O Porto do Açu, complexo portuário da Prumo, no Norte Fluminense, iniciou o licenciamento ambiental de parques eólicos offshore com 2.160 MW de capacidade instalada, e pretende atrair um ou mais sócios para desenvolver os quatro parques Ventos do Açu.
Os dados iniciais já foram enviados ao Ibama.
Com diversos projetos no setor de energia, o investimento está diretamente ligado ao desenvolvimento de negócios na área de hidrogênio verde, que vem movimentando os portos brasileiros.
“Nós temos toda a infraestrutura da logística portuária e o conhecimento de diversos projetos offshore licenciados” afirma Mauro Andrade, diretor executivo de Desenvolvimento de Negócios da Prumo, à epbr.
O Açu já fechou um memorando de investimento com a mineradora australiana Fortescue para instalação de uma usina de amônia verde, a partir de hidrogênio, 100% voltada para exportação. E espera atrair outros projetos do tipo.
Há diversas iniciativas em portos do Rio ao Ceará, onde o governo estadual quer desenvolver um hub de hidrogênio verde. Os projetos caminham junto com o desenvolvimento das eólicas offshore.
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Leilão de energia e marco para eólicas
Na visão da Prumo, leilões específicos para contratação de energia por grandes consumidores poderão ser uma alternativa para viabilizar os parques offshore.
“Os custos da eólica offshore ainda são muito altos. Se a gente não induzir a demanda vai demorar mais para baixar”, diz Mauro Andrade.
A Prumo vê uma tendência de redução de custos nos próximos 3 a 4 anos, a partir do desenvolvimento tecnológico. Veja detalhes do projeto no fim da matéria
No caso do Açu, a fábrica de amônia em negociação com a australiana Fortescue tem uma demanda por energia estimada em 300 MW médios por ano, carga necessária para produzir 250 mil toneladas de amônia verde.
Hoje, o setor já desenvolve projetos dessa forma: vende parte da energia no mercado livre, com margens melhores, e parte nos leilões organizados para os consumidores cativos, que garantem os contratos de longo prazo.
As eólicas offshore poderiam ser enquadradas nessa lógica, via leilões com prazos para 3 a 4 anos (A-3 e A-4), PPAs e nas usinas de hidrogênio instaladas nos portos.
É uma janela para o Brasil definir uma política para as eólicas offshore, acredita Mauro Andrade.
“É o típico caso onde a indústria se moveu antes do regulador”, diz.
A eólica offshore ainda é vista no Brasil como uma alternativa para o futuro, dado o grande potencial inexplorado em terra, além da oferta de outras fontes, fósseis e renováveis.
Esse pensamento, até pouco tempo atrás, afastou a necessidade de um marco legal ou regulatório para o setor.
O mercado não esperou. Em pouco mais de dois anos, a quantidade de energia projetada em eólicas offshore em licenciamento superou toda a capacidade da fonte outorgada em terra.
A área de licenciamento ambiental do Ibama também se antecipou e lançou, ano passado, um termo de referência padrão para os parques marítimos.
Com a necessidade de descarbonização do suprimento de energia, empresas de petróleo — com vasta experiência em operações offshore — apostam na solução lá fora. É o caso da Equinor, que licencia parques eólicos de grande porte no Brasil.
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Enquanto isso, o setor de transporte de países ricos, notadamente no mercado europeu, sinaliza para o crescimento da demanda por hidrogênio para substituir os fósseis nas frotas pesadas, além do frete marítimo e ferroviário.
O H2 surge como uma opção para acelerar a eletrificação das economias industriais, por exemplo.
Neste contexto, os parques offshore brasileiros são uma potencial alternativa para descarbonização da indústria, graças ao potencial de geração de energia limpa com maior disponibilidade de energia e potência em comparação com as eólicas e usinas solares em terra.
Não há regra específica para a instalação dos parques marítimos, nem consenso no mercado.
Empresas que desenvolvem parques no Nordeste, a BI Eenergia e a Eolicas do Brasil, defendem, por exemplo, que as regras vigentes são suficientes para contratar os projetos.
A Eolicas do Brasil chegou a receber o registro de requerimento de outorga para um parque no Ceará, mas o entendimento atual da Aneel é que o governo federal, eventualmente por meio do CNPE, precisa definir uma regra para exploração dos ventos offshore.
Um dilema é o direito de uso da área da União no mar e como lidar por exemplo com projetos sobrepostos. No setor de óleo, isso é resolvido por leilões de área regulados pela ANP, alternativa que já aparece em projetos de lei no Congresso Nacional.
Recentemente, o Ministério de Minas e Energia (MME) sinalizou que pode definir uma política para o setor este ano.
Ventos do Açu 1 a 4 poderão ter até 540 MW de potência
Nesta fase atual, são previstos aerogeradores de 12 MW a 15 MW, instalados entre 20 km a 54 km da costa dos municípios Campos dos Goytacazes e São João da Barra, onde está o Porto do Açu.
As turbinas de 15 MW estão sendo desenvolvidas pelo mercado justamente de olho nos projetos offshore. Em geral, as empresas buscam um aumento da escala dos parques marítimos, onde custos operacionais e de instalação também são maiores.
A ideia é aproveitar a maior disponibilidade dos ventos, que tendem a ser mais fortes e mais constantes no offshore, elevando a disponibilidade de energia para comercialização.
No licenciamento ambiental, são consideradas as torres eólicas de referência IEA Wind 15-MW desenvolvidas pelo National Renewable Energy Laboratory (NREL), órgão ligado ao Departamento de Energia dos EUA.
É um projeto open source criado para ajudar no desenvolvimento da indústria.
Toda a infraestrutura será submarina ou instalada no próprio Porto do Açu, incluindo linhas de transmissão e subestações marítimas para escoamento da energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN), pela SE 500 kV Campos 2.
“O ponto de conexão em terra nos limites do Porto do Açu busca minimizar alterações ambientais e sociais relacionadas a este projeto, além de ser fator facilitador para implantação e manutenção do projeto, uma vez que o porto possui infraestrutura de apoio existente e área para ampliação, conforme demandado pelo projeto”, diz o projeto enviado ao Ibama.