RECIFE — Pouco mais de um ano após o lançamento da NetZero Asset Managers (NZAM), 83 gestores de ativos somando cerca de U$$ 16 trilhões lançaram suas metas iniciais para emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2050. A soma representa aproximadamente 39% dos US$ 42 trilhões em patrimônio dos gestores envolvidos.
Em seu relatório publicado hoje (31/5), a NZAM mostra que houve um aumento de 4% em relação a novembro, quando as primeiras metas foram divulgadas, às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26).
O número poderia ser maior. A iniciativa, lançada no final de 2020, conta com a adesão de 273 organizações, representando mais de US$ 61,3 trilhões em ativos sob gestão.
Os signatários se comprometem a estabelecer metas provisórias para 2030 e revisá-las a cada cinco anos para garantir reduções de emissões reais nas empresas em que investem.
Mas, segundo o grupo, a variação dos modelos de negócios e o desequilíbrio no número de clientes das empresas investidoras pode atrasar o balanceamento do fundo monetário NZAM.
Pesam também as formas de estabelecer metas para investimentos geridos de forma ativa e passiva.
Embora as organizações tenham maior poder para decidir como o dinheiro é alocado, o alinhamento dos fundos demandam uma abordagem diferente, o que também pode levar mais tempo para ser balanceado.
Além dos investimentos, os gestores precisam cumprir as três metodologias de definição de metas endossadas pelo NZAM, que são baseados na Estrutura de Investimento Líquido da Iniciativa de Investimento Alinhado de Paris; a Meta Baseada na Ciência para Instituições Financeiras e a Meta da Aliança de Proprietários de Ativos Líquidos Zero, convocada pela ONU.
Também é necessário seguir o Setting Protocol, voltado para a importância das metodologias disponíveis em todas as classes de ativos, incluindo derivativos, private equity, títulos verdes, títulos soberanos, títulos cobertos, produtos estruturados e caixa.
“Anúncios e decisões tomadas por formuladores de políticas em diferentes locais para incentivar o setor financeiro a continuar desempenhando um papel de liderança na transição, nos deram mais conforto em alguns de nossos pontos de atenção em relação aos ativos que estão fora do que inicialmente consideramos elegíveis”, comenta Marco Morelli, presidente executivo da AXA Investment Management.
A AXA Investment Managers e a Wellington Management são destacadas no relatório pela atualização das metas em novembro de 2021, aumentando suas proporções de ativos alinhados com zero líquido até 2050 de 15% para 65% e de 10,6% para 32,4%, respectivamente.
“No futuro, nosso objetivo é continuar a aumentar a proporção de ativos alinhados a zero líquido à medida que metodologias confiáveis se tornam disponíveis para todas as classes de ativos”, completa Morelli.
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Emissões líquidas zero vão custar US$ 9,2 trilhões por ano
Chegar a 2050 com emissões líquidas zero de gases de efeito estufa, como planejam países e empresas, vai custar, por ano, US$ 9,2 trilhões em ativos físicos para sistemas de energia e uso do solo, aponta a consultoria McKinsey.
No total, cerca de US$ 275 trilhões são necessários para uma “transformação fundamental da economia global”, capaz de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C e acabar com a emergência climática.
Isso significa um aumento anual de até US$ 3,5 trilhões a partir de hoje. A soma representa um aumento de 60% sobre os atuais níveis de investimento e é equivalente à metade dos lucros corporativos globais.
Além disso, US$ 1 trilhão do gasto anual de hoje precisaria ser realocado de ativos de alta emissão para ativos de baixa emissão.
Enquanto, US$ 2,1 trilhões em ativos de energia correm o risco de ficar encalhados até 2050.
O cálculo considera mudanças na demanda, gastos de capital, custos e empregos, até 2050, para setores que produzem cerca de 85% das emissões totais e avalia as mudanças econômicas para 69 países.
Espaço para fósseis em planos Net Zero
Lançado em março, o Rastreador de Políticas de Petróleo e Gás (OGPT, na sigla em inglês) revela que, apesar dos compromissos de instituições financeiras e investidores em restringir apoio à indústria de petróleo e gás, suas políticas falham quando o assunto é alinhar os negócios com as metas de emissões líquidas de zero até 2050.
E estão longe do esforço global de conter o avanço da temperatura do planeta a 1,5°C até 2100.
A ferramenta, desenvolvida pelo Reclaim Finance e mais 15 ONGs ambientais de diversos países, avalia as políticas de exclusão de petróleo e gás (ou falta delas) das 150 maiores instituições financeiras do mundo (60 bancos, 60 investidores e 30 seguradoras). Não há brasileiras na lista.
Menos da metade delas implementou políticas de exclusão de petróleo e gás.
O dado é preocupante, já que 74 pertencem à Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) — grupo criado na COP26, em novembro passado, comprometendo US$ 130 trilhões em financiamento privado com metas líquidas zero.
Segundo o rastreador, 20 membros da GFANZ não têm políticas sobre os negócios de petróleo e gás.