RIO – A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) acredita que o consumo global de gás natural pode atingir o seu pico até o fim desta década. A expectativa da entidade é que o crescimento da capacidade de liquefação, associado ao declínio da demanda em mercados maduros, alivie as tensões sobre os preços do gás natural liquefeito (GNL) após 2025.
“Após o seu apogeu entre 2011 e 2021, os mercados mundiais de gás entraram num período novo e mais incerto, que provavelmente será caracterizado por um crescimento mais lento e uma maior volatilidade – e poderá levar a um pico na demanda global no fim desta década” disse o diretor de Mercados de Energia e Segurança da IEA, Keisuke Sadamori, na divulgação do relatório sobre as perspectivas de médio prazo para o mercado global de gás, nesta terça (10/10).
A IEA destaca que, após uma década de expansão sem precedentes do mercado global, o aumento da demanda deve desacelerar nos próximos anos, à medida que o consumo diminua nos mercados mais maduros.
A demanda global de gás, segundo a agência, deve crescer, em média, 1,6% ao ano entre 2022 e 2026, – abaixo da média de 2,5% ao ano de 2017 a 2021.
O relatório cita que a crise energética global em 2022, desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, marcou o início de uma era diferente para os mercados globais de gás, após uma década de forte crescimento entre 2011 e 2021.
China puxa o mercado
A IEA acredita que o consumo de mercados como Ásia-Pacífico (Austrália, Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Singapura), Europa e América do Norte atingiu o pico em 2021 e deve diminuir 1% ao ano até 2026, diante da implantação acelerada de energias renováveis e ganhos de eficiência energética.
A agência lembra que, na Europa, a perda do gás russo pressionou os governos locais a procurar soluções alternativas para manter a segurança energética.
A IEA espera que o crescimento da demanda global seja sustentado pelos mercados asiáticos (em especial a China Oriente Médio) e África.
A expectativa é que a China, sozinha, seja responsável por quase metade do crescimento total da procura mundial de gás entre 2022 e 2026, recorrendo ao combustível para sua produção industrial, termelétricas e áreas urbanas.
Do lado da oferta, a previsão é que a capacidade de liquefação cresça 25% entre 2022 e 2026 e comece, assim, a afetar a dinâmica do mercado em 2025 e 2026, aliviando parte da restrição e liberando uma demanda sensível aos preços.
Os Estados Unidos devem consolidar a sua posição como os maiores exportadores de GNL do mundo.
Em estudo divulgado recentemente, a Rystad Energy pontua que o crescimento da demanda global exigirá investimentos mais fortes na descoberta de novas reservas.
Mesmo com o rápido crescimento das renováveis, a consultoria destaca que os campos de gás existentes entrarão em declínio nos próximos anos e não serão capazes de satisfazer o aumento do consumo global.
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