Amônia verde

Rio Grande do Sul e Begreen firmam acordo para três plantas de hidrogênio e amônia de baixo carbono

Com investimentos de R$150 milhões, unidades devem produzir 8 mil toneladas anuais de amônia anidra para consumo local

Entre os projetos em estudo pela Begreen no Rio Grande do Sul está o fornecimento de fertilizantes a partir da amônia verde para o cultivo de milho (Foto Angela/Pixabay)
Entre os projetos em estudo pela Begreen está o fornecimento de fertilizantes de baixo carbono para o cultivo de milho | Foto Angela/Pixabay

LIMEIRA (SP) – A Begreen Bioenergia e Fertilizantes Sustentáveis e o governo do Rio Grande do Sul anunciaram nesta terça (17/9) a assinatura de um memorando de entendimento (MOU) para que três fábricas de produção de hidrogênio e amônia de baixo carbono possam receber incentivos previstos no Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Hidrogênio do estado.

Com investimentos somados de R$ 150 milhões, as unidades serão construídas nas cidades de Passo Fundo, Tio Hugo e Condor e pretendem substituir a importação de insumos agrícolas.

Quando entrarem em operação, a fábricas deverão produzir cerca de 8 mil toneladas por ano de amônia anidra para atender o consumo local.

As plantas de Passo Fundo e Tio Hugo estão em fase de licenciamento ambiental e a de Condor em processo fundiário.

A Begreen é uma empresa criada em agosto de 2023 pela Migratio Participações (que atua no mercado livre de energia), Torao Participações e Pharo Participações para produção de amônia (NH3) e fertilizantes a partir do hidrogênio verde.

Os empreendimentos no RS contam com parceria com a Universidade de Passo Fundo e o Tecnoagro, que não só produzirá a amônia verde, como está testando em laboratório e em campo várias formulações.

“A construção das três unidades deve ocorrer em um ciclo de 20 meses cada, após a obtenção de todas as licenças ambientais necessárias”, conta Luiz Paulo Hauth, diretor de operações da Begreen.

A expectativa é que as primeiras plantas possam operar já a partir do primeiro semestre de 2027.

Redução de importações e descarbonização do agro

A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que a ampliação da cadeia de hidrogênio verde chegue a 420 GW ao final de 2030, um crescimento de 21.000% sobre os atuais 2GW.

Para o Brasil, é uma oportunidade para reduzir a dependência de fertilizantes importados.

Com mais de 80% dos seus fertilizantes vindo de fora, o país ocupa a primeira posição na importação global do insumo. Em 2023, o volume chegou a 39,439 milhões de toneladas, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).

Segundo a Begreen, o projeto focado na produção local, próxima dos consumidores agrícolas do Rio Grande do Sul, permitirá à região ganhar maior autonomia em relação à cadeia fertilizantes, substituindo custosas importações e, ao mesmo tempo, participando localmente do esforço mundial de diminuir as emissões de gases de efeito estufa.

Um dos projetos em estudo é fornecer fertilizantes verdes para a produção de milho para rações suínas. Tudo rastreado, para futuramente ofertar proteínas que possam passar pelo Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono (CBAM, em inglês) da Europa.

O acordo entre o governo estadual e a Begreen prevê que em todas as três unidades contempladas no MOU o hidrogênio usado na fabricação dos insumos agrícolas será obtido com o uso de energia renovável. A produção de amônia (NH3), com extração do nitrogênio do ar, também será baseada em energia renovável.

“Tanto a produção de hidrogênio verde – um dos insumos críticos para a produção dos fertilizantes –, quanto a do nitrogênio são eletrointensivas. O alto consumo de eletricidade nessa cadeia produtiva deve-se à necessidade do processo de eletrólise da água – de onde o hidrogênio é retirado – assim como em função da captura do nitrogênio, a partir do ar, para a composição da amônia (NH3)”, explica Hauth.

O executivo afirma que essa eletricidade virá de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) em um projeto que também mira a recuperação de regiões afetadas pelas enchentes em maio deste ano.

Investimento japonês

As usinas serão desenvolvidas em parceria com a Oriental Consultants Global do Brasil (OCG do Brasil), empresa integralmente controlada pelo grupo japonês OC Global.

Um acordo de investimento anunciado nesta terça prevê o desenvolvimento de três plantas greenfields para produção e consumo descentralizado de amônia (NH3) de baixo carbono, bem como operação e manutenção.

A efetivação do investimento está condicionada à finalização dos estudos e resultados de due diligence bem como demais acordos entre as partes a serem firmados.

“Contribuir para a segurança alimentar mundial e no Japão promovendo a transição energética de baixo carbono são os pilares da estratégia corporativa da OC Global, que enxerga o Brasil como país chave e altamente potencial para fornecimento de alimentos de qualidade entre os países e regiões”, afirma Kenichi Yamamoto, diretor executivo de desenvolvimento de negócios da OC Global.

“Este será um passo importante para reduzir a independência de importação dos fertilizantes nitrogenados e contribuirá para melhor resiliência da cadeia de suprimento agrícola”, acrescenta.  

Para Fábio Saldanha, sócio-diretor da Migratio, uma das acionistas da Begreen, a aprovação do marco legal do hidrogênio no início de agosto é uma sinalização positiva para os investimentos no setor.

“A aprovação do marco legal de hidrogênio (Lei 14.948, de 2024), que ocorreu no início de agosto, ainda depende de algumas regulamentações, como a definição dos incentivos fiscais, por exemplo, mas já baliza questões importantes para o mercado se planejar sobre os investimentos no setor”.

Como os incentivos fiscais terão validade de cinco anos, a partir de janeiro de 2025, o executivo observa que quem quiser aproveitar ao máximo esse período deve estar com as usinas prontas ou em estágio bem avançado até o final deste ano.


* A jornalista viajou a convite e com despesas pagas pelo 3º Encontro Migratio de Energia e Gás (EMEG)