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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Líderes globais estarão reunidos em Paris, na França, no final desta semana (22 e 23/6) discutindo uma pauta tão espinhosa quanto crucial para o sucesso da transição energética e enfrentamento à mudança do clima: a reforma do sistema financeiro global.
Segundo as Nações Unidas, 52 economias de baixa e média renda estão em sobreendividamento ou em alto risco de sobreendividamento, representando mais de 40% das pessoas mais pobres do mundo.
A pandemia de Covid-19 e a guerra Rússia-Ucrânia deterioraram a situação financeira desses países e os extremos climáticos estão adicionando prejuízos.
Em meio a tudo isso, o sistema financeiro vai mostrando o quão desatualizado está para lidar com a realidade econômica.
Um exemplo é que países ricos podem tomar empréstimos a taxas de juros entre 1% e 4%, enquanto nos países mais pobres a taxa é de cerca de 14%.
É justamente para contornar essa situação que a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, lançou em setembro de 2022 a Iniciativa Bridgetown, uma agenda de reformas financeiras internacionais paralela aos mecanismos de adaptação e de perdas e danos — aqueles US$ 100 bilhões prometidos pelos países ricos e ainda não cumpridos.
A iniciativa homenageia a capital da ilha e é comparada ao Plano Marshall de 1948, quando os Estados Unidos forneceram mais de US$ 13 bilhões em ajuda externa para Europa Ocidental se recuperar após a Segunda Guerra.
Em síntese, busca reformar principalmente mecanismos multilaterais como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial (FMI), e estabelecer um novo pacto sobre como os países ricos ajudarão os países pobres a enfrentar e se adaptar às mudanças climáticas.
No detalhe, define três etapas e propõe seis áreas-chave de ação, em busca de medidas concretas para financiar a descarbonização da economia de países de renda média e baixa.
Em meio a várias crises que afetam o mundo em desenvolvimento — clima, alimentos e dívida — o FMI calcula que serão necessários de US$ 3 trilhões a US$ 6 trilhões por ano até 2050 em investimentos para enfrentar o desafio climático.
Mas, até o final do ano passado, só US$ 630 bilhões desse total foram aplicados — e uma parte pequena foi destinada aos países emergentes.
Três etapas
A primeira é mudar alguns dos termos sobre como o financiamento é emprestado e reembolsado. O objetivo é impedir uma crise de dívida em países vulneráveis quando seus empréstimos são forçados a aumentar para cobrir prejuízos com desastres sucessivos como enchentes, secas e tempestades, descreve o Fórum Econômico Mundial.
Em segundo lugar, Barbados pede aos bancos de desenvolvimento que emprestem US$ 1 trilhão adicional aos países de renda média e baixa para resiliência climática.
A terceira etapa é estabelecer um novo mecanismo com apoio do setor privado para financiar a mitigação e a reconstrução após um desastre climático, o que poderia alavancar US$ 3-4 trilhões em financiamento privado.
Áreas-chave
Em abril, o secretário-geral das Nações Unidas e a primeira-ministra de Barbados uniram forças sob a Iniciativa Bridgetown, durante uma reunião na sede da ONU em Nova York, e elencaram seis áreas de ação para “construir uma arquitetura financeira de desenvolvimento mais equitativa”:
- Fornecer apoio imediato à liquidez, incluindo a redistribuição de pelo menos US$ 100 bilhões de Direitos Especiais de Saque (uma moeda do FMI que beneficia prioritariamente países ricos) não utilizados;
- Restaurar a sustentabilidade da dívida hoje e no longo prazo e apoiar os países na reestruturação de sua dívida com taxas de juros baixas de longo prazo;
- Aumentar os empréstimos oficiais para o desenvolvimento do setor para atingir US$ 500 bilhões em estímulos anuais para investimentos nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (Estímulo aos ODS);
- Mobilizar mais de US$ 1,5 trilhão por ano de investimento do setor privado na transformação verde;
- Transformar a governança das instituições financeiras internacionais para torná-las mais representativas, equitativas e inclusivas;
- Criar um sistema de comércio internacional que apoie transformações verdes e justas globais.
