Gás Natural

Independentes vão investir US$ 10 bilhões em projetos vendidos pela Petrobras

Estudo da Wood Mackenzie indica que produtores independentes vão produzir juntos 485 mil barris por dia em cinco anos

Independentes vão investir US$ 10 bilhões em projetos vendidos pela Petrobras. Na imagem: Funcionário da PRIO de uniforme laranja e capacete branco, de costas, em plataforma na Bacia de Campos (Foto: Cortesia)
A PRIO opera os campos de Frade, Tubarão Martelo e Polvo, todas na Bacia de Campos (Foto: Cortesia)

Operadoras independentes que compraram ativos de upstream no desinvestimento da Petrobras vão investir US$ 10 bilhões nos projetos até 2027, aumentando a produção desses ativos, que devem atingir o pico de 485 mil barris por dia em cinco anos.

Relatório divulgado nesta quarta (30/11) pela Wood Mackenzie estudou os projetos de produção das empresas 3R Petroleum, BW Energy, Enauta, Eneva, Grupo Cobra, Karoon Energy, Origem Energia, Perenco, PetroReconcavo, PRIO, Seacrest Capital e Trident Energy.

Prevê que as empresas devem aumentar em 980 milhões de barris de óleo equivalente (boe) o total de óleo nas reservas remanescentes desses ativos, um volume significativo para quem está investindo em projetos de revitalização da produção.

“Veremos uma mudança significativa na composição da produção do Brasil. Em 2015, a Petrobras detinha 84% de toda a produção. Esse nível cairá para 61% até 2030, à medida que a produção das majors e dos operadores independentes crescer”, comentou Amanda Bandeira, analista de Upstream da Wood Mackenzie para a América Latina.

Produção por empresa estimada pela Wood Mackenzie (Reprodução)
Produção por empresa estimada pela Wood Mackenzie (Reprodução)

Overview dos principais operadores independentes no país

PRIO

A PRIO (PetroRio) vê potencial para até triplicar a sua produção de petróleo nos próximos anos, com a execução dos projetos atualmente em carteira.

Para o diretor financeiro da empresa, Milton Rangel, é “factível pensar” que a companhia possa alcançar um patamar de 130 mil a 150 mil barris/dia em 2024, sem considerar eventuais novas aquisições.

A empresa opera os campos de Albacora Leste, Polvo, Frade e Tubarão Martelo, todos na Bacia de Campos. Também é operadora das descobertas de Wahoo e Itaipu, também na Bacia de Campos, que devem ter sua produção interligada com o campo de Frande, comprado da Chevron.

A PRIO prevê investir, de imediato, cerca de US$ 150 milhões no campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos, nos 18 primeiros meses de operação do ativo.

3R Petroleum

A 3R Petroleum adquiriu ativos onshore e offshore da Petrobras nas bacias de Campos, Espírito Santo, Potiguar e Recôncavo. Foi a empresa que mais comprou ativos da estatal, tendo ficado com nove polos produtores. As áreas possuem 515 milhões de barris de óleo equivalente em reservas certificadas classificadas como 2P (provadas e prováveis).

No mar, a empresa adquiriu os campos de Papa-Terra, de óleo pesado na Bacia de Campos, e o campo de gás não associado de Peroá, na parte offshore da Bacia do Espírito Santo.

Em terra,  a 3R Petroleum planeja investir US$ 200 milhões ao longo do ciclo de vida dos campos do Polo Macau – conjunto de ativos comprados da Petrobras também na Bacia Potiguar, Rio Grande do Norte.

BW Energy

O plano apresentado pela BW Energy, que comprou o campo de Maromba e assumiu a operação em 2019, tem investimentos estimados em US$ 1,2 bilhão.

O plano é instalar o FPSO que estava no campo de Polvo, adquirido da BW Offshore. A plataforma está sendo remodelada em Dubai para atuar em Maromba, com investimentos previstos de US$ 400 milhões.

A produção esperada para o projeto de Maromba varia entre 30 mil e 40 mil barris por dia. O projeto de desenvolvimento da produção prevê seis poços produtores.

Além disso, a BW Energy está adquirindo da Petrobras o campo de Golfinho, com uma uma produção de 9 mil barris de petróleo por dia, além dos campos de Canapu, Camarupim, Camarupim Norte e o bloco BM-ES-23. A transação está prevista para ser concluída em fevereiro de 2023.

Enauta

A Enauta é a operadora do campo de Atlanta, em águas profundas da Bacia de Campos . No começo do ano, anunciou investimentos de US$ 1,2 bilhão no projeto sistema definitivo de produção do campo.

Os recursos já incorporam US$ 100 milhões que precisam ser aportados após a entrada em produção e US$ 500 milhões referentes à unidade de produção.

O investimento pode ser reduzido em US$ 100 milhões caso a Yinson exerça a opção de compra do FPSO OSX-2, adquirido pela Enauta e que será o responsável pela produção a partir de 2024.

A unidade terá capacidade para produzir 50 mil bpd de petróleo e 140 mil bpd de água.

Enauta é sócia também de projetos exploratórios, com a ExxonMobil e a Murphy Oil, na Bacia de Sergipe. A primeira campanha das empresas na região resultou seco.

PetroRecôncavo

A PetroReconcavo acredita que o mercado brasileiro de campos maduros onshore passará por uma consolidação e está atenta a oportunidades de aquisições de ativos de operadores privados, fora do programa de desinvestimentos da Petrobras — a base de sustentação da expansão da companhia nos últimos anos.

