O hidrogênio de baixa emissão de carbono, também conhecido como hidrogênio limpo, vem ganhando espaço como uma das apostas mais promissoras na transição energética mundial.
Ao lado de fontes como solar, eólica e biocombustíveis, ele se consolida como alternativa estratégica para descarbonizar setores de difícil eletrificação, como transporte de longa distância, aviação, indústria pesada e química.
Estudo da McKinsey & Company estima que o mercado de hidrogênio no Brasil possa movimentar mais de US$ 15 bilhões por ano até 2040, considerando apenas a demanda interna.
O Brasil, com sua matriz majoritariamente renovável e capacidade de produção competitiva, está naturalmente posicionado para liderar esse novo mercado. No entanto, para transformar esse potencial em realidade concreta, não basta focar apenas na geração.
É essencial avançar também na construção de uma infraestrutura logística robusta e de marcos regulatórios claros e modernos que viabilizem o transporte, o armazenamento e a certificação do hidrogênio de forma segura, eficiente e economicamente sustentável.
Hoje, um dos maiores desafios do hidrogênio é o custo e a complexidade de seu transporte.
Nesse cenário, soluções inovadoras como o Liquid Organic Hydrogen Carrier (LOHC) representam um divisor de águas, já que permite que o hidrogênio seja transportado utilizando a infraestrutura já existente de combustíveis líquidos, como oleodutos e terminais de refino, eliminando a necessidade de grandes investimentos em novos dutos ou tanques criogênicos.
A tecnologia — já adotada por líderes do setor energético como a Eneos no Japão — reduz barreiras logísticas e acelera a integração do hidrogênio limpo na matriz energética de países com dimensões continentais, como o Brasil.
O país deu um passo relevante com a sanção do Marco Legal do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, que criou mecanismos importantes, como o Regime Especial de Incentivos (Rehidro) e o Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio (PHBC).
Além disso, a criação do Sistema Brasileiro de Certificação do Hidrogênio (SBCH2) é crucial para garantir transparência, rastreabilidade e competitividade internacional, fatores essenciais para ampliar exportações e atrair investimentos.
Entretanto, é necessário avançar na implementação prática dessas políticas, garantindo agilidade regulatória, definição de padrões técnicos e criação de incentivos para o desenvolvimento de infraestrutura de transporte e armazenamento, inclusive aproveitando modelos inovadores como o LOHC.
O Brasil tem todas as condições para ser um dos líderes globais da economia do hidrogênio, mas, para que isso não fique somente no papel, é fundamental uma coordenação eficiente entre governo e iniciativa privada. Além da promoção de parcerias internacionais estratégicas e a adoção de tecnologias que viabilizem o transporte seguro e competitivo do hidrogênio.
Com ação rápida e visão de longo prazo, podemos transformar essa oportunidade em uma alavanca de crescimento sustentável para o país e para a transição energética mundial.
Este artigo expressa exclusivamente a posição do autor e não necessariamente da instituição para a qual trabalha ou está vinculado.
José Fernandes é CEO da Honeywell para a América Latina.