Diálogos da Transição

Setor de navegação propõe fundo para combustíveis com zero emissão

Mecanismo foi detalhado em proposta apresentada à IMO na quinta (1º/2)

Setor de navegação propõe fundo para combustíveis com zero emissão composto por taxas cobradas por tonelada de CO2e emitida pelos navios. Na imagem: Vista aérea de navio de carga com contêineres no porto (Foto: tawatchai07 Freepik)
Proposta é baseada no conceito de "feebate", que estabelece um sistema de contribuição global baseado em taxas de carbono (Foto: tawatchai07 Freepik)

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Editada por Nayara Machado
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A Câmara Internacional de Navegação (ICS, em inglês) e os governos das Bahamas e Libéria entregaram à Organização Marítima Internacional (IMO) uma proposta detalhada para criação de um fundo destinado a financiar combustíveis e tecnologias de zero emissão de carbono.

A descarbonização do frete marítimo deve demandar até US$ 28 bilhões por ano até 2050, de acordo com estimativas da ONU, grande parte para viabilizar a substituição de combustíveis fósseis.

O frete marítimo é hoje responsável por mais de 80% do volume de comércio mundial e quase 3% dos gases de efeito de estufa (GEE) lançados na atmosfera. Com uma frota envelhecida e funcionando quase exclusivamente com combustíveis fósseis, o setor registrou um aumento de 20% nas suas emissões na última década.

Divulgada na quinta (1º/2), a proposta é baseada no conceito de “feebate” (junção de “taxa” e “rebate”) apresentado pelo governo do Japão à IMO, que estabelece um sistema de contribuição global baseado em taxas de carbono.

A ICS, grupo que representa mais de 80% da frota mercante mundial, acrescenta uma estrutura de transparência e responsabilização sobre a forma como os recursos serão utilizados – incluindo os fundos para financiar a transição em países emergentes.

“A transição para o transporte marítimo líquido zero deve ser verdadeiramente global. Caso contrário, não terá sucesso”, defende Guy Platten, secretário geral da ICS.

Em julho de 2023, os 175 países membros da IMO concordaram em adotar a ambição comum de chegar a emissões líquidas zero até 2050 – antes, o corte era de 50%.

Mas entre adotar uma ambição e realmente cortar o volume de carbono que é lançado na atmosfera há um oceano.

Para a ICS, a meta só será possível caso os governos comecem a agir para estabelecer o que eles chamam de Fundo de Transporte de Emissões Zero (ZESF).

“Um mecanismo global de fixação de preços de GEE para o transporte marítimo precisa urgentemente ser acordado no próximo ano, o que reduzirá o risco do investimento em combustíveis navais com zero GEE e fornecerá milhares de milhões de dólares de fundos para apoiar os países em desenvolvimento”, completa.

A proposta

O fundo e o mecanismo feebate serão considerados pelos Estados-Membros da IMO na sua próxima rodada de negociações sobre corte de emissões, em março.

No encontro do ano passado, os governos se comprometeram a desenvolver um mecanismo de precificação de GEE para o transporte marítimo internacional até 2025. Se ele sair do papel, a ideia é que o ZESF seja lançado já no próximo ano.

Pela proposta (.pdf em inglês), o fundo será composto a partir das taxas cobradas por tonelada de CO2e emitida pelos navios. Esse dinheiro será utilizado, então, para reduzir a diferença significativa de custos entre os combustíveis zero carbono e os fósseis, recompensando financeiramente (feebates) as embarcações pelas emissões evitadas pelo uso de metanol ou amônia verdes, por exemplo.

A ICS calcula que, para atingir a meta da IMO de que 5-10% da energia utilizada pelo transporte marítimo venha de fontes de baixo carbono até 2030, seriam necessários aportes de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões por ano para subsidiar a diferença de preço entre fóssil e renovável.

Isso equivaleria a cobrar entre US$ 20 e US$ 40 por tonelada de combustível fóssil consumido, o que, segundo análise de impacto encomendada pelo grupo, teria pouco peso sobre os preços finais das cargas.

Ainda assim, há uma preocupação com os efeitos desse tipo de mecanismo sobre países com menos recursos e deslocamento do frete para corredores logísticos que já começam a desenhar hubs de abastecimento verde.

O documento da ICS propõe apoio à produção de combustíveis de baixo carbono e implantação de novas infraestruturas de abastecimento nos portos dos países em desenvolvimento em todo o mundo, para evitar distorções no comércio global.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Recorde de renováveis

Estudo da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) aponta que o Brasil gerou 70.206 megawatts médios de energia em 2023 a partir das suas usinas hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa. O volume representa 93,1% de toda a eletricidade produzida no ano, o maior da história do país.

Risco climático

Empresas de energia e serviços de utilidade pública no Brasil estão mais avançadas que as de outros setores na incorporação de riscos climáticos ao planejamento financeiro. Segundo pesquisa com CEOs feita pela PwC, 65% dos executivos brasileiros do setor de energia afirmam que as empresas em que atuam já incorporam os riscos climáticos ao planejamento financeiro.

Eletrificando 1

A Raízen anunciou, nesta sexta (2/2), a assinatura de um memorando de entendimento (MoU) com a fabricante chinesa de veículos elétricos BYD para criação de hubs de recarga em oito capitais do Brasil. De acordo com o comunicado ao mercado, o objetivo é tornar as soluções de recarga mais acessíveis e economicamente viáveis.

Eletrificando 2

O governo do Pará encomendou 40 ônibus elétricos fabricados pela brasileira Eletra para integrar o BRT da região metropolitana de Belém, capital do estado. Com investimentos de R$ 120 milhões, os veículos serão entregues entre setembro e outubro deste ano.

Corredor de GNL

Eneva e Virtu GNL anunciaram, nest a sexta (2/2), a assinatura de um contrato de aquisição de 180 caminhões a gás natural liquefeito (GNL) da Scania, no que as companhias afirmam ser o maior contrato de venda de caminhões a GNL já realizado na América Latina.

Desse total, 30 veículos serão usados pela GNL Brasil, uma joint venture da Eneva com a Virtu, para atendimento aos contratos firmados pela empresa para a venda de GNL em pequena escala para Vale e Suzano, no Maranhão.

BioGLP

A Ultragaz comprou a primeira carga comercial de bioGLP produzida na Refinaria Riograndense (RS). O objetivo da distribuidora é avaliar o desempenho do produto menos poluente no mercado. A carga, de 140 toneladas, foi produzida a partir de óleo de soja, com estimativa de emissões de carbono até 80% menores do que o GLP tradicional.

R$ 1,3 bi no Fundo Amazônia

Retomado no ano passado, após congelamento durante os quatro anos no governo anterior, o Fundo Amazônia atingiu R$ 1,3 bilhão em aprovações para projetos e chamadas públicas em 2023. Os dados foram apresentados na quinta (1°/2) pelo Ministério do Meio Ambiente e BNDES.