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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 23/03/21
Editada por Nayara Machado
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A décima edição do Energy Perspectives da Equinor analisa as previsões que foram feitas nos últimos dez anos para o setor energético e descreve como o mundo pode alcançar as metas do Acordo do Clima de Paris.
Em um olhar de retrospectiva, o relatório resume o que saiu diferente do esperado:
“A revolução do shale nos pegou de surpresa. O carvão caiu mais cedo do que o esperado. Subestimamos o crescimento das energias renováveis. Atingimos a meta de demanda de petróleo, mas infelizmente pelos motivos errados”.
De acordo com o Energy Perspectives 2020 (.pdf), o primeiro relatório superestimou a demanda futura de carvão e gás.
O carvão atingiu um pico em 2013 e depois caiu, e a Equinor acredita que essa tendência continuará, com o gás natural e as renováveis entrando em cena para substituí-lo.
Além disso, o desenvolvimento de gás também não foi tão forte quanto estimado dez anos atrás — ficou cerca de 8% abaixo.
A demanda do petróleo, por outro lado, cresceu mais do que se imaginava. O primeiro relatório estimou uma demanda em 2019 de 90 milhões de barris por dia, mas acabou sendo maior: 100 milhões de barris por dia.
A queda acelerada dos custos em novas energias renováveis, como solar (82%) e eólica (67%), foi outra surpresa, junto com a expansão desse tipo de geração.
“A energia eólica e solar onshore são agora fontes competitivas de nova eletricidade sem subsídios, desde que não precisem cobrir todos os custos do sistema”, diz o economista-chefe da Equinor, Eirik Wærness.
Ele aponta como um fator de incerteza a forma como serão feitas as futuras regulamentações do mercado em um mundo onde as fontes de energia renováveis se tornarão uma parte considerável da matriz elétrica.
Olhando adiante, o relatório da Equinor desenha três cenários com resultados possíveis de serem atingidos, considerando a demanda de energia e as emissões de gases de efeito estufa até 2050.
O que dizem os cenários:
Reequilíbrio
É um novo cenário incluído nesta edição do relatório. Descreve como o mundo ainda pode atingir as metas do Acordo de Paris e limitar o aquecimento global bem abaixo de 2° Celsius.
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No caminho de desenvolvimento em direção a 2050, o crescimento econômico acelera nos mercados emergentes, enquanto é menor nas economias desenvolvidas;
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As emissões globais de CO2 relacionadas à energia nunca voltarão ao nível de antes da pandemia de covid-19;
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A demanda global absoluta de energia será reduzida em 15% em comparação com o nível de 2019.
Reforma
É baseado em um desenvolvimento impulsionado pelo mercado e pela tecnologia.
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Endurecimento contínuo das políticas climáticas em linha com os compromissos do Acordo de Paris, porém, não será suficiente para atingir as metas climáticas;
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Os países desenvolvidos são os principais impulsionadores do desenvolvimento;
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Avanço limitado da tecnologia de emissão zero, como captura e armazenamento de carbono, e de novas fontes de energia, como o hidrogênio.
Competição
O relatório assume que a política climática não é suficientemente priorizada e, consequentemente, a transição energética não está ganhando impulso suficiente.
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Guerras comerciais, agitação social e política e conflitos políticos regionais com potencial de crescimento são indícios de que o desenvolvimento está caminhando nessa direção;
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Essas tendências continuam levando ao protecionismo, autocracia, menos cooperação global, desenvolvimento tecnológico mais lento e fraco crescimento econômico.
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ENTREVISTA – Eirik Wærness, economista-chefe da Equinor
A Perspectiva Energética 2020 conclui que a transição atual é lenta e insuficiente para cumprir as metas climáticas, enquanto as emissões do setor de energia continuam a crescer — mesmo sob os efeitos da pandemia de covid-19. O que precisamos mudar imediatamente, antes que seja tarde demais?
Tornar sérios os mecanismos financeiros que nos permitem garantir que as economias emergentes possam continuar a crescer e cumprir suas aspirações de desenvolvimento sustentável, enquanto se movem na direção certa em termos de emissões relacionadas à energia.