O presidente da PetroReconcavo, Marcelo Magalhães, afirmou recentemente que a empresa está estruturando uma equipe interna dedicada a monitorar as oportunidades de mercado.

Em abril de 2019, a empresa arrematou os 34 campos do Polo Riacho da Forquilha na Bacia Potiguar.

Em dezembro de 2020 arremata os 12 campos que fazem parte do Polo Remanso

Na oferta permanente da ANP, também em dezembro do ano passado, leva o bloco exploratório POT-T-702.

Em 2021, a SPE Miranga, controlada pela PetroRecôncavo, fechou a compra dos nove campos terrestres que fazem parte do Polo Miranga, na Bahia, por US$ 220,1 milhões.

Cobra

O Grupo Cobra adquiriu por US$ 1,1 bilhão o Polo Carmópolis da Petrobras, a partir da empresa Carmo Energy, negócio anunciado em 24 de dezembro de 2021

A Carmo Energy vai assumir a operação de 11 campos de associados à Carmópolis, em Sergipe.

Carmópolis é o maior campo terrestre do Brasil, com um volume original de 1,76 bilhão de barris de óleo equivalente. É também o mais antigo de Sergipe, com início da produção em 1963.

Em 2017, após revisar o plano de desenvolvimento do campo, a Petrobras estimava que o fator de recuperação poderia chegar a 32%.

Eneva

Um consórcio formado por Eneva e PetroRecôncavo está disputando a compra de 28 campos de produção de petróleo e gás, em terra, na Bahia. O acordo prevê a PetroRecôncavo como operadora dos projetos. A Eneva optou por reduzir riscos no estado, onde está adquirindo duas usinas de geração de energia solar fotovoltaica com incorporação da Focus Energia, negócio avaliado em R$ 960 milhões.

A Eneva acredita que a compra da Centrais Elétricas de Sergipe Participações S.A (Celsepar) permitirá à empresa compor um mix de gás nacional e importado, de diferentes origens e preços, e assim alavancar os planos da companhia de se consolidar como uma comercializadora de gás natural.

A aquisição garante acesso da Eneva à infraestrutura de importação de gás natural liquefeito (GNL). A negociação não inclui a aquisição do terminal de Sergipe em si, mas o navio de regaseificação (FSRU) continuará afretado à empresa até 2044.

A Eneva produz gás e gera energia elétrica nos estados do Amazonas, Roraima e Maranhão.

A Eneva também estuda comprar participações em grandes descobertas de gás natural offshore na Bacia de Sergipe-Alagoas. Entenda a estratégia da companhia em Sergipe.

Karoon

A petroleira australiana Karoon pretende praticamente dobrar a sua produção de petróleo no Brasil em 2023, para entre 25 mil e 26 mil barris/dia. Ao mesmo tempo, a companhia busca projetos de Soluções Baseadas na Natureza (NBS, do inglês nature based solutions) para mitigar suas emissões.

A empresa opera, no Brasil, apenas a produção do campo de Baúna, no pós-sal da Bacia de Santos. O ativo produz cerca de 24 mil barris/dia.

Origem Energia

A Origem Energia, controlada pela Prisma Capital, tem planos para triplicar a sua produção no Polo Alagoas em cinco anos, com foco em gás natural.

A empresa prevê investir US$ 300 milhões num plano de expansão que inclui não só a recuperação dos campos maduros, mas também a revitalização da unidade de processamento de gás natural (UPGN) local e novos negócios — como armazenamento de gás e um projeto de interiorização do gás via gás natural liquefeito (GNL) de pequena escala.

A Origem aposta no conceito de integração energética e numa estrutura verticalizada que a permita usar o gás local para a produção também de gás liquefeito de petróleo (GLP), o “gás de cozinha”, como a Petrobras já fazia; e para geração termelétrica no futuro.

Perenco

A Perenco pretende investir até US$ 200 milhões nos campos Pargo, Carapeba e Vermelho, em águas rasas da Bacia de Campos. As áreas maduras foram compradas da Petrobras em 2019 e estão atualmente em revitalização.

A expectativa é que os investimentos, que incluem a recuperação operacional do duto que escoa petróleo de Carapeba até Pargo, ampliem a produção das áreas para algo entre 15 mil barris por dia e 20 mil barris por dia de petróleo.

Trident

A Trident Energy está em busca de um sócio para desenvolver a descoberta de Siri, em águas rasas da Bacia de Campos. O ativo está localizado próximo aos campos de Badejo e Linguado, no Polo de Pampo.

O CEO da Trident, Jean-Michel Jacoulot, anunciou a estratégia durante participação na Rio Oil & Gas 2022.

A Trident opera os polos de Pampo e Enchova desde 2020. Comprou os ativos da Petrobras por US$ 418,6 milhões (mais US$ 650 milhões em pagamentos contingentes).

Seacrest Capital

A Petrobras vendeu para a Karavan SPE Cricaré, parceria entre a Karavan O&G Participações e Consultoria (51%) e a Seacrest Capital Group Limited (49%), a concessão de 27 campos terrestres no Espírito Santo. O negócio está avaliado em US$ 155 milhões.

Os 27 campos registraram produção média, de janeiro a junho de 2020, de cerca de 1,7 mil bpd de óleo e 14 mil m³/dia de gás.