Hidrogênio em foco

"Green, baby, green!": Europa reforça papel do hidrogênio na sua estratégia

Europa avança mostrando que a transição para uma economia verde não é apenas viável, mas essencial para a própria economia

Vista das instalações da usina de hidrogênio verde da Iberdrola no município de Puertollano (Espanha) para a produção industrial de amoníaco e fertilizantes livres de emissões (Foto Reprodução Iberdrola)
Instalações da usina de hidrogênio verde da Iberdrola no município de Puertollano (Espanha) para a produção industrial de amoníaco e fertilizantes livres de emissões (Foto Reprodução Iberdrola)

“Vamos nos reafirmar no “Green, baby, green”, disse esta semana o presidente do Governo da Espanha, Pedro Sanchez, ao anunciar 400 milhões de euros para estimular projetos de hidrogênio verde no país — que deve ser um hub de produção e exportação do energético renovável para o próprio continente. 

A afirmação faz uma alusão ao slogan “Drill, baby, drill”, repetido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, entre as suas primeiras ações ao assumir o governo, decretou emergência energética nacional, com o objetivo de impulsionar a exploração e produção de óleo e gás. 

Medida esta acompanhada da suspensão dos incentivos a projetos verdes dentro da Lei de Redução da Inflação (IRA), e da saída dos EUA do Acordo de Paris

Se, por lá, Trump vê as energias renováveis como um empecilho à economia, na União Europeia, elas significam diversificação de supridores energéticos, e desenvolvimento e descarbonização da sua indústria, em ambos os casos, com o hidrogênio verde cumprindo um papel essencial. 

Um novo Norte

Um dia antes do discurso de Sanchez, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen anunciou uma nova estratégia, batizada de Bússola da Competitividade (The Competitiveness Compass)

A iniciativa espera impulsionar a economia do bloco, em grande parte, por meio da redução da dependência energética, em especial do gás da Rússia, que durante décadas foi o principal excedente de energia do bloco.

A nova estratégia inclui a criação de Parcerias de Comércio e Investimento Limpo, que visam garantir o fornecimento de matérias-primas e tecnologias essenciais para a descarbonização, como o hidrogênio verde, e deve trazer ainda mais dinâmica aos acordos comerciais que a UE já possui com 76 países.

A Comissão também propôs um Acordo Industrial Limpo para recompensar os primeiros investidores em tecnologias verdes e acelerar a transição de setores intensivos em energia, como siderurgia, metais e produtos químicos, onde o hidrogênio deverá ter um papel-chave.

Além da descarbonização da indústria, a própria cadeia de produção de hidrogênio verde movimenta os países em que a UE já é líder e que, segundo os anseios do bloco, pretende manter no topo, resistindo ao avanço chinês.

“Já somos líderes mundiais em tecnologias limpas, como turbinas eólicas, eletrolisadores e combustíveis de baixo carbono. Mais de um quinto das tecnologias limpas do mundo são desenvolvidas aqui mesmo na Europa. Portanto, temos que trabalhar duro para permanecermos em primeiro lugar”, disse von der Leyen.

Avanços na malha de gasodutos para hidrogênio 

A semana também marcou alguns avanços em dois projetos ambiciosos que facilitarão a cooperação entre países europeus, reforçando o sistema energético do continente, como os gasodutos dedicados ao hidrogênio.

O H2Med —  que conecta Espanha, Portugal, França e Alemanha — e o SoutH2 Corridor, que pretende conectar o Norte da África à Europa, com uma rede ligando a Argélia à Itália, passando pela Áustria, até chegar à Alemanha. 

A Comissão Europeia deu sinal verde para alocar mais de € 250 milhões em subsídios do Connecting Europe Facility (CEF) para 21 estudos de desenvolvimento de infraestrutura de hidrogênio.

Os subsídios são destinados a projetos na Áustria, Bélgica, República Tcheca, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Itália, Lituânia, Letônia, Polônia, Portugal, Espanha e Suécia, que incluem o trecho de conexão do H2med entre a Espanha e a França, chamado de BarMar, e os projetos de pipelines internos na Itália, Portugal e Espanha, bem como os corredores e rotas de hidrogênio na região do Báltico.

Esta semana, em visita oficial à Arábia Saudita, a primeira-ministra da Itália, Georgia Meloni, participou de uma mesa redonda com representantes dos setores público e privado de ambos os países, onde também foram firmados acordos bilaterais estratégicos de projetos voltados para infraestrutura e energia sustentável, avaliados em cerca de US$ 10 bilhões. 

Um deles, o memorando de entendimento entre a ACWA Power, empresa saudita de energia, e a italiana Snam, que busca desenvolver uma cadeia de suprimento internacional de hidrogênio verde e um terminal de importação de amônia na Itália, integrando o projeto SoutH2 Corridor.

No final do ano passado, o Ministério Alemão de Assuntos Econômicos e Ação Climática (BMWK) já havia aprovado a construção da maior rede de hidrogênio da Europa, com investimentos de 18,9 bilhões de euros até 2032, em 9.040 quilômetros de dutos capazes de transportar até 278 TWh de hidrogênio. 

Segundo o governo alemão, a construção será realizada de forma escalonada até 2032 com as primeiras linhas de hidrogênio entrando em operação já este ano. A estrutura estará conectada tanto ao SoutH2 Corridor como ao H2Med

Além disso,  está em andamento o segundo leilão do Banco Europeu de Hidrogênio, que soma um total de aproximadamente € 1,2 bilhão em incentivos aos produtores de hidrogênio renovável no continente.  

E simultaneamente, o modelo de Leilão como Serviço (AaaS) com contribuições de financiamento dos Estados-Membros da UE, incluindo Áustria (€ 400 milhões), Espanha (€ 400 milhões) e Lituânia (€ 36 milhões), elevando o total de investimentos para cerca de € 2 bilhões.

Em um momento em que os Estados Unidos revisam suas metas climáticas e reduzem incentivos a projetos verdes, a União Europeia reafirma seu compromisso com a descarbonização e a transição energética, colocando o hidrogênio verde no centro de sua estratégia. 

Com investimentos massivos em infraestrutura, como gasodutos dedicados e parcerias internacionais, a UE demonstra que enxerga no hidrogênio renovável não apenas uma solução para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, mas também uma oportunidade para fortalecer sua competitividade industrial e liderança global em tecnologias limpas. 

A Europa avança mostrando que a transição para uma economia verde não é apenas viável, mas essencial para o futuro do planeta e para a própria economia.

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