RIO — Comandada por executivos com experiência na viabilização de financiamento de projetos do tipo na Europa e no Brasil, a H2Brazil anunciou, na última quinta (22/5), a intenção de tirar do papel dois grandes empreendimentos de produção de hidrogênio verde e derivados no Brasil.
Um deles é uma planta de R$ 7,8 bilhões na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Uberaba (MG), para atender a um cluster de indústrias locais, e outra uma planta de e-metanol no Porto do Açu (RJ), focada na demanda por combustíveis sintéticos da União Europeia.
Em entrevista à agência eixos, a COO da H2Brazil, Nathália Ervedosa, afirmou que a planta mineira conseguirá produzir hidrogênio verde a um custo mais baixo do que o hidrogênio cinza, obtido a partir de gás natural — como é convencionalmente produzido hoje.
A promessa se ancora na oferta abundante de energia renovável barata e infraestrutura disponível.
“Conseguimos chegar a um hidrogênio verde a um custo menor que o hidrogênio cinza”, disse Ervedosa.
A unidade também é projetada para produzir e-metanol e amônia verde, com parte da produção voltada à indústria local e o excedente exportado via Porto do Açu, segundo a executiva.
O porto é considerado estratégico por ser um “corredor verde” logístico entre o Brasil e os portos de Hamburgo, Roterdã e Antuérpia — principais hubs de importação europeus.
O projeto mineiro terá capacidade instalada de até 820 MW até 2030 e será financiado em parte por fundos da União Europeia e do governo de Portugal, além de recursos de fundo voltados para venture capital (capital de risco), que destina recursos financeiros a empresas em fase inicial.
Ervedosa foi uma das responsáveis por atrair o projeto de hidrogênio verde Green Energy Park (GEP) para o Piauí. Em 2024, a presidente da Comissão Europeia confirmou o aporte de 2 bilhões de euros para financiar o projeto.
Além disso, o projeto da Green Energy Park em parceria com a Vale para abastecer um hub de produção de hot-briquetted iron “verde” (HBI ou ferro-esponja) foi incluído na lista prioritária do programa Global Gateway da União Europeia (UE).
Vale do hidrogênio verde em Uberaba
A expectativa da empresa é que o projeto em Minas Gerais inicie a produção das primeiras moléculas já em 2027.
O projeto se soma ao da Atlas Agro, que produzirá fertilizantes verdes também em Uberaba, e contribui para posicionar o município como potencial polo nacional de hidrogênio verde.
A proximidade com o agronegócio, a boa logística rodoviária para escoamento dos produtos e a abundância hídrica e de geração renovável são considerados diferenciais estratégicos.
“Queremos não apenas exportar commodities, mas agregar valor localmente. Queremos atender a um cluster industrial de indústrias cimenteiras, de aço, mineradoras, e agronegócio da região, além de empregar mão de obra local”, afirmou Ervedosa.
Ela detalha que a Cemig, além de garantir a energia renovável a um custo baixo para o projeto, também será parceira em estudos técnicos para garantir o acesso à rede de transmissão. A ideia é evitar entraves como os enfrentados por projetos no Nordeste, que receberam negativas do ONS (Operador Nacional do Sistema) por falta de capacidade na rede.
No caso de Uberaba, a diretora de operações adianta que “já existe a capacidade para conexão” e que o estudo será apenas para maior detalhamento.
Corredor verde do Açu
No litoral norte do Rio de Janeiro, o Porto do Açu desponta como um hub de empreendimentos para transição energética. A H2Brazil será a próxima ocupante da primeira área de 1 milhão de metros quadrados dedicada a projetos de baixo carbono no complexo porto-indústria.
Mauro Andrade, diretor da Prumo Logística — controladora do porto —, destacou à agência eixos a urgência de uma regulamentação clara e alinhada com os critérios internacionais, especialmente os exigidos pela União Europeia no programa RED III, que define os parâmetros de sustentabilidade para o hidrogênio renovável.
“Não podemos esperar mais dois anos por uma regulamentação. Isso inviabilizaria o FID [decisão final de investimento] de vários projetos e comprometeria metas climáticas para 2030”, afirmou Andrade.
Segundo ele, também será preciso rever os incentivos previstos. A avaliação do executivo é que o montante de subsídios previstos na lei é “insuficiente para a quantidade de projetos de hidrogênio no Brasil”.
Na unidade do Açu, a H2Brazil planeja a produção de combustíveis sintéticos, como o e-metanol, voltados principalmente para a descarbonização do setor marítimo.
A empresa avalia rotas tecnológicas variadas — uso de CO2 biogênico, etanol de milho e hidrogênio verde — e trabalha com a hipótese de transportar os produtos em navios abastecidos com o mesmo combustível sustentável.
Do Vale do Sines ao Triângulo Mineiro
A ambição da H2Brazil no país também tem como pano de fundo a trajetória de seu CEO, Pedro Caçorino. O executivo liderou, em Portugal, o projeto HEVO-Sines, um dos 33 selecionados pela Comissão Europeia no programa IPCEI Hy2Infra, que seleciona projetos de interesse estratégico para o bloco.
A iniciativa, de € 650 milhões e 630 MW, foi a primeira de larga escala do país, com produção anual estimada de 62 mil toneladas de hidrogênio renovável.
Parte dessa produção abastecerá a indústria portuguesa, enquanto outra parcela será exportada para Roterdã, replicando um modelo semelhante ao que agora se desenha entre Uberaba, no Triângulo Mineiro, o Açu, no Rio de Janeiro, e a Europa.
Segundo a diretora de operações, a empresa também deverá participar do leilão global para compra de derivados de hidrogênio renovável, o H2Global, promovido com recursos da Alemanha e dos Países Baixos, e nesta segunda edição possui um bloco regional voltado para a América do Sul e Austrália.
“Somos elegíveis para o H2Global e o Global Gateway, e seguimos estritamente os critérios do RED III”, reforçou Ervedosa.