A Comissão Europeia aprovou, nesta terça-feira (30/1), 550 milhões de euros para que a Itália apoie investimentos na utilização de hidrogênio renovável em processos industriais, em substituição aos combustíveis fósseis.
A decisão está alinhada com o REPowerEU e o Plano Temporário de Crise, ambas iniciativas da União Europeia para reduzir a dependência do óleo e gás russos, que no caso italiano responde como a segunda maior fonte energética do país.
No ano passado, o Conselho Europeu também adotou a Diretiva de Energias Renováveis (RED) que estabeleceu a meta obrigatória de que 42% de todo o hidrogênio utilizado em processos industriais seja proveniente de combustíveis renováveis de origem não biológica (RFNBOs) até 2030, antes de aumentar para 60% até 2025.
“Este regime italiano de 550 milhões de euros ajudará as indústrias a descarbonizar significativamente os processos industriais que dependem da mudança para o hidrogênio para a sua transição verde”, afirmou Margrethe Vestager, vice-presidente executiva responsável pela política de concorrência da Comissão.
“A medida também ajudará a Itália a reduzir a sua dependência de combustíveis fósseis importados, em linha com o Plano REPowerEU, e a garantir uma mudança total para o hidrogénio até 2036 em todos os investimentos apoiados”, completou.
Como vai funcionar?
Os recursos aprovados pela Comissão serão disponibilizados via subvenções de investimento dentro do Plano Nacional Italiano de Recuperação e Resiliência (PNRR), criado para estimular a economia, após os efeitos da pandemia do covid-19 que causaram uma enorme crise no país.
São elegíveis as empresas que dependem da utilização de combustíveis fósseis como fonte de energia ou matéria-prima para os seus processos de produção nos setores industriais na Itália, a exemplo de indústrias de fertilizantes, aço e cimento. Cada projeto poderá acessar até 200 milhões de euros, até o fim de 2025.
Segundo as regras da iniciativa, a utilização do hidrogênio deve representar pelo menos 40% do total das fontes energéticas, desde o início da fase operacional dos projetos, e pelo menos 75% do total de consumo de energia até 2032, chegando a 100% até 2036.
As indústrias que substituírem os fósseis por hidrogênio renovável também deverão reduzir as emissões de gases com efeito de estufa provenientes dos seus processos produtivos em pelo menos 40%, ou diminuir o consumo de energia em no mínimo 20%. Além disso, os beneficiários não poderão aumentar a sua capacidade de produção além de 2%.
Os investimentos também poderão ser combinados para a adoção de eletrificação nos processos e melhoria da eficiência energética.
Itália busca por supridores de hidrogênio
A agência de fomento ao comércio exterior do Ministério da Economia e Finanças da Itália (Sace) avalia apoiar a compra de minerais críticos e hidrogênio do Brasil, segundo disse a diretora do órgão, Michal Ron, em entrevista à agência epbr.
Os bens integram a lista do programa de “garantia estratégica de importação” da agência, que cobre parte dos empréstimos a fornecedores estrangeiros de matérias-primas e produtos estratégicos para a segurança energética e industrial da Itália.
“Em termos de fornecimento de fontes de energia, poderia ser gás e outras formas do Brasil. Mas devo dizer que o hidrogênio está na nossa lista de importações estratégicas, por isso, não há absolutamente nada que nos impeça de fazer exatamente isso. E trabalharemos nessa frente também”, disse Michal Ron.
A estratégia italiana para o hidrogênio prevê, até 2030, atingir uma participação de 2% do combustível de baixo carbono no consumo final de energia, incluindo aplicações em transporte de mercadorias de longa distância, indústria pesada, refinarias e mistura na rede de gás. Até 2050, a meta passa para 20%.
Para suprir essa demanda, está prevista a instalação de 5 GW de capacidade doméstica de eletrólise até o fim da década. O plano também considera que parte do hidrogênio verde poderia ser integrado com as importações, como de hidrogênio com baixo teor de carbono, a exemplo do hidrogênio azul.
Gasoduto de hidrogênio vindo do Norte da África
O país também poderia funcionar como um hub de distribuição de hidrogênio para outros países da Europa, uma vez que já possui conexões de gasodutos com países do Norte da África – potenciais candidatos a grandes produtores de hidrogênio verde.
Na semana passada, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, destacou a importância do papel da África no fornecimento energético para a Europa, durante evento que celebrava a cooperação do país com o continente africano.
“O interesse que a Itália persegue é ajudar as nações africanas interessadas em produzir energia suficiente para as suas necessidades e exportar o excedente para a Europa, reunindo duas necessidades. A africana é desenvolver esta produção e gerar riqueza, e a europeia é garantir novas rotas de abastecimento de energia”, disse a política.
Ela destacou o projeto de um gasoduto de hidrogênio renovável que ligará o Norte da África à Itália, e depois à Alemanha e à Áustria, o SouthH2 Corridor.
“Mas é claro que este intercâmbio funciona se também existirem infra-estruturas de ligação entre os dois continentes e já há algum tempo que trabalhamos nisso, especialmente em conjunto com a União Europeia. Estou falando da interligação elétrica ELMED entre Itália e Tunísia, ou no novo H2 Corredor Sul para o transporte de hidrogênio do Norte de África para a Europa Central através de Itália”, pontuou.
O projeto de 3.300 km terá uma capacidade de importação de hidrogênio de mais de 4 milhões de toneladas por ano. Com isso, o gasoduto poderá atingir 40% da meta de importação de hidrogênio da UE definida para 2030.