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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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“O Brasil tem uma grande chance de promover uma neoindustrialização a partir da transição energética. É muito importante que a gente tenha boas regulamentações para isso”, resume o secretário de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg.
Em entrevista à agência epbr, ele lista o marco das eólicas offshore, o Plano Nacional do Hidrogênio e o programa Combustível do Futuro como políticas já em andamento que podem criar diferenciais competitivos para o Brasil.
É parte da agenda legislativa prevista para o segundo semestre, após a aprovação da reforma tributária na Câmara dos Deputados, meta do governo federal.
“Eólica offshore acho que está mais adiantado porque tem um projeto aprovado no Senado, que está na Câmara, já tem 73 pedidos de licença no Ibama de grandes empresas interessadas em eólica offshore. São investimentos que precisam de regulamentação”.
Segundo o secretário, os investidores estão mais interessados em uma regulamentação do que em subsídios.
“Então, eu tenho trabalhado junto ao Ministério do Meio Ambiente, Minas e Energia e com a Casa Civil para que os ministérios possam fazer os ajustes que considerarem necessários no projeto para que ele possa ser apreciado e aprovado”.
Uma coisa leva à outra
Os projetos de eólicas offshore em licenciamento – e aguardando a definição política de como será a cessão de área – estão concentrados próximos aos portos e, muitos deles, associados a projetos de hidrogênio verde.
O hidrogênio verde – ou de baixo carbono – será um insumo fundamental para produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) e diesel verde, objetos do projeto de lei do Combustível do Futuro.
“É importante, além de olhar a exportação do hidrogênio, ter um planejamento para atrair a cadeia de suprimentos, mas sobretudo, atrair as empresas intensivas em energia para produzir com baixa pegada de carbono”, defende Rollemberg.
“E aí você já tem que pensar na adaptação das retroáreas dos portos. Vai crescer muito o conceito de porto-indústria”.
Etanol e biometano
Além da eletrólise, a política de hidrogênio deve olhar para tecnologias a partir da reforma do etanol e do biometano, olhando para o futuro do transporte no Brasil.
“Como já temos uma logística de distribuição do etanol no Brasil, fazer a reforma do etanol descentralizada, tem os postos de gasolina, pode ser uma alternativa futura para o Brasil”.
O hidrogênio de baixo carbono é apontado ainda como uma alternativa para reduzir a dependência brasileira de fertilizantes nitrogenados importados.
“Isso tudo oferece oportunidades de industrialização. A própria energia fotovoltaica também é uma grande oportunidade, por exemplo, para você resolver problemas de descarbonização na região amazônica, que hoje utiliza muito o óleo diesel”.
Combustível do Futuro
No SAF, o Brasil pode se posicionar como um fornecedor global de um combustível que verá a demanda saltar de pouco mais de 300 milhões de litros em 2022, para cerca de 20 bilhões de litros em 2030, segundo estimativas da indústria.
A partir de 2027, o transporte aéreo internacional precisará cumprir um acordo de descarbonização que prevê o uso de combustíveis de baixo carbono (Corsia) – uma oportunidade que o Brasil precisa aproveitar, diz Rollemberg.
“Um país do tamanho do Brasil, que tem rotas de aviação fortes, é imperativo que tenha produção de combustível sustentável de aviação”.
Captura de carbono
A regulamentação da atividade de captura e armazenamento de carbono está prevista no Combustível do Futuro – a minuta do PL está na Casa Civil – e tem potencial de gerar até US$ 20 bilhões em receitas às empresas brasileiras, com a aprovação do mercado de carbono regulado, calcula a CCS Brasil.
“A lei do mercado de regulado de carbono não define as tecnologias, define a redução de emissões. Se uma siderúrgica que emite muito carbono quiser desenvolver tecnologias de captura e estocagem de carbono, ela vai estar reduzindo suas emissões e vai cumprir as metas. Se ela ficar abaixo da meta, vai gerar crédito e vai negociar esses créditos”.
E como financiar tudo isso?
China, Estados Unidos e União Europeia se posicionam na corrida pela transição ecológica com subsídios e outras formas de incentivo à indústria local.
No Brasil, o Ministério da Fazenda trabalha em um plano de transição ecológica, prometido para agosto, mas, por enquanto, sem detalhes.
Rollemberg afirma que o caminho brasileiro deve passar pelas instituições de fomento, como BNDES e Finep, que podem conceder empréstimos a melhores taxas para atrair investimentos do setor privado.
“Todos os instrumentos que nós tivermos disponíveis devem ser utilizados para financiar a inovação”, completa. Além do próprio mercado de carbono, que o governo espera aprovar antes da COP28.
Leia na entrevista: Ambiente político é ‘muito favorável’ à aprovação do mercado regulado de carbono, avalia Rollemberg
Cobrimos por aqui:
- Hidrogênio e eólicas offshore: mercado quer ‘sinalizações fortes’ do governo
- Que fim levou o Combustível do Futuro?
- O Brasil vai entrar na corrida pela economia verde?
- Como as empresas brasileiras estão migrando para a economia verde
Artigos da semana
— Estados e municípios começam a usar incentivos fiscais para hidrogênio verde Iniciativa ainda é tímida, mas demonstra interesse em reduzir ou neutralizar as emissões de carbono, escrevem João Paulo Cavinatto, Rafaela Canito e Gabriela Cavalcanti
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