Diálogos da Transição

Indústria verde busca visibilidade em políticas de transição

“O Brasil talvez seja um dos únicos países do mundo que consegue fazer sua descarbonização e ganhar dinheiro com isso", avalia diretora-executiva do E+

Brasil precisa dar mais ênfase à indústria verde em suas políticas e nas discussões do G20, avalia Rosana Santos [na imagem], diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética.I
Rosana Santos é diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética (Foto: Divulgação)

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Editada por Nayara Machado
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Com potencial de atrair indústrias para produzir aço, alumínio, amônia e fertilizantes de baixo carbono a preço competitivo, o Brasil precisa dar mais ênfase à indústria verde em suas políticas e nas discussões do G20, avalia Rosana Santos, diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética.

Em entrevista à agência epbr, Rosana observa que a transformação na indústria é um ponto crucial para alinhar o mundo à meta de limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até o fim do século.

Mas exigirá massivos investimentos – na casa dos trilhões de dólares – em uma janela temporal apertada. E precisa ser lucrativa, ou ninguém vai se mexer.

“O Brasil talvez seja um dos únicos países do mundo que consegue fazer sua descarbonização e ganhar dinheiro com isso, se fizer direito. É uma questão de timing e de adotar as políticas corretas”, afirma.

O E+ é associado ao think tank internacional sobre mudanças climáticas E3G, que recentemente lançou um estudo com recomendações para os países do G7 e G20 apoiarem a transição da siderurgia, considerando que o tempo para agir é curto.

No capítulo que trata de Brasil – resultado do trabalho do E+ – a avaliação é que é preciso um roadmap com metas ambiciosas de redução de emissões do setor de aço entre 2030 e 2050, utilizando a política de reindustrialização verde, o PAC e o Plano de Transformação Ecológica para atingir o objetivo, além da implementação de um mercado regulado de carbono.

“Para usar um novo energético, a indústria precisa mudar sua forma de produção. É um investimento bem alto. Nenhum empresário vai fazer um movimento deste se não tiver demanda. Essa é a observação do estudo”, explica Rosana.

Uma das formas de fomentar a demanda é via compras públicas, onde entra o papel do PAC. Outra é a negociação de acordos bilaterais internacionais, para garantir um “prêmio verde” aos produtos de baixo carbono.

“O mundo, principalmente o Norte global, fala muito de produto verde, mas na hora de comprar, eles não valorizam. Se nós vamos ter produtos verdes para vender, a demanda precisa pagar, e isso precisa aparecer nos documentos públicos”, defende.

Ela avalia que o Plano de Transformação Ecológica lançado pelo Ministério da Fazenda em novembro do ano passado, durante a COP28, aborda a transição energética como um fim, não como um meio, e que a transição da indústria precisa de um apoio maior.

Eletricidade, hidrogênio e biometano

Rosana aponta que esses são três energéticos de uso final em destaque hoje nas discussões sobre a descarbonização do setor produtivo e cujas políticas precisam estar alinhadas à necessidade de alavancar a industrialização brasileira.

“O hidrogênio é um meio, não um fim. A gente debate muito que o Brasil não deveria se posicionar só como exportador de hidrogênio, porque se a gente dá um monte de subsídios e exporta esse hidrogênio, na realidade, estamos exportando subsídio”, observa.

Para a engenheira, o país reúne as características necessárias para estabelecer um parque industrial descarbonizado, não só para abater suas próprias emissões de gases de efeito estufa, mas também para ajudar o restante do mundo nessa jornada.

E cita regras para ajuste de fronteira de carbono, como o CBAM da União Europeia, além de mecanismos que estão sendo criados por Estados Unidos e Japão, por exemplo, como oportunidades de negócios para o Brasil.

“O mundo está se mexendo. Se conseguirmos aproveitar essa janela de oportunidade da emergência climática, e fizer a descarbonização do nosso parque industrial no tempo correto – desde produtos semi-acabados até produtos finalizados –, nossos produtos verdes vão conseguir passar essas barreiras com um preço, provavelmente, muito mais competitivo que outros mercados que estão tentando fazer a mesma coisa”, completa.

Cobrimos por aqui:

Curtas

O&G já sente impacto da transição

A demanda por petróleo começa a sentir efeitos estruturais da transição para energias de baixo carbono, com impactos sobretudo no consumo global de combustíveis para transporte, apontam analistas ouvidos pela agência epbr. Entretanto, os preços ainda demoram para refletir esse cenário, por causa dos esforços da Opep+ para restringir a oferta.

Direita anti-ESG

Para a Climate Action 100+, a politização da agenda sobre descarbonização atrapalha o trabalho de investidores e o risco climático precisa ser encarado como um risco financeiro. A maior coligação de investidores do mundo publicou um comunicado na segunda (26/2), comentando a saída de vários dos seus maiores membros este mês.

IA para renováveis

A EDP, por meio de seu veículo de corporate venture capital, a EDP Ventures, anunciou um aporte de US$ 2 milhões (o equivalente a R$ 10 milhões) na Splight, startup chilena que desenvolve tecnologias de inteligência artificial e ciência de dados para eficiência em sistemas relacionados à geração de energia renovável. É o primeiro investimento já feito pela EDP Ventures em uma startup da América Latina, fora do Brasil.

Jovens na energia

O programa Conversas Energéticas, da EnergyC abriu a segunda turma para capacitar jovens negros para o mercado de energia. Serão selecionados 12 candidatos, com igualdade de gênero, para realizar 16 atividades entre palestras, oficinas e desafios de forma on-line e gratuita. O programa é destinado a jovens pretos e pardos, de 18 a 29 anos, que estão em busca da 1ª oportunidade de emprego. As inscrições vão até 15 de março. Clique para saber mais