Diálogos da Transição

Shell e Raízen se lançam no hidrogênio de etanol

Hidrogênio de etanol vai substituir diesel em ônibus utilizado por estudantes no campus da USP

Shell e Raízen se lançam no hidrogênio de etanol. Na imagem, ônibus movido à célula a combustível hidrogênio testado por convênio entre EMTU e USP (Foto Governo de São Paulo)
Ônibus movido à célula a combustível hidrogênio testado por convênio entre EMTU e USP para estudos sobre viabilidade técnica e operacional do modal (Foto: Governo de São Paulo)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Começou a série de debates dos Diálogos da Transição
Acompanhe ao vivo nas redes da epbr, de 29/8 a 2/9

Em um acordo inédito, Shell, Raízen, Hytron, Universidade de São Paulo (USP) e Senai CETIQT vão investir em plantas dedicadas à produção de hidrogênio a partir do etanol e um posto de abastecimento para ônibus que circula na Cidade Universitária, em São Paulo.

O acordo, anunciado nesta quinta (1/9), prevê a construção de duas plantas capazes de produzir 5 kg/h de hidrogênio e, posteriormente, a implementação de uma unidade 10 vezes maior, de 44,5 kg/h.

A proposta é usar o combustível para substituir o diesel em um dos ônibus utilizados pelos estudantes no campus da USP. O veículo será equipado com a tecnologia de célula a combustível.

Prevista para começar a operar já no ano que vem, a iniciativa quer validar a tecnologia de produção de hidrogênio a partir do etanol — hoje, a maior parte dos projetos está focada na eletrólise com energia eólica ou solar e visa a exportação.

Já a produção a partir do etanol poderia ser interiorizada e aproveitada para descarbonizar a indústria local e o transporte pesado.

O biocombustível será fornecido pela Raízen e a tecnologia desenvolvida e fabricada pela Hytron, do grupo alemão Neuman & Esser.

O Senai CETIQT entra com o suporte técnico e a Shell com o financiamento de cerca de R$ 50 milhões, por meio da cláusula de P&D da ANP.

“Estamos empolgados em ver que um projeto que se iniciou como um sonho de estudantes dentro da universidade agora se torna uma solução de alto impacto para a transição energética do país e do mundo”, comemora Marcelo Veneroso, CEO da Hytron.

Solução logística

A produção via biocombustível também busca dar uma resposta ao dilema logístico do hidrogênio. O combustível tem alta volatilidade e precisa ser comprimido ou liquefeito para armazenamento em cilindros ou em carretas — o que adiciona custos a uma solução que corre para ganhar competitividade.

“A tecnologia pode ser facilmente instalada em postos de combustíveis convencionais, o que não exigiria mudanças na infraestrutura de distribuição, garantindo que o hidrogênio estará pronto para abastecer os veículos de forma rápida e segura”, explica Alexandre Breda, gerente de Tecnologia em Baixo Carbono da Shell Brasil.

O grupo também busca parceiros que queiram aplicar a tecnologia para descarbonizar outros setores, e assim desenvolver um mercado para o H₂ de etanol.

“O uso do hidrogênio não está restrito ao setor de transporte e beneficiará outros segmentos no país, no que diz respeito à substituição de fontes de energia fóssil”, completa.

Ambições

A produção de hidrogênio a partir de bioenergia, como etanol e biogás, está prevista no Plano Nacional do Hidrogênio (PNH2) do governo federal, cujas diretrizes foram lançadas há pouco mais de um ano.

  • Vale dizer: o PNH2 considera fomentar todas as rotas de produção, inclusive as fósseis.

Um caminho é a produção de hidrogênio pela reforma a vapor do etanol e outros biocombustíveis e a biocaptura de carbono (BioCCS).

A fórmula química do etanol — C2H5OH — mostra que ele tem bastante hidrogênio. De acordo com cálculos do setor, 7,6 litros de etanol são capazes de gerar 1kg de hidrogênio.

E a ambição vai além do transporte pesado e da indústria. Os produtores de etanol querem difundir a alternativa também nos veículos leves, com a célula a combustível hidrogênio competindo com a eletrificação via baterias.

Cobrimos por aqui:

Modelo preferido

Mas é a combinação de portos, eólica offshore e hidrogênio de eletrólise que segue acumulando acordos de intenções de grandes empresas com governos estaduais.

Neoenergia firmou nesta quarta (31/8) um memorando de entendimento (MoU, na sigla em inglês) com o governo do Rio Grande do Sul para estudar a viabilidade de projetos de hidrogênio verde e geração eólica offshore no Porto de Rio Grande.

É o quarto MoU da companhia, que já tem acordos do tipo com os governos de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte.

No RS, a Neoenergia tem um projeto com pedido de licenciamento no Ibama para geração de 3 gigawatts (GW) de energia eólica em alto-mar, com o parque Águas Claras.

O memorando tem vigência de três anos e prevê cooperação nos estudos para fomentar uma cadeia para as eólicas offshore e o hidrogênio verde. Ambas tecnologias aguardam um marco legal.

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Diálogos da Transição: Hidrogênio no transporte e indústria 

Estudo de pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP) publicado no International Journal of Hydrogen Energy aponta que vender hidrogênio verde para setores como transporte ou indústria é mais lucrativo do que transformá-lo novamente em energia.

Como o Brasil pode e deve se beneficiar do potencial de renováveis para produção e inserção do hidrogênio verde na matriz de transporte e na indústria nacional? É o que vamos discutir no último painel dos Diálogos da Transição. 

Assista ao vivo, amanhã (2/9), às 9h

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Parcerias para viabilizar eletropostos

Movida, Nissan, Rede de Postos SIM e a Zletric anunciaram na quarta (31/8) uma parceria para instalar nove pontos com carregadores rápidos, interligando capitais e cidades importantes da Região Sul. O projeto, batizado de Rota Sul, vai oferecer soluções de recarga nos postos da Rede SIM.

Com a iniciativa, será possível sair de São Paulo (SP) e ir até Punta del Este, no Uruguai, com a opção de recarregar o veículo elétrico a cada 200 km.

A parceria está investindo R$ 2,4 milhões nos carregadores rápidos, que têm um custo mais elevado que os tradicionais.

Pelo Brasil, o modelo de parcerias avança. Também nesta quarta, a rede de supermercados Assaí Atacadista inaugurou em São Paulo seu primeiro eletroposto com três pontos de carregamento.

A companhia vai passar a disponibilizar o serviço gratuito de recarga elétrica para os carros dos clientes que frequentam suas lojas em 13 estados do país, por meio de uma parceria com a GreenYellow, que fornecerá os equipamentos para 90 eletropostos.

Biomassa certificada

As unidades da BSBIOS de Passo Fundo (RS) e Marialva (PR) renovaram a Certificação Internacional de Sustentabilidade e Carbono (ISSC-EU) de biomassa e bioenergia, que permite a comercialização de biocombustíveis na Europa feitos a partir de matéria-prima sustentável.

Neste ano, além da gordura animal, a ISSC abrange mais 23 matérias-primas, incluindo óleos vegetais, gorduras e óleo de cozinha usado. Ana Cristina Curia, gerente de sustentabilidade da BSBIOS, explica que o selo atesta o trabalho para garantir a redução de emissões englobando toda a cadeia produtiva.

Em agosto, a empresa exportou 9,7 mil toneladas de biodiesel para Holanda.