Energia

O que está em jogo na possível parceria estratégica entre Petrobras e Unigel

Empresas avaliam negócios conjuntos em fertilizantes, hidrogênio verde e projetos de baixo carbono

Unigel amplia projeto de hidrogênio verde na Bahia e prevê US$ 1,5 bi até 2027. Na imagem: Instalações da unidade da Unigel em Camaçari (Foto: Divulgação)
Unidade da Unigel em Camaçari (Foto: Divulgação)

RIO — Petrobras e Unigel mantêm negociações sobre o preço do gás natural, em busca de uma solução para a continuidade das operações das fábricas de fertilizantes do Nordeste.

A relação comercial entre fornecedor-cliente da matéria-prima das fafens pode avançar, contudo, para uma parceria estratégica – tanto no setor de nitrogenados quanto em outros negócios, como hidrogênio verde.

A Petrobras informou nesta terça (6/6) que iniciou discussões com a Unigel para analisar negócios conjuntos em fertilizantes, hidrogênio verde e projetos de baixo carbono. As companhias assinaram acordo de confidencialidade, não vinculante, de dois anos.

As duas empresas estão hoje intimamente ligadas no negócio de fertilizantes no Brasil e mantêm entre si alguns pontos de contato que podem convergir para futuras parcerias.

Relação estreita. As fafens de Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA) pertencem à Petrobras, mas foram arrendadas em 2020 para a Unigel no governo de Jair Bolsonaro (PL), em contratos de dez anos, renováveis por mais dez.

A estatal chegou a hibernar as duas fábricas em 2019 e as unidades só voltaram a operar em 2021, quando a Unigel assumiu as operações dos ativos.

A Petrobras é também uma das principais fornecedoras – não a única – do gás usado como matéria-prima na produção dos fertilizantes nitrogenados em Sergipe e na Bahia.

Em crise, Unigel pede renegociação de preços

A Unigel alega que as operações da planta de Sergipe passaram a ficar inviáveis depois da queda do preço da ureia no mercado internacional e pede um gás mais barato. Os preços da molécula  também caíram este ano, mas não na mesma intensidade que o dos fertilizantes.

No fim de junho, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, descartou a possibilidade de subsídio para retomada de plantas sob controle da Unigel.

A empresa do setor químico reduziu o ritmo das atividades de manutenção da unidade de Sergipe enquanto aguarda as negociações com a Petrobras.

Em crise financeira, a Unigel atrasou pagamentos a pequenos fornecedores e adiou o projeto de produção de ácido sulfúrico na Bahia para 2024.

Em paralelo, contratou a Moelis & Company para assessorá-la em um processo de reestruturação financeira. O intuito do grupo é evitar uma recuperação judicial, mas esse risco já aparece no radar de bancos credores.

Em maio, o secretário executivo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Sergipe, Marcelo Menezes, conversou com o estudio epbr sobre o mercado de gás e a crise da Unigel. Confira na íntegra:

Novas oportunidades. Petrobras e Unigel mantêm interesses comuns no desenvolvimento de novos negócios – e não só no setor de fertilizantes.

A empresa do setor químico já manifestou em 2022, antes de entrar em crise, interesse na fafen de Três Lagoas (MS), projeto inacabado da Petrobras.

Já a petroleira tem intenção de entrar no negócio de hidrogênio verde – e a Unigel está em busca, justamente, de um sócio para o seu projeto de H2V na Bahia, de US$ 1,5 bilhão.

A nova Petrobras

Depois de se afastar do segmento, nas gestões passadas, a Petrobras passa por um momento de revisão geral do seu posicionamento.

Sob nova direção, a empresa está debruçada sobre a revisão de seu planejamento estratégico. O presidente da companhia, Jean Paul Prates, tem manifestado a intenção da petroleira de diversificar suas áreas de negócios (biorrefino, eólicas offshore e hidrogênio, por exemplo), de olho na transição energética.

O plano é fortalecer a Petrobras como uma empresa integrada de energia e retomada das operações em fertilizantes é uma das opções dentro desse caldeirão de possibilidades.

A operação de fafens no Brasil, contudo, é historicamente desafiadora do ponto de vista econômico. Exige preços bastante competitivos para o gás natural. Nas gestões passadas, durante o governo Bolsonaro, a Petrobras decidiu fechar as unidades por falta de retorno.

Ao comentar sobre a desativação da fábrica de Araucária (PR), o então presidente da estatal, Roberto Castello Branco, chegou a dizer que o ativo “funcionava como um relógio suíço: todo ano dava prejuízo”.

Este ano, a Petrobras cancelou a venda da planta de Três Lagoas (MS), que a companhia tentou duas vezes vender, sem sucesso. A petroleira, no entanto, ainda não revelou qual será a estratégia da petroleira para o setor.

Unigel mantém interesse. A construção da UFN-III teve início em setembro de 2011, mas foi interrompida em dezembro de 2014, com avanço físico de cerca de 81%.

A conclusão do projeto é encarada como prioridade hoje dentro do governo. A oferta de gás natural competitivo para a indústria de fertilizantes é uma das prioridades do programa Gás para Empregar, em discussão no governo.

O diretor de compras da Unigel, Luiz Antônio Nitschke, afirmou, em maio, que a companhia ainda tem interesse numa eventual compra da unidade de Três Lagoas, se houver entendimento sobre a redução do preço do gás no Brasil.

“Manifestamos o interesse num momento diferente. Se houver um gás competitivo, a Unigel tem capacidade de finalizar a construção e botar a planta para operar. Neste momento, com uma situação desfavorável, não vamos dar nenhum passo nessa direção”, disse, na ocasião.