Biocombustíveis

Parceria vai investir em SAF de biogás e hidrogênio no Paraná

Com previsão de começar a funcionar em meados de 2023, planta piloto conta com investimentos na ordem de R$ 9 milhões

Parceria vai investir em SAF de biogás e hidrogênio no Paraná
Em termos técnicos, todas as aeronaves que utilizam querosene de aviação (Jet-A ou Jet-A1), podem ser abastecidas com SAF em misturas com o combustível fóssil (Foto: EiDA/Divulgação)

RECIFE — A Agência Técnica de Cooperação Alemã GIZ e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) anunciaram na última semana uma planta piloto para produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) a partir de biogás e hidrogênio verde em Foz do Iguaçu, no Paraná.

Com previsão de começar a funcionar em meados de 2023, o projeto conta com investimentos na ordem de R$ 9 milhões. A produção será em escala laboratorial, mas a proposta é desenvolver um modelo que possa ganhar escala e ter os processos replicados.

Outro produto da biorrefinaria piloto será o petróleo sintético renovável.

“Uma vez que todo o território brasileiro tem disponibilidade de biomassa residual, a solução proposta pelo projeto pode ser replicada em todo o país, oferecendo uma oportunidade para a produção descentralizada de combustíveis neutros em carbono”, comenta Markus Francke, diretor do projeto H2Brasil da GIZ.

Para o executivo, o Brasil pode se apresentar como líder na transição energética.

Um levantamento da RSB (mesa redonda sobre biomateriais sustentáveis) identificou no Brasil um potencial para produção de até 9 bilhões de litros de SAF a partir de resíduos.

Isso é mais do que a produção nacional de querosene fóssil. Em 2019, antes da pandemia de covid-19, o Brasil produziu pouco mais de 6 bilhões de litros de querosene de petróleo, de acordo com a ANP.

E o Paraná está entre os maiores centros potenciais de produção de biogás e biometano no país, devido à influência da indústria agropecuária na economia.

A participação do estado no projeto se estenderá com a parceria da Fundação Araucária, Universidade Federal do Paraná (UFPR) e com o apoio do Núcleo de Pesquisas em Hidrogênio do Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e Itaipu Binacional.

O PTI abrigará a planta piloto, e a expectativa é de que sejam criados polos de hidrogênio verde em regiões com excedentes de energia renovável e uma nova rota de aproveitamento energético do biogás.

“O Paraná tem enormes possibilidades de se transformar em um ator muito importante nas questões ligadas à produção do hidrogênio verde a partir da biomassa”, destaca Ramiro Wahrhaftig, presidente da Fundação Araucária.

Segundo a GIZ, a substituição do carbono pelo uso do biogás, combinando com o hidrogênio verde, cria uma nova rota tecnológica para fontes alternativas de energia — mas ainda não há uma estimativa sobre a competitividade, ou não, em relação a outras rotas do SAF.

Já em termos técnicos, todas as aeronaves que utilizam querosene de aviação (Jet-A ou Jet-A1), podem ser abastecidas com o SAF de biogás em misturas com o combustível fóssil.

SAF para descarbonizar a aviação

A aviação internacional tem meta de zerar as emissões de carbono até 2050 e, para alcançar o objetivo, 65% das reduções devem vir dos combustíveis sustentáveis de aviação, estima a Associação Internacional de Transportes Aéreos.

O setor é responsável por cerca de 11% das emissões globais de CO2 dos transportes. Isso representa cerca de 1 bilhão de toneladas de CO2 por ano.

No Brasil, as emissões da aviação somam quase 17 milhões de toneladas de CO2, o equivalente a 4% das emissões totais do país.

Em novembro do ano passado, o país deu os primeiros passos para regulamentar o SAF, com a aprovação da lei que cria o Programa Nacional de Bioquerosene. O marco legal prevê estímulos à produção e uso de combustível sustentável de aviação por meio de incentivos fiscais concedidos pelo Executivo, além da destinação de recursos de agências e bancos de fomento federais.

Governo e Congresso Nacional agora discutem uma política para criar demanda e desenvolver essa nova indústria.

Alemanha anuncia € 34 milhões para hidrogênio verde no Brasil

A GIZ também está investindo em hidrogênio verde no Brasil. Em outubro passado, a agência alemã anunciou 34 milhões de euros para o desenvolvimento de projetos de produção de hidrogênio renovável.

A inciativa chamada H2 Brasil prevê a disponibilização dos recursos ao longo dos próximos dois anos para a construção de uma planta piloto de eletrólise com capacidade de 5 MW.

Além disso, o governo alemão espera colaborar na instituição de um marco regulatório de H2V no país, dando prosseguimento ao Programa Nacional de Hidrogênio do Ministério de Minas e Energia.

Outro objetivo da H2 Brasil é gerar um cluster de projetos pilotos na cadeia de hidrogênio que permita estudar a viabilidade econômica desses projetos.