Transição energética

Petrobras escolhe São Paulo para sediar hub de hidrogênio atenta ao potencial de biomassa de cana

Companhia tem quatro refinarias no estado

Instalações da Refinaria de Paulínia (Replan) da Petrobras em SP, com as luzes acesas ao anoitecer (Foto Marcos Peron/Agência Petrobras)
Instalações da refinaria de Paulínia (Replan) da Petrobras | Foto Marcos Peron/Agência Petrobras

A Petrobras elegeu o estado de São Paulo para desenvolver o projeto de hub de hidrogênio de baixa emissão. Segundo a companhia, que tem quatro refinarias no estado, a localização do hub ainda não foi confirmada, mas o objetivo principal “é fornecer soluções para descarbonização da indústria local”.

“Além das próprias refinarias da Petrobras no estado, que são consumidoras de hidrogênio, São Paulo se destaca como o principal polo industrial do país, com potencial demanda de indústrias de difícil descarbonização, a exemplo dos setores químico e de cimentos”, afirmou a companhia, em nota enviada à agência eixos.

As refinarias da Petrobras em São Paulo são: Refinaria de Paulínia (Replan), em Paulínia; Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos; Refinaria de Capuava (Recap), em Capuava; e Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão. 

O projeto do hub da Petrobras foi um dos selecionados na chamada aberta pelo Ministério de Minas e Energia (MME), no final do ano passado, para concorrer a recursos do fundo internacional Climate Investments Funds – Industry Decarbonization (CIF-ID).

Segundo informações obtidas pela agência eixos, a Refinaria de Cubatão não foi mencionada no projeto enviado à chamada pública, mas segue em análise nos estudos de viabilidade do hub de hidrogênio da estatal.

Entre os critérios de seleção foram analisados a capacidade de produção da molécula associada ao uso industrial, a conexão com portos e a maturidade tecnológica dos projetos, que devem estar prontos para operar até 2035.

A chamada é um passo dentro do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), que tem como meta consolidar polos de hidrogênio de baixa emissão no Brasil até 2035.

Potencial de biometano e C02 biogênico 

Um das razões que levaram a companhia a escolher São Paulo é a grande disponibilidade de biomassa na região, em especial da cana-de-açúcar. Hoje o estado é o maior produtor do Brasil, com 383,4 milhões de toneladas na safra 2023/2024. 

Além do etanol, a biomassa da cana é capaz de gerar carbono biogênico que, juntamente ao hidrogênio renovável, serve de matéria-prima para produção de combustíveis sintéticos, como o SAF (combustível sustentável de aviação) e o e-metanol (combustível marítimo verde).

“A localização deste hub em São Paulo também é estratégica devido à disponibilidade de infraestrutura e insumos na região, principalmente o CO2 biogênico, o qual poderá ser utilizado na produção de combustíveis sintéticos para o transporte marítimo e aéreo”, afirma a estatal.

A Petrobras está de olho em 2027, quando começam a valer as metas para descarbonização obrigatória do transporte aéreo internacional, dentro do Corsia, e de voos domésticos, no âmbito do Combustível do Futuro.  

Já para a navegação, a expectativa é que o Brasil lance uma estratégia, até maio, para estimular combustíveis marítimos sustentáveis, em linha com o que será definido em abril pela Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês).

Hoje, somente a Revap, em São José dos Campos, abastece 80% da demanda de querosene de aviação no mercado paulista e 100% do Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Recentemente, a companhia  também lançou o edital para a aquisição de biometano, que tem como objetivo inicial mapear o mercado sob o ponto de vista da oferta. As compras anunciadas visam o cumprimento do mandato de 1% de biometano nas operações de gás natural por produtores e importadores, definido pela lei do Combustível do Futuro

A entrega será a partir de 2026, de modo a coincidir com o início da vigência do mandato.

Um estudo encomendado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mostra que o estado tem potencial para produzir 6,4 milhões de metros cúbicos por dia ou 2,3 bilhões de metros cúbicos por ano de biometano, sendo 84% oriundos do setor sucroenergético. 

Infraestrutura existente e múltiplas rotas de produção 

A utilização da infraestrutura existente também é considerada outro fator importante para viabilização do hub de hidrogênio, assim como o ganho de escala com o aumento da demanda, que segundo a companhia, dependerá “de incentivos regulatórios e governamentais”.

Em relação às possíveis rotas tecnológicas de produção de hidrogênio de baixa emissão de carbono, a Petrobras afirma defender qualquer alternativa que demonstre viabilidade técnica e operacional.

A biomassa na região ainda é uma grande oportunidade para produção de biometano e até mesmo do etanol, que podem ser utilizados na produção de hidrogênio de baixa emissão, via reforma e com captura e armazenamento de carbono (CCUS).

“Nesse sentido, o estado de São Paulo apresenta potencial tanto para produção de hidrogênio de eletrólise, quanto utilizando captura de carbono, biometano, entre outras”, diz a nota.  

“As diferentes rotas serão complementares para descarbonização das refinarias da Petrobras, assim como de outros setores industriais, dadas as especificidades de cada segmento e os desafios técnicos e econômicos de cada solução”, acrescenta. 

Conteúdo nacional 

A estatal também aponta o grande potencial de adensamento da cadeia de valor nacional, com o desenvolvimento do hub, “passando tanto pela geração de energia renovável quanto pelo fornecimento de insumos e equipamentos para o empreendimento”. 

“O projeto evoluirá de acordo com a governança da Petrobras, alinhado à geração de valor e aos princípios da transição energética justa, conforme Plano Estratégico 2050 e Plano de Negócios 2025-2029, recém-publicados pela companhia”. 

O plano inclui o retorno ao mercado de etanol, além da continuidade dos investimentos em biorrefino, com plantas dedicadas a produzir diesel verde e SAF, além coprocessamento de óleo vegetal nas refinarias (Diesel R).

Também contempla projetos e estudos na geração eólica e solar;  produção de biometano e hidrogênio de baixo carbono, além de projetos de CCUS. 

Levando em conta todas as iniciativas de baixo carbono, o investimento da estatal totaliza US$ 16,3 bilhões em transição energética, incluindo o gás natural.

Inscreva-se em nossas newsletters

Fique bem-informado sobre energia todos os dias