RIO – A Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor) lançou na manhã desta segunda-feira (7/8) a rota estratégica do setor até 2035, que inclui planos para se tornar a principal supridora de hidrogênio verde do país.
O hidrogênio é um dos subprodutos dessa indústria, pois, no processo de produção do cloro, o H2 contido na molécula de água é separado do oxigênio, por meio da eletrólise. No entanto, seu aproveitamento em aplicações no país é de 78,2%, em linha com o padrão internacional, mas abaixo dos 85,4% registrados na Europa.
De olho no mercado que começa a se desenhar para o hidrogênio de eletrólise (verde) como rota de descarbonização no Brasil e no mundo, a estratégia da Abiclor aponta que, para conseguir ampliar a produção e aproveitamento do energético, o setor vai precisar ter acesso à eletricidade e ao gás natural com contratos de longo prazo a preços competitivos.
A associação defende o avanço nas discussões no Congresso a respeito da modernização do setor elétrico, no Projeto de Lei 414/2021. Entre os temas incluídos no debate estão o aperfeiçoamento da alocação dos encargos setoriais.
O presidente-executivo da Abiclor, Milton Rego, também destaca a atualização das regulações estaduais para expansão do mercado livre de gás natural no Brasil entre as prioridades para viabilizar um maior número de fornecedores.
“Ainda temos uma molécula de gás muito cara. Precisamos aumentar a oferta. Ter uma molécula competitiva e previsível, com a oferta por vários agentes, é fundamental”, afirma.
A energia elétrica responde por cerca de metade do custo do produto final da indústria de cloro-álcalis. Se somado o gás natural, que é usado como insumo e energia térmica nos processos do setor, o custo chega a 55% do produto final.
Hoje, o Brasil gera cerca de 40 mil toneladas de hidrogênio por ano, a partir da produção de 3,2 milhões de toneladas de álcalis e cloro.
Historicamente, esse hidrogênio tem sido aplicado sobretudo em reações químicas para a obtenção de outros produtos, como ácido clorídrico, ou vendido como matéria-prima para outras plantas industriais. Parte também é queimada para uso como energia pela própria indústria.
Desafios do mercado
Para o presidente-executivo da Abiclor, o uso do hidrogênio verde deve ser tornar o principal caminho para a descarbonização dos setores de transporte e da indústria.
Ele ressalta, no entanto, que existe uma série de desafios que ainda precisam ser superados para o avanço desse energético, como o transporte da molécula.
Rego defende também a necessidade de o Brasil ter maior participação nas discussões internacionais sobre a certificação do hidrogênio verde. “Temos uma matriz energética muito mais limpa do que nossos concorrentes, isso tem valor”, afirma.
Outro ponto é a ausência de estímulos para inserção de produtos com selo verde e maior valor agregado no mercado.
Rego aponta que a criação de um mercado de carbono no país, tema atualmente em discussão no Congresso, vai ser fundamental para garantir a competitividade internacional da produção nacional.
“Nós não vemos a possibilidade de ter um futuro positivo sem usar a economia verde como uma âncora de competitividade”, diz o presidente da entidade.
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A indústria de cloro-alcalis tem capacidade instalada de 1,5 milhão de toneladas por ano no Brasil, o que representa 2% do total global. A China é o país com a maior capacidade instalada do mundo nesse setor, com possibilidade de entregar até 43 milhões de toneladas por ano.