Energia

Primeiro projeto de hidrogênio no Suape desencadeia disputa por área

Contratação desencadeia arbitragem com estaleiro por lote destinado à produção de hidrogênio verde

Primeiro projeto de hidrogênio verde e azul da Qair, no Suape, desencadeia disputa por área com o estaleiro Vard Promar. Na imagem: Vista aérea do Complexo Portuário de Suape (Foto: Daniela Nader/Divulgação)
Arrendamento por 25 anos, renovável por igual período, se destina à produção de hidrogênio verde, azul e amônia (Foto: Daniela Nader/Divulgação)

RIO – A área do Complexo Industrial e Portuário de Suape, em Pernambuco, destinada à instalação de uma planta de hidrogênio verde e azul da Qair Brasil, se tornou alvo de uma disputa arbitral com o estaleiro Vard Promar.

O projeto original da Qair, contratado em 2022 com o porto, prevê a instalação de unidades de eletrólise com 1 GW de capacidade, para produção de hidrogênio verde, além de sistemas de captura de carbono da reforma de gás natural para a rota azul.

O estaleiro, contudo, reivindicou direitos pré-existentes, desencadeando a disputa com a administração do complexo portuário.

O governo do estado aguarda o desenrolar da ação para rediscutir o destino da área, um espaço “nobre”, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Cavalcanti.

Ele afirma que houve uma falha na negociação com a Qair, “sem o devido desimpedimento de obrigações”.

Cavalcanti assumiu esse ano, com a eleição de Raquel Lyra (PSDB) para o governo de Pernambuco, sucessora de Paulo Câmara (PSB), atual presidente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), por indicação do governo Lula.

A eleição marcou uma mudança no grupo político no comando do estado, que refletiu na administração de Suape.

“A Qair têm a proposição de ocupar uma área de beira de cais, que foi objeto de uma promessa de cessão por parte governo do estado no ano passado, mas sem o devido desimpedimento de obrigações pretéritas”, explicou o secretário.

Cavalcanti afirma que o estaleiro também estava descumprindo o contrato original.

“[Se Suape perder a arbitragem] precisamos retomar o contrato original com o Vard, o que também nos coloca numa posição confortável, porque ele está em descumprimento do contrato original e precisa chegar a algum tipo de composição”, diz.

“Não podemos dispor de uma área tão nobre para ficar parada”.

O arrendamento da área para a Qair seria feito por 25 anos, renovável por igual período, para produção de hidrogênio verde, azul com captura de carbono e amônia.

Cavalcanti reitera que há interesse em atrair investimentos em plantas de hidrogênio no porto e há mais empresas interessadas, além da Qair.

“Resolvido o imbróglio, as discussões com a Qair serão retomadas. Além dela, outras duas companhias também manifestaram interesse pela área para a produção de hidrogênio”.

A Qair preferiu não se manifestar sobre o caso. A empresa não é parte na arbitragem entre porto e o estaleiro. Suape afirmou apenas que o processo ainda está em curso e não obtivemos respostas do Vard Promar. O espaço segue aberto.

O projeto da Qair em Pernambuco

A empresa prevê a instalação de um complexo para produção de hidrogênio verde, produzido a partir de eletrólise com energia de fonte renovável, que inclui uma usina de dessalinização para aproveitamento da água do mar.

A energia será gerada em parques eólicos e solares fotovoltaicos próprios. Atualmente, a companhia desenvolve parques eólicos, inclusive integrados com solar, no Ceará e Rio Grande do Norte, totalizando mais de 420 MW de capacidade.

Além do hidrogênio verde, a Qair prevê a construção no Suape de duas unidades de hidrogênio azul, a partir da reforma de gás natural com captura de carbono, com pequenos reatores modulares (SMR, na sigla em inglês).