Isso tem a ver com os mecanismos de financiamento do Acordo de Paris e tem a ver com o mundo industrializado pagando o verdadeiro custo do nosso consumo.
E nós temos que começar a nos mover na direção certa agora, mesmo que talvez a gente não chegue lá, mas nós temos que fazer o melhor o mais rápido possível.
Além da demanda de curto prazo por petróleo, como a pandemia afetou os cenários de descarbonização do transporte? A eletrificação será suficiente?
Transporte é sobre óleo.
O maior impacto da pandemia de covid-19 no transporte foi o deslocamento da curva de demanda de óleo para baixo.
Embora ainda esteja incerto qual será o crescimento dessa demanda, a experiência em 2020 deixa um marco permanente na curva de demanda em todos os cenários.
Grande parte da mudança necessária no setor de transporte para atingir a ambição climática é a eletrificação, mas isso será em veículos leves principalmente, pelo menos no início.
Outra parte será a eficiência energética. Continuaremos a melhorar a eficiência energética, o que significa que precisamos de sistemas logísticos mais eficientes, precisamos de mais gerenciamento de demanda.
Uma terceira parte será a mudança na forma de transporte, para que possamos reduzir o transporte privado e substituí-lo pelo público, por exemplo.
E, por fim, achamos que ainda teremos combustível fóssil no transporte no futuro, mas para sermos capazes de introduzir o hidrogênio nos setores mais difíceis de descarbonizar, como transporte pesado.
O cenário de Reequilíbrio para o gás natural apresenta um panorama desafiador: o gás é necessário para as economias em desenvolvimento e para a China. Ao mesmo tempo, os países que também enfrentam desafios de desenvolvimento precisam substituí-lo.
Como as políticas focadas no crescimento econômico pós-covid estão afetando este cenário, e o que é necessário para reequilibrar nosso consumo de gás?
Nossa conclusão é que a demanda por gás vai crescer em todos os cenários, por pelo menos uma década.
Parte desse crescimento será no setor de energia, e parte dele será, em certa medida, no transporte, mas em particular no uso de energia em diferentes indústrias.
Haverá grandes diferenças regionais em como será a demanda de gás. Nas maiores economias emergentes, como Índia e China, a demanda deve crescer significativamente até 2050. Mas deve cair a partir de 2030 nos Estados Unidos e Europa, por exemplo.
Gradualmente, se quisermos crescer em direção ao desenvolvimento sustentável em termos de emissão zero de energia, depois de um tempo — em particular no mundo industrializado –, o gás terá que ser substituído por energias renováveis, por novas energias renováveis, hidrogênio, solar e eólica e, em certa medida, também por nuclear.
Em última análise, a demanda por gás também será menor quando eletrificarmos partes do setor de aquecimento e da construção civil, que também será um desafio contra a crescente demanda de gás global.
E isso terá implicações interessantes porque o suprimento de gás não está necessariamente localizado onde a demanda vai crescer.
A energia solar e a eólica experimentaram um crescimento significativo nas últimas duas décadas, mas ainda representam uma parcela muito pequena da demanda total. O crescimento dessas fontes está garantido? É questão de tempo, ou precisamos de ação para acelerá-lo?
Acho que não há problema em supor que continuaremos crescendo no setor solar e eólico. Nesse sentido, é garantido.
Mas conforme essas fontes forem aumentando sua participação na matriz energética, vai ficando difícil crescer na mesma proporção.
Se vai crescer rápido o suficiente é outra questão, porque a mudança necessária no sistema elétrico para cumprir a ambição climática é enorme. 40% da eletricidade global hoje é movida a carvão. Então não é automático que tenhamos um crescimento rápido o suficiente em renováveis.
Serão necessários muitos investimentos associados, seja em redes ou em sistemas de backup, armazenamento, baterias.
Uma grande questão que surge é que, quando as novas energias renováveis ocupam uma fatia muito grande do sistema elétrico, a questão do preço de mercado se torna mais aguda.
Por isso precisamos de um mercado regulamentado.
Curtas
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