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Petrobras avalia explorar hidrogênio natural

Cientistas brasileiros também avaliam potencial para exploração do gás em Maricá, no Rio de Janeiro

Presidente da Petrobras afirma que empresa avalia explorar hidrogênio natural (ou branco). Na imagem: Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, participa do International Energy Forum, em Oslo, em 13/11/2023 (Foto: Agência Petrobras)
Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, participa do International Energy Forum, em Oslo (Foto: Agência Petrobras)

RIO – O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou nesta terça (19/3) que a companhia tem interesse em incorporar o hidrogênio natural aos seus negócios, caso o energético se mostre viável.

O hidrogênio natural é encontrado na natureza como gás livre em camadas da crosta continental, nas profundezas da crosta oceânica ou em gases vulcânicos, gêiseres e sistemas hidrotermais.

Na paleta de cores usada na classificação do gás, o hidrogênio natural é chamado de branco.

“Vamos acelerar o nivelamento do que já se conhece hoje sobre hidrogênio natural, alavancar as pesquisas necessárias e reforçar nosso compromisso, caso se mostre viável, de utilizarmos o hidrogênio natural de maneira sustentável no negócio da Petrobras”, disse Prates, em vídeo reproduzido durante o primeiro workshop sobre hidrogênio natural promovido pela empresa.

No ano passado, um grupo de cientistas brasileiros e franceses, liderados pelo professor Paulo Emílio de Miranda, presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2), comprovaram a existência de uma reserva de hidrogênio natural com grande potencial em Maricá, no Rio de Janeiro.

A Petrobras já atua na região na exploração de óleo e gás do pré-sal na Bacia de Santos e a cidade na Região Metropolitana do Rio é a mais recente a se beneficiar da atividade, com repasses bilionários de royalties.

Sinergia com óleo e gás

Para Julio Stica, gerente geral de portfólio e negócios da exploração, a exploração de hidrogênio natural possui sinergia técnica e científica com a atividade de óleo e gás realizada pela companhia.

“A [área de] exploração não vai ficar à parte em relação às novas energias, à transição energética, principalmente pelo seu conhecimento geocientífico e toda a força que a exploração tem em relação ao conhecimento da análise de bacias”, disse.

“Está engajada e colocou recursos no seu planejamento estratégico, em estudos regionais no suporte não só para o hidrogênio, mas todas as outras formas de novas energias que a Petrobras vai estudar”, concluiu.

Segundo o geólogo da estatal, Igor Viegas, o tema vem sendo estudado pela companhia desde 2021, dentro da estratégia de novas oportunidades de negócio na área de energia.

“A partir dali, a gente começou a olhar diversas possibilidades e, logicamente, o hidrogênio geológico apareceu como um dos principais na nossa lista. Entendemos que estamos num momento crucial no mundo falando sobre novas energias, e necessidade de descarbonização das nossas operações e a produção de hidrogênio geológico é uma componente importante dentro desse contexto estratégico mundial”.

Potencial do hidrogênio natural

Além de Maricá, uma pesquisa liderada pela Engie em conjunto com a Geo4u constatou a presença de altas concentrações desse gás em reservatórios profundos da Bacia do São Francisco, em Minas Gerais.

Documento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) também indica áreas nos estados do Ceará, Goiás, Tocantins, Roraima e Bahia, “que apresentaram diferentes potenciais para a pesquisa de hidrogênio natural. Alguns melhores e outros piores, mas sempre positivos”.

E ressalta que a lista não é exaustiva, “uma vez que muitas outras regiões nunca foram estudadas”.

Segundo a agência de geologia dos Estados Unidos, a US Geological Survey (USGS), existem 5 trilhões de toneladas de hidrogênio natural em reservatórios subterrâneos pelo mundo, e uma pequena percentagem disso já seria suficiente para satisfazer todas as necessidades globais pelo energético durante centenas de anos.

O potencial do hidrogênio natural está contemplado no Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), desenvolvido pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Recentemente, o secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento, Thiago Barral, defendeu a aprovação de uma marco regulatório do hidrogênio no Congresso Nacional, que inclua o hidrogênio geológico.

“O Brasil tem potencial, mas para essa atividade acontecer precisamos de uma regulação, alguma agência que estabeleça as condições para que essas atividade possa ser desenvolvida”, disse o secretário.

Atualmente, o Congresso discute dois projetos de lei para regulamentação do hidrogênio, mas apenas o texto da Câmara dos Deputados contempla o hidrogênio natural.

Pesquisa da Rystad Energy mostra que, no final do ano passado, 40 empresas procuravam depósitos naturais de hidrogênio, contra apenas 10 em 2020. Atualmente, estão em curso esforços exploratórios na Austrália, EUA, Espanha, França, Albânia, Colômbia, Coreia do Sul e Canadá.

Um dos elementos mais promissores do hidrogênio branco é a sua vantagem de custo em relação a outras formas de hidrogênio, como cinza, azul e verde, devido à sua ocorrência natural.

Segundo a Rystad, o hidrogênio cinza, produzido a partir de combustíveis fósseis, custa em média menos de 2 dólares por quilograma (kg), enquanto o verde, produzido a partir de eletricidade renovável, é atualmente mais de três vezes mais caro.

Enquanto isso, a empresa canadense Hydroma já extrai hidrogênio branco a um custo estimado de US$ 0,5 por kg. Projetos na Espanha e Austrália visam um custo de cerca de 1 dólar por kg, solidificando a competitividade de preços do hidrogênio branco.

Além da vantagem de custo, o hidrogênio geológico também pode ter baixa intensidade de carbono.

Com um teor de hidrogênio de 85% e contaminação mínima por metano, a intensidade de carbono é de cerca de 0,4 kg de equivalente de dióxido de carbono (CO2e) por kg de gás hidrogênio (H2) – incluindo emissões incorporadas e emissões de hidrogênio. Com 75% de hidrogênio e 22% de metano, a intensidade sobe para 1,5 kg CO2e por kg H2.