Com foco na redução da pegada de carbono da mineração nacional — de olho na competitividade futura da produção — o Chile está desenvolvendo uma estratégia para o hidrogênio focada na produção renovável.
E traça uma meta ambiciosa: produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo em dez anos, afirma o ministro de Minas e Energia do Chile, Juan Carlos Jobet, em entrevista à epbr.
“Nosso objetivo é ter 5 GW de capacidade de eletrólise em desenvolvimento até 2025, produzir o hidrogênio verde mais barato do planeta até 2030 e estar entre os três maiores exportadores até 2040”, diz.
No planejamento do país, o hidrogênio verde (H2V) é um dos pilares do plano de neutralidade de emissões.
“O hidrogênio verde representa 20% da solução que vamos promover para alcançar a neutralidade em carbono até 2050. [Ele] promete ser uma das soluções mais eficientes para limpar setores difíceis de descarbonizar, como a mineração, o transporte, a calefação, entre outros”, explica Jobet.
Diferente do Brasil, que no Plano Nacional do Hidrogênio (PNH2) indica a abertura de múltiplas rotas para produção H2, incluindo de fonte fósseis, como o gás natural, o governo do Chile tem sinalizado ao mercado que a aposta é hidrogênio verde, produzido a partir de fontes renováveis, como a geração de energia eólica.
O plano foi consolidado na Estratégia Nacional de Hidrogênio Verde, lançada em 2020. Veja a íntegra (.pdf)
“Nossa estratégia contempla o desenvolvimento desse combustível em diferentes etapas. Na primeira, buscamos que o hidrogênio produzido seja utilizado por nossas indústrias-chave, de forma que elas possam diminuir sua pegada de carbono e ganhar competitividade”, diz.
“Assim que a indústria estiver consolidada, poderemos exportar o hidrogênio”.
Descarbonização da mineração com hidrogênio verde
Para facilitar a implementação de projetos pilotos na mineração, o governo chileno deu mais um passo, e lançou no mês passado um guia (.pdf) específico para desenvolvimento de projetos de H2V no setor.
O documento propõe um passo a passo para empresas apresentarem seus projetos de hidrogênio verde e critérios pelos quais serão avaliados.
“Isso ajuda a reduzir as incertezas do mercado para acelerar a execução de projetos de hidrogênio verde e seus derivados, bem como reduzir a complexidade associada ao desenvolvimento de novos projetos”, diz o ministro.
Ele explica que Antofagasta, no norte do Chile, é uma das regiões onde os projetos de hidrogênio verde estão concentrados.
“Destaca-se o projeto Atacama Hydrogen HUB, projeto associado ao Complexo Portuário de Mejillones , que visa desenvolver uma instalação de hidrogênio verde para fornecer trens de hidrogênio para o transporte de produtos associados à indústria de mineração”.
“As fases posteriores do projeto seriam voltadas para a produção em grandes quantidades de derivados verdes do hidrogênio para exportação”, exemplifica.
Atualmente, o Chile é o maior produtor global de lítio e de cobre, minerais essenciais para a produção de baterias, cada vez mais importantes num cenário de transição energética — não apenas para a mobilidade, mas também para suporte à geração de energia renovável e intermitente.
O setor de mineração responde por 16% do PIB chileno e mais da metade das exportações do país.
A estratégia chilena se assemelha ao plano de Minas Gerais, o Minas de Hidrogênio, que prevê num primeiro momento a produção de H2V para descarbonização da indústria local do estado.
Isso garantiria o acesso a mercados cada vez mais exigentes, como o europeu, que deverá em breve taxar o carbono sobre produtos importados.
“A mineração está migrando para processos de produção mais limpos e verdes, que agregam valor e a tornam mais competitiva. Nesse contexto, a incorporação do hidrogênio verde na mineração em substituição aos combustíveis fósseis é uma grande oportunidade para continuar avançando em direção a uma mineração mais sustentável”, afirma Jobet.
Substituição de diesel e testes no mercado de aviação
Responsável por 5 a 7% das emissões globais de gases do efeito estufa, a mineração vem investindo em maneiras de reduzir a pegada de carbono das suas operações.
O maior desafio é a substituição de combustíveis fósseis utilizados nos grandes caminhões, que são responsáveis por quase 50% das emissões diretas de CO2 das companhias.
O ministro acredita que o hidrogênio verde permitirá substituir o óleo diesel.
“Em 2050, esperamos que um terço dos caminhões de mineração operem com hidrogênio verde gerado localmente. A mineração terá um papel muito importante no desenvolvimento desta nova indústria”, ressalta.
O pontapé inicial foi dado em agosto pela mineradora Anglo American que produziu a primeira molécula de H2V utilizada na mineração em grande escala no Chile, permitindo a operação do primeiro veículo a utilizar esse combustível no país.
A planta de H2V da Anglo foi construída na mina Las Tórtolas, nos arredores de Santiago.
O Chile já conta com mais de 60 projetos em desenvolvimento, entre eles o Haru Oni, de produção de combustíveis sintéticos, que combina eólica, eletrólise e captura de carbono. É uma parceria entre Siemens Energy, ExxonMobil, Enel e Porsche.
Há também dois projetos que estudam produzir hidrogênio verde e criar uma estação de reabastecimento de hidrogênio para os ônibus que transportam os trabalhadores para as minas, a partir de 2022.
Um da Copec em parceria com a GIZ – Agência Alemã de Cooperação Internacional; e outro da Air Liquide.
Além disso, Jobet anunciou recentemente um plano para que o aeroporto de Santiago seja o primeiro da América Latina a permitir o uso de aviões movidos a hidrogênio verde, tanto para transporte de passageiros quanto de carga.