Diálogos da Transição

Estratégias de hidrogênio avançam, mas faltam metas para consumo

Metas anunciadas até agora para estimular a demanda cobrem apenas 4% do que é consumido pela indústria, aponta IEA

Estratégias avançam, mas faltam metas para o consumo de hidrogênio. Na imagem: Equipamentos para produção e armazenamento de hidrogênio próximo a planta industrial Equipamentos para produção e armazenamento de hidrogênio próximo a planta industrial (Foto: Divulgação Engie)Equipamentos para produção e armazenamento de hidrogênio próximo a planta industrial Equipamentos para produção e armazenamento de hidrogênio próximo a planta industrial (Foto: Divulgação Engie)
É no setor de energia que o uso de hidrogênio e amônia está atraindo mais atenção: os projetos anunciados acumulam quase 3,5 GW de capacidade potencial até 2030 (Foto: Divulgação/Engie)

newsletter

Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
[email protected]

Acompanhe AO VIVO o BackStage Rio Oil & Gas 2022
Ponto de encontro do mercado de energia

A agência epbr entrevista principais executivos e executivas do setor de petróleo e gás em um estúdio diretamente da maior feira e conferência da América Latina. Ampliando o alcance das discussões e levando para quem está fora do evento as pautas que fundamentam decisões no setor de petróleo e gás no Brasil.

Pelo menos 25 países, além da União Europeia, lançaram estratégias nacionais para o hidrogênio nos últimos anos, levando a projeção global de capacidade de eletrólise para 145-190 gigawatts (GW) até 2030, mostra a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

E se todos os projetos em andamento se concretizarem, a produção de hidrogênio de baixa emissão poderá chegar a 16-24 milhões de toneladas por ano até 2030, com mais da metade vindo de eletrolisadores movidos a energia renovável.

Mas falta atenção à demanda.

“A crise energética fortaleceu ainda mais o interesse pelo hidrogênio, mas é necessário maior apoio político para impulsionar novos e mais limpos usos do hidrogênio na indústria pesada e no transporte de longa distância”, alerta a IEA.

De acordo com a agência, as metas anunciadas até agora para estimular a demanda cobrem apenas 4% do que é consumido hoje pela indústria, ou seja, cerca de 4 milhões de toneladas (Mt).

Em 2021, o mundo usou 94 Mt, a maior parte no refino e indústria, com um ligeiro crescimento na demanda por novas aplicações.

Quase toda essa energia veio de fonte fóssil – a produção de hidrogênio de baixa emissão foi inferior a 1 Mt em 2021, praticamente toda proveniente de usinas que utilizam combustíveis fósseis com captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS).

Até 2030, a demanda deve atingir 115 Mt, considerando as políticas atuais, e com potencial de chegar a 130 Mt caso os governos cumpram totalmente suas promessas climáticas. Neste caso, mais de um quarto desse volume seria atendido por hidrogênio de baixa emissão.

Papel dos governos

A grande questão é alinhar os projetos anunciados para instalação de parques solares e eólicos, eletrolisadores e toda a infraestrutura necessária para o hidrogênio – o que deve custar pelo menos US$ 5 trilhões, calcula o Goldman Sachs – com as necessidades da demanda.

As principais são preço competitivo e infraestrutura de fornecimento.

“[Os governos] podem criar demanda por meio de leilões, mandatos, cotas e exigências em compras públicas, e podem garantir que gasodutos, terminais e outras infraestruturas sejam construídos para serem compatíveis com hidrogênio e amônia”, diz a IEA.

Já no comércio internacional, a urgência é desenvolver padrões, regulamentações e certificações comuns.

Algumas novas aplicações começam a aparecer na produção de aço, por exemplo, e em diferentes modais de transportes.

Recentemente, a Alemanha começou a operar a primeira frota de trens de célula a combustível. DW

Enquanto o transporte marítimo já tem mais de 100 projetos piloto de uso do hidrogênio e seus derivados, com grandes empresas firmando parcerias de abastecimento.

Mas é no setor de energia que o uso de hidrogênio e amônia está atraindo mais atenção: os projetos anunciados acumulam quase 3,5 GW de capacidade potencial até 2030.

A maioria das metas para o uso de hidrogênio de baixa emissão na indústria está nos estados membros da União Europeia. A última comunicação da Comissão Europeia sobre o plano REPowerEU propunha aumentar esta meta para 75%.