Quem apoia?
Desde a COP27 em novembro do ano passado, a iniciativa tem acumulado importante apoio internacional, incluindo as lideranças do Banco Mundial e FMI, além dos países do Caribe — vulneráveis às mudanças climáticas –, e de alguns países membros do G7, como França, EUA e Reino Unido.
O que significa para o Brasil?
O país tem um enorme potencial na geração renovável e o atual governo quer atrair investimentos nessa área. Só que também precisa lidar com uma situação fiscal desafiadora e as quase 20 milhões de pessoas na extrema pobreza.
Isso aumenta a necessidade de mobilizar capital privado para financiar projetos que vão beneficiar o clima global.
Cobrimos por aqui:
- Como financiar a transição ecológica brasileira
- Mudança climática é desafio crítico para o FMI, diz diretora-geral
- Para onde vão os investimentos climáticos?
- Nações ricas devem pagar pela transição energética global, diz chefe da IEA
Exposição ao risco climático
Na mesma semana quem que Paris sediará uma cúpula internacional para discutir o financiamento climático, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Copernicus Climate Change Service publicam um relatório mostrando que a Europa teve o verão mais quente já registrado no ano passado, contribuindo para milhares de mortes, ondas de calor e clima extremo.
Segundo as organizações, em 2022, a mudança do clima levou a 16.365 mortes, principalmente relacionadas a ondas de calor, e causou um prejuízo de US$ 2 bilhões, em grande parte relacionado a inundações e tempestades.
Mas a Europa não é a única a sentir os resultados das emissões crescentes de gases de efeito estufa sobre o clima do planeta.
O painel de cientistas da ONU calcula que mais de três bilhões de pessoas estão expostas a riscos climáticos — isto é, quase metade da população mundial.
Destravar o financiamento de países ricos para que os demais consigam descarbonizar suas economias é uma questão de justiça climática, mas também de sobrevivência.
Estudo do Banco Mundial ressalta que, embora as cidades em países de baixa e média-baixa renda contribuam com apenas 14% de todas as emissões urbanas globais de CO2, são elas que vão sofrer as consequências mais graves da mudança climática.
Sem inovação e investimento para tornar essas cidades mais verdes, as emissões globais de GEE permanecerão acima do nível necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C — mesmo que os países de renda alta e média-alta façam a transição com sucesso para zero líquido até 2050, diz a instituição.
Curtas
Financiamento nos EUA
O presidente dos EUA, Joe Biden, deve anunciar mais de US$ 600 milhões em investimentos climáticos durante visita a Palo Alto na Califórnia, para ajudar as comunidades costeiras de todo o país a combater as mudanças climáticas. Os recursos virão da lei de infraestrutura e incluirão um projeto de US$ 575 milhões para combater o aumento do nível do mar, tempestades e furacões. Reuters
Lítio no Chile
O presidente chileno, Gabriel Boric, encarregou a estatal Codelco, maior produtora mundial de cobre, de liderar o desenvolvimento do metal necessário à fabricação de baterias de veículos elétricos. O governo pretende expandir a indústria de lítio do país, assim como a de cobre. Reuters
Hidrogênio
A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) aderiu à iniciativa internacional Hydrogen for Development Partnership (H4D), lançada na COP27 pelo Banco Mundial. É a primeira entidade brasileira do setor privado a integrar o grupo, do qual também participam a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece).
Objetivo do H4D é ajudar a catalisar financiamentos significativos para investimentos em hidrogênio produzido por fontes renováveis, tanto na esfera pública quanto no setor privado.
Chamada aberta
O programa da Vibra para startups lideradas por mulheres está com inscrições abertas até 30 de junho, pelo site do Vibra Co.lab. Para participar, é preciso que a empresa esteja em operação e atue em áreas como Sustentabilidade & ESG, Mobilidade, LogTech, Indústria 4.0, RetailTech, Fintech, Insurtech, MarTech, HR Tech, Cybersecurity e Dados.