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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Investimentos em hidrogênio verde (H2V) fora de rede estão impulsionando empreendimentos de eólica offshore na América Latina, que devem alcançar 34 gigawatts (GW) de capacidade instalada até 2050, estima a Wood Mackenzie.
Com Brasil e Colômbia na liderança, a consultoria espera uma taxa de crescimento anual composta de 15,4% a partir de 2032, quando os primeiros projetos estão previstos para entrar em operação na região.
“Vimos um movimento regulatório significativo em apoio aos empreendimentos eólicos offshore, com o Brasil e a Colômbia fornecendo roteiros oficiais e diretrizes para atividades futuras”, disse Kárys Prado, analista de pesquisa, energia e energias renováveis da Wood Mackenzie.
“Ambos os países têm um número crescente de projetos planejados, e o crescimento do pipeline anunciado este ano na América Latina já representa uma participação de 34% dos anúncios globais de novos projetos, no terceiro trimestre de 2022”.
Maior parte deve ser exportada
No Brasil, os projetos de eólicas offshore estão localizados próximos a portos que organizam hubs de hidrogênio.
A eletricidade renovável é um insumo fundamental para a eletrólise que gera o hidrogênio verde. O gás, por sua vez, está no radar de descarbonização de setores intensivos e países europeus.
A Wood Mackenzie prevê que o Brasil responderá por cerca de 6% do suprimento total de H2V do mundo até 2050, com o mercado ganhando escala após 2030.
Enquanto internamente, apenas 20% dessas instalações de hidrogênio estarão conectadas à rede.
“A maioria desses projetos será fora da rede e parte deles será apoiada por energia eólica offshore, juntamente com outras energias renováveis”, avalia Prado.
“Isso desempenhará um papel fundamental na economia futura do país e na posição de longo prazo como exportador global de energia. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito na frente regulatória e muitos desafios permanecem para tornar isso uma realidade”.
À espera de um marco regulatório
Ao todo, o Ibama tem 169,4 GW em pedidos de licenciamento para geração de eletricidade a partir dos ventos offshore.
Dos 66 parques projetados, 21 fazem sobreposição ou têm turbinas planejadas a menos de 2 mil metros de aerogeradores com processo de licenciamento mais antigo.
O grande interesse da iniciativa privada levou o governo a editar um decreto que dá os primeiros passos na regulação deste setor. A intenção é ter os primeiros leilões já no ano que vem.
Falta desenhar a licitação. O Ministério de Minas e Energia (MME) colocou em consulta duas portarias para regulamentar a cessão de áreas offshore para os parques, mas ainda pairam dúvidas sobre os critérios de valoração, por exemplo.
Enquanto isso, a Câmara analisa o PL 576/21, do senador Jean Paul Prattes (PT/RN), cujo plano é criar uma fonte de receita para os estados e municípios com o rateio de royalties.
Os textos, no entanto, vão em caminhos diferentes. Entenda
Na infraestrutura, os desenvolvedores apontam demanda limitada de energia, restrições de infraestrutura de transmissão, concorrência entre fontes, bancabilidade dos projetos e problemas da cadeia de suprimentos como outras dificuldades.
“Apesar de todos esses desafios, há uma oportunidade para a indústria decolar. Se os investimentos em regulamentação e infraestrutura acelerarem, combinados com a incipiente indústria de hidrogênio verde, a futura capacidade eólica offshore poderá superar as expectativas na região”, conclui Prado.
Mesmo sem um marco, pedidos de licenciamento avançam
Em janeiro, eram 36 projetos somando cerca de 80 GW em seis estados. De lá para cá, o número de projetos quase dobrou e mais dois estados brasileiros entraram no mapa eólico offshore: Maranhão e Santa Catarina.
No Maranhão, são 2,6 GW no parque Ventos do Delta da Kaanda R.M. Cunha. Em Santa Catarina, o empreendimento da Bravo Vento prevê 5,7 GW.
Em termos de capacidade, a Shizen Energia do Brasil, grupo de origem japonesa, lidera os pedidos com 18 GW, em seis projetos na costa brasileira — Rio Grande do Sul (12 GW) e Ceará (6 GW).
Já em quantidade de projetos, a liderança é da BlueFloat Energy, com sete parques (15 GW).
As petroleiras respondem por praticamente um a cada 4 GW em licenciamento. Shell, TotalEnergies e Equinor somam 40 GW em projetos na costa brasileira.
Por estado, os campeões são Rio Grande do Sul (56,7 GW em 20 parques) e Ceará (48,4 GW em 18 empreendimentos).
Cobrimos por aqui:
- Cinco países que podem liderar a próxima onda de eólicas flutuantes
- Espírito Santo lança atlas para entrar na rota das eólicas offshore
- Onze países têm roteiros para hidrogênio na América Latina
- Fase de projetos-piloto de hidrogênio já passou
US$ 30 bilhões em 2022
No mundo, a previsão é que o mercado eólico offshore cresça de US$ 27,72 bilhões em 2021 para US$ 29,44 bilhões em 2022 a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 6,2%.
Relatório da Reportlinker analisou Austrália, Brasil, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Japão, Rússia, Coreia do Sul, Reino Unido e EUA, e aponta que, em 2026, esse setor deve alcançar US$ 43,91 bilhões, a uma CAGR de 10,5%.
A Europa liderou o mercado em 2021, mas a expectativa é que a América do Norte seja a região de crescimento mais rápido no período.
O impulso virá dos Estados Unidos, e dos massivos estímulos da gestão de Joe Biden para a geração de baixo carbono.
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Primeiros leilões de hidrogênio mais próximos
A iniciativa de hidrogênio apoiada pelo governo alemão, H2Global, deve lançar leilões para importações de amônia renovável, e-metanol e combustível de aviação sustentável nos “próximos dias ou semanas, no máximo”, disse com seu diretor-geral, Timo Bollerhey, em um evento do setor em Roterdã.
Por meio do esquema, a Alemanha pretende importar hidrogênio renovável — inicialmente na forma de derivados — sob contratos de 10 anos e depois vendê-lo aos consumidores por meio de acordos de curto prazo, cobrindo as diferenças de preço.
Os primeiros acordos de compra provavelmente serão acertados no primeiro trimestre de 2023. Argus