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Shell vê PL 414 como "conforto jurídico" para investir em renováveis

Multinacional tem planos de investir US$ 3 bilhões em renováveis no Brasil, de olho na expansão do mercado livre

Shell vê PL 414 como "conforto jurídico" para investir em renováveis. Na imagem, André Araujo, presidente da Shell Brasil (Foto: Divulgação)
André Araujo, presidente da Shell Brasil (Foto: Divulgação)

RIO — Com planos de investir R$ 3 bilhões em geração renovável no Brasil até 2025, a Shell está de olho nas perspectivas de expansão do mercado livre de energia. O presidente da companhia no país, André Araujo, espera que o PL 414/2021 — que trata da modernização do setor elétrico — seja aprovado ainda em 2022, para dar um “conforto jurídico” para os investimentos que a empresa pretende realizar no país nos próximos anos.

“Somos favoráveis sim a um PL sendo votado, definido e bem claro. Somos favoráveis a esse último texto que foi publicado, no que se refere à questão de abertura do mercado para o consumidor livre (…) Isso vai ser uma mola propulsora de desenvolvimento”, afirmou o executivo em coletiva à imprensa, durante evento que reuniu agentes do segmento das eólicas offshore, na terça-feira (14/06).

Globalmente, a Shell espera dobrar sua participação na comercialização de energia até 2030. No Brasil, a companhia já possui projetos — em operação e em desenvolvimento — de geração de energia solar e eólica — tanto onshore quanto offshore.

Atualmente, a empresa tem mais de 60 pedidos de instalação de usinas solares fotovoltaicas no Brasil, que representam 3 GW de potência instalada. A maior parte delas está em Minas Gerais.

“As Américas têm um papel importante nesse crescimento, nosso papel é trazer esses projetos e torcer para que consigamos desenvolver projetos competitivos”, afirmou.

Recentemente, a companhia anunciou o licenciamento de parques eólicos em alto mar que somam 17 GW em capacidade instalada. Contudo, Araujo destacou que o Brasil compete com os outros países para receber investimentos.

“O grupo Shell tem um teto de capex [investimento]. E, dentro da competição, obviamente há uma competição pelo dinheiro, para que negócio e que país ele vai. Nosso papel na Shell Brasil é trazer para o grupo possibilidades de projetos”, pontuou. “Temos times de solar, time de nature based solutions [soluções baseadas na natureza], eólica, hidrogênio, ao longo desses anos tentando trazer a perspectiva que o Brasil é e precisa ser uma prioridade”, completou.

A previsão é que os projetos de eólicas offshore, caso aprovados, saiam do papel em até oito anos. O mercado ainda aguarda um marco regulatório capaz de definir as regras para concessão de áreas em alto mar para instalação dos parques eólicos.

“Há uma série de dúvidas e dilemas. Particularmente, acho, considerando que esses projetos têm tempo de oito anos para se materializarem, que é um tempo adequado para ir resolvendo esses gargalos”, comentou.

Além do marco legal, o executivo destaca o desenvolvimento da cadeia de fornecedores e a infraestrutura portuária, como gargalos que ainda precisam ser solucionados.

Para aprofundar

Hidrogênio verde é “curinga”

Além do fornecimento de energia elétrica renovável, a Shell Brasil também entende que o hidrogênio e amônia verdes podem integrar o portfólio da companhia como soluções de descarbonização para clientes industriais.

“Obviamente temos um mindset [mentalidade] focado sempre na energia elétrica, mas reconhecemos que temos produtos como hidrogênio, amônia, que podem sem dúvida nenhuma começar a ser um elemento da demanda’, avaliou o presidente da Shell no Brasil.

Para a gerente do Programa de Tecnologia para Energias Renováveis da empresa, Camila Brandão, os projetos de eólicas offshore devem olhar para além da geração elétrica. E o hidrogênio verde é um potencial produto para ancorar os investimentos em renováveis.

“O hidrogênio é um grande curinga, líbero da Shell”, disse a executiva. “Olhar a geração eólica somente como geração elétrica é muito pobre (…) O Brasil vai ser um grande fornecedor de energia renovável para o mundo”, completou.

O hidrogênio e a amônia verde vêm sendo apontados como produtos de exportação para a Europa e outras regiões do mundo que não possuem capacidade suficiente de geração de renováveis.

No mês passado, a Shell Brasil e o Porto do Açu assinaram um memorando de entendimento para desenvolvimento conjunto de uma planta-piloto de hidrogênio verde nas instalações do complexo portuário, localizado em São João da Barra, na região norte do Rio de Janeiro.

A unidade deverá ficar pronta em 2025 e terá capacidade inicial de 10 MW — podendo chegar a 100 MW no futuro. E está próxima a um dos projetos de eólicas offshore da companhia.

“Seria muito bom casar um dia esses projetos. Como ambição, nós gostaríamos”, contou Araujo à agência epbr.

Entretanto, o executivo explica que, a princípio, este será apenas um projeto para estudar a viabilidade do hidrogênio verde no Brasil e descartou a possibilidade de replicar o modelo em outro estado por ora.

Representantes do estado do Ceará mantinham conversas com a companhia para atrair investimentos no futuro hub de hidrogênio verde no Porto do Pecém.

“Não estamos focados em fazer em outro estado, porque estamos muito focados em como fazer. Queremos testar tecnologias, avaliar a cadeia de suprimentos (…) Nesse projeto queremos olhar formas alternativas de suprimento necessárias para fabricação de hidrogênio”, disse Araújo.