Não é à toa. A guerra da Rússia contra a Ucrânia teve como uma das consequências a quebra no fornecimento de gás à UE, o que escancarou os riscos da dependência de fornecimento do gás fóssil.

A Colômbia também anunciou uma meta para estimular a demanda de hidrogênio na indústria e a Índia tem a intenção de estabelecer cotas para o uso de hidrogênio renovável na produção de fertilizantes.

No transporte, as metas são as mesmas de 2021

Globalmente, as ambições de implantar veículos a célula a combustível levam a 1,2 milhão de veículos até 2030. Japão e Coreia do Sul concentram cerca de 80% dos compromissos globais no período, e o foco está nos leves.

Na Hungria, a meta é implantar 4,8 mil veículos pesados com células a combustível e usar 10 mil toneladas de hidrogênio livre de carbono no transporte rodoviário até 2030.

Já a UE tem uma proposta no pacote Fit for 55 para atender 2,6% da demanda de energia nos transportes com combustíveis renováveis de origem não biológica (incluindo hidrogênio e combustíveis sintéticos).

Cobrimos por aqui:

Como será o modelo energético brasileiro?

Um estudo da Deloitte encomendado pela Enel aponta que o Brasil tem condições de chegar a 2050 com emissões líquidas zero, mas precisa de avanços regulatórios e medidas governamentais de incentivo à transição.

A versão final deve ser entregue ao governo brasileiro antes da COP27, prevista para novembro, no Egito.

O estudo compara dois cenários em 2050, um conservador e outro de políticas enfáticas.

No conservador, a capacidade instalada de energia renovável fica em 65% e 93% (sem e com hidrelétricas), e a geração de energia renovável, exceto hidrelétrica, alcança 938 terawatts-hora (TWh).

No enfático, o percentual de renováveis na matriz elétrica sobe para 76% e 95%, com as renováveis sem hidrelétrica chegando a 1.759 TWh.

O uso de eletricidade no dia a dia também terá um salto, especialmente por causa da eletrificação do consumo, com veículos elétricos, por exemplo, e ampliação do acesso à energia.

A estimativa é sair dos atuais 20% para 32%, no cenário de referência, e para 44%, no de neutralidade de emissões.

No cenário net zero, esse consumo de eletricidade é suprido principalmente por energias eólica e solar, responsáveis por 63% dos 2.422TWh estimados para 2050.

No cenário mais conservador, eólica e solar representam, 48%, com geração total estimada em 1.752TWh para 2050. Neste quadro, a geração térmica ainda responde por cerca de 10% da matriz elétrica brasileira.

Já o hidrogênio verde desponta como complemento para a eletrificação, especialmente em setores intensivos em carbono, como indústrias químicas e siderúrgicas.

O estudo também aposta no potencial do Brasil para se tornar um exportador do “combustível do futuro”. No cenário net zero, toda a exportação de hidrogênio seria verde, cuja participação alcançaria, em 2050, 96% do hidrogênio produzido.

Para a agenda

27/9 — A FGV Direito Rio realiza, na próxima terça-feira (27/9), o 5º Seminário Brasil x Noruega, para discutir a transformação verde e a regulação dos setores energético, marinho e portuário. O evento é gratuito e ocorrerá presencialmente, das 8h às 13h, na sede da FGV no Rio de Janeiro. As inscrições podem ser feitas pelo site do seminário.

28/9 — A terceira live da Olimpíada Nacional de Eficiência Energética (ONEE 2022) acontece na próxima quarta-feira (28/9). Desta vez, será abordada a gestão de energia elétrica e o incentivo às práticas positivas de consumo, como a minimização do desperdício. A ONEE é uma iniciativa da Aneel e Abradee, para conscientizar o uso racional de energia. Professores e estudantes interessados poderão se inscrever para a competição até 21 de outubro através deste link.

3/10 — O webinar African Perspectives on Climate and Climate Adaptation: Energy, Water, and Urbanization in Egypt, organizado pela Columbia University, acontecerá dia 3 de outubro (segunda-feira), 12:00-13:30 (EDT), pela plataforma Zoom. O evento vai abordar quais serão as perspectivas do Egito sobre a adaptação climática, país que sediará a COP27, em novembro. Para participar, o interessado deve se registrar neste link.