Para Marina Domingues, diretora de mercado e regulação da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2), políticas públicas para o hidrogênio no Brasil devem incentivar a demanda, olhando para a reindustrialização do país.
Na avaliação dela, o Brasil já possui matriz energética limpa, e energia renovável barata, em comparação a países europeus e os Estados Unidos, por exemplo.
Isso possibilitaria que os subsídios e incentivos no caso brasileiro pudessem ser mais direcionados para o consumo, do que necessariamente para a produção do hidrogênio.
“Talvez no Brasil, mais relevante do que a descarbonização seja a reindustrialização. Esse vai ser o papel principal do hidrogênio. Conseguir reativar uma cadeia de valor, atrair oferta de trabalho com profissionais qualificados”, disse em entrevista à agência epbr.
Hidrogênio ‘limpo’
Na estratégia americana, por exemplo, o governo dos Estados Unidos prevê o aumento gradativo de crédito fiscal considerando a menor pegada de carbono na produção de hidrogénio, sendo o hidrogénio verde, produzido a partir de eletrólise com energia renovável, o que poderá receber subsídios até US$ 3 por quilograma.
Os Estados Unidos adotaram a definição de “hidrogênio limpo”, abrangendo várias rotas de produção, incluindo eletrólise usando energia renovável, combustíveis fósseis com captura e armazenamento de carbono, biomassa e resíduos, e energia nuclear.
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Por aqui, o governo federal ainda formula propostas para o marco legal do hidrogênio, já discutido em uma comissão criada na Câmara dos Deputados.
O assunto é tratado como prioridade na tentativa dos parlamentares de assumir o protagonismo de uma “agenda verde” para o país.
O governo federal, sob coordenação do Ministério de Minas e Energia, avalia questões como a taxonomia – definição de qual será o hidrogênio de baixo carbono no Brasil – e questões regulatórias.
Oferta x demanda
Na Câmara, o debate inclui justamente se incentivos devem começar pela oferta, favorecendo os produtores, ou o consumo.
No Plano Trienal do Programa Nacional do Hidrogênio, atualizado este ano, o governo apresentou a meta de incentivar a construção de projetos-piloto de produção de hidrogênio de baixo carbono, e a consolidação de hubs de produção e consumo pelo país.
A ABH2 participa de todas as Câmaras Temáticas para o Programa Nacional do Hidrogênio.
“A discussão de hidrogênio, a política pública foca muito em como produzir, etc. Mas talvez o foco da política pública não seja isso no Brasil. O Brasil tem um problema sério de demanda”, avalia Domingues.
Ela explica que a ABH2 defende muito mais uma política de demanda e reindustrialização do que uma política de descarbonização do hidrogênio, considerando a cor, com foco em subsídios em rotas específicas.
“O projeto do hidrogênio deve ser um projeto voltado para a indústria. ‘É muito mais incentivar o setor químico, o setor automotivo, os setores de produção de aço, para conseguirmos ter essa cadeia de valor instalada”.
“Não faz sentido exportar hidrogênio e importar fertilizantes. Essa matemática não faz sentido nenhum”, diz.
Rotas de hidrogênio
Outro ponto levantado por Domingues é a necessidade de uma visão agnóstica em relação às rotas de produção de hidrogênio nesse momento, também como uma maneira de garantir a segurança de suprimento ao consumidor final.
“O fato de hoje, em 2023, concentrarmos a estratégia do desenvolvimento de um novo mercado somente em uma rota tecnológica é um risco muito grande para quem está principalmente demandando esse hidrogênio”, afirma a diretora.
Segundo ela, o Brasil terá uma expansão tanto das energias renováveis, como também da oferta de gás natural, e precisa aproveitar todas as oportunidades.
“O hidrogênio é quase que um offtaker desses dois mercados. Tanto para o gás, quanto para o de energia renovável. Na nossa visão, como defensores do hidrogênio, acreditamos que o hidrogênio deve, sim, utilizar todos os recursos que têm”.
Contudo, Domingues ressalta que o foco dos incentivos deve ser sempre o hidrogênio de baixo carbono, independente da fonte.
“Quando a gente fala em produção de hidrogênio a partir do gás, é sempre com captura. O hidrogênio como ele é, principalmente o uso cativo em refinarias e etc., isso não precisa ser incentivado, é um mercado já existente”, avalia.
“As políticas públicas hoje têm que ser no sentido de reduzir a intensidade de carbono na produção de hidrogênio, independentemente da fonte. Se for gás natural, produzir hidrogênio a partir do gás natural, mas com captura de carbono”.
A diretora destaca que no caso brasileiro, a produção de hidrogênio a partir de energia renovável já é mais competitiva.
“Hoje, quando pensamos no custo de produzir hidrogênio no Brasil, a partir de fontes renováveis, a partir da eletrólise, ele já tem um preço mais competitivo do que, por exemplo, produzir o hidrogênio na Alemanha ou nos Estados Unidos. Conseguimos, talvez, ter um subsídio menor, porém muito mais efetivo do que, por exemplo, o crédito que é dado hoje nos Estados Unidos”.