BRASÍLIA – Em missões oficiais à Rússia e à China, o governo federal assinou, até o momento, uma série de acordos comerciais em setores estratégicos, com ênfase em energia, mobilidade, tecnologia e agronegócio.
Nesta terça (13/5), Lula participa da cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) com a China. Novos acordos, dessa vez, entre os países, serão assinados.
Na segunda (12/5), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou o Fórum Empresarial Brasil-China, em Pequim, e se reuniu com executivos de grupos econômicos sediados no país.
São eles: Feng Xingya, presidente do grupo GAC (montadora); Chen Qi, presidente do conselho da Windey Technology (energia); Cheng DeFang, presidente da Norinco (defesa) e Lei Zhang, presidente da Envision (energia e combustíveis renováveis).
O governo estima que os projetos tratados têm potencial para mobilizar R$ 27 bilhões em investimentos de empresas do Brasil e da China.
Com a Envision, prevê investimentos na produção de hidrogênio e amônia verdes, além de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) a partir da cana-de-açúcar, no primeiro Parque Industrial Net-Zero da América Latina.
- Os detalhes do empreendimento ainda não foram divulgados, mas se sair do papel, o projeto tem investimento estimado em US$ 1 bilhão.
- Sediada em Xangai, a multinacional chinesa tem como atividades principais a fabricação de turbinas eólicas, sistemas de armazenamento de energia e soluções de hidrogênio verde – um insumo para a produção de SAF.
- Ela participa do Envision-Hongshan Carbon-Neutral Fund, fundo de venture capital para projetos de baixo carbono e mantém centros de P&D na China, EUA, Europa e Dinamarca.
Tanto na Rússia quanto na China, o governo fechou termos envolvendo a desenvolvimento do combustível sustentável de aviação.
- O governo brasileiro e o Kremlin assinaram um memorando de entendimento para cooperação e troca de conhecimento sobre SAF. Serão feitos estudos e análises da cadeia produtiva, distribuição e comercialização.
- No campo empresarial, Raízen Energia e a SAFPAC, da China, discutiram o fornecimento de bioetanol, visando a produção de SAF.
O acordo com a estatal Windey Energy Technology Group foi assinado com o SENAI CIMATEC, anunciado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e tem prazo inicial de 24 meses.
A Windey Energy atua há mais de 50 anos no setor, com fabricação de turbinas eólicas, investimentos em renováveis, sistemas de armazenamento de energia, engenharia e construção, operação e manutenção e transferência de tecnologia.
A parceria prevê:
- Cooperação tecnológica para o desenvolvimento de baterias, em linha com o primeiro leilão nacional de armazenamento, que terá sua portaria publicada em breve, segundo o MME;
- Criação de um laboratório no Brasil para pesquisas em energia eólica e hidrogênio verde.
- Projetos integrados de geração renovável e irrigação em regiões agrícolas remotas, incluindo montagem de fábricas de equipamentos.
Montadoras chinesas de veículos elétricos
A montadora GAC Motors sinalizou na reunião com Lula o interesse em fabricar três modelos no Brasil, enquanto estuda assumir uma fábrica antes operada pela HPE Automotores em Catalão, no interior de Goiás. Segundo informações do Estadão, um anúncio será feito em 23 de maio.
- A unidade produzia modelos da Mitsubishi e Suzuki e a GAC Motors pretende produzir três veículos voltados ao mercado brasileiro, dois elétricos (Aion V e Hyper HT) e um híbrido (Emkoo).
Durante o dia, Lula visitou uma exposição de veículos da GWM, que já atua no Brasil com veículos eletrificados. A companhia sinalizou interesse em expandir suas operações, inclusive tendo o Brasil como plataforma de exportação para a América do Sul e México.
Ainda no mercado de transporte, mas por aplicativos, a DiDi, dona do 99, anunciou investimento no setor de delivery e a construção de 10 mil pontos públicos de recarga para promover a eletrificação de veículos no Brasil.
Data centers e novas energias
A comitiva brasileira se reúne nesta terça-feira (13/5) com executivos da Byte Dance, dona do Tik Tok, com o objetivo de viabilizar a instalação de data centers no Ceará.
- Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente Lula irá anunciar a política nacional para data centers quando voltar de viagem.
A missão brasileira também rendeu a assinatura de um memorando de entendimento entre a estatal chinesa China General Power Group (CGN) e o governo do Piauí para a construção de um hub de energia renovável, com investimentos em energia eólica, solar, armazenamento e termosolar.
- A CGN já atua no Piauí desde 2019, com projetos de geração solar e eólica, nos municípios de Ribeira do Piauí e Lagoa do Barro.
houve acordo entre a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) e a ZGC – o mais importante parque tecnológico chinês – para o fomento de parcerias em inteligência artificial, infraestrutura de dados , expansão de mercado e captação de talentos.
A Lingsys sinalizou interesse em aumento da capacidade produtiva de semicondutores em São Paulo e Amazonas.
Mineração e gás natural
Na Rússia, a Novatek fechou um memorando de entendimentos com a delegação brasileira para estudar as oportunidades de colaboração no desenvolvimento de infraestrutura de GNL no Brasil, investimentos em termelétricas a gás e na indústria local de fertilizantes nitrogenados. É a segunda maior produtora de gás natural do país.
A estatal China Chemical Engineering Corporation (CNCEC), especializada em engenharia industrial para a produção de fertilizantes nitrogenados, sinalizou planos para instalar uma fábrica no Paraná. A planta teria capacidade de produzir 520 mil toneladas de ureia por ano.
So setor de mineração, a Baiyin Nonferrous Group anunciou a aquisição da mina de cobre Serrote, no estado de Alagoas.
Durante reuniões com a delegação brasileira em Moscou, a estatal Tenex, subsidiária da Rosatom, manifestou interesse em ampliar sua atuação no Brasil, com foco na exploração de urânio e lítio. O grupo é um dos principais fornecedoras globais de serviços nucleares e já opera em parceria com o Brasil por meio de contrato firmado com a Indústrias Nucleares do Brasil (INB).