acenaram com a intenção de investir em exploração no país vizinho, mas cobraram reformas no marco legal para tornar o ambiente de negócios local mais amigável para atração de capital estrangeiro.
Uma das queixas é quanto aos elevados índices de participação governamental cobrados sobre a produção de gás local.
Em paralelo, agentes industriais brasileiros têm buscado a aproximação com a Bolívia, para negociações diretas de importação de gás natural do país vizinho por consumidores gás-intensivos, sem o intermédio da Petrobras.
Bolívia vive declínio da produção
A produção boliviana vem declinando rapidamente nos últimos anos: caiu de 51,2 milhões de m3/dia em 2018 para 32,4 milhões de m3/dia em 2024 – o que afetou a capacidade de exportação do país vizinho ao Brasil e Argentina.
A YPFB ainda deve a publicação de dados oficiais e atualizados de reservas do país e vem sendo cobrada pela oposição a divulgar os números.
A estatal boliviana estima que a produção de gás no país voltará a crescer a partir de 2028, com o avanço do plano de investimentos para recuperar suas reservas. A previsão é que a produção nacional deve se manter abaixo dos 30 milhões de m3/dia entre 2025 e 2027.
A YPFB vem executando um programa exploratório que já perfurou 20 poços desde 2021 e que prevê mais 35 perfurações. Para efeitos de comparação, entre 2014 e 2020, foram perfurados apenas sete poços.