Energia

Engie estuda potencial de hidrogênio natural na Bacia do São Francisco 

Estudos apontaram presença de H2 no solo e em poços profundos da Bacia do São Francisco, e altas concentrações em reservatórios

Engie estuda potencial de hidrogênio natural na Bacia do São Francisco [na imagem]
Além de Minas Gerais, pesquisas lideradas pela Engie desde 2018 apontam que o país pode dispor de potencial de hidrogênio natural em pelo menos mais três estados: Ceará, Roraima e Tocantins

A francesa Engie está estudando o potencial brasileiro de hidrogênio branco, produzido direto da exploração de reservas naturais do gás.

Estudos feitos em parceria, que envolveram as consultorias Georisk e Geo4u, pesquisadores no Brasil e na França, identificaram a presença de hidrogênio no solo e poços profundos da Bacia do São Francisco, e altas concentrações de hidrogênio em reservatórios.

A pesquisa indica a “existência de sistemas ativos desse gás em pelo menos três pontos da região”.

Apesar desses estudos iniciais, o potencial de produção comercial ainda é desconhecido.

Além de Minas Gerais, pesquisas lideradas pela Engie desde 2018 apontam que o país pode dispor de potencial de hidrogênio natural em pelo menos mais três estados: Ceará, Roraima e Tocantins.

Os artigos de 2019 e 2021 foram assinados por Isabelle Moretti, Chief Scientific Officer da Engie, e são citados no capítulo do Plano Decenal de Energia (PDE) 2031, publicado ontem (24/1).

“Quanto ao hidrogênio natural, anteriormente considerado marginal, senão inexistente, aparece cada vez mais como uma opção importante a ser explorada pelas empresas de energia no futuro próximo”, cita o PDE.

Atualmente, o Mali, na África, é o único país do mundo com uma produção industrial de hidrogênio natural, com exploração em reservatórios de profundidades entre 100 e 1.800 metros. O gás produzido é usado para gerar energia limpa destinada à iluminação pública de zonas rurais.

Subsidiária na oferta permanente

A companhia já investiu em blocos para exploração de petróleo e gás no passado, em projetos na Bacia do Parnaíba, que não foram para frente.

A Engie tem uma subsidiária, a Storengy, inscrita na oferta permanente de blocos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que prepara o próximo ciclo da concorrência.

Segundo o site da companhia, a Storengy é focada em soluções energéticas que envolvem armazenamento e recuperação de gases renováveis, incluindo a estocagem subterrânea.

A estratégia é combinar serviços de suprimento de combustíveis e energia, a partir da formação de “ecossistemas locais”.

“A Storengy está desenvolvendo estas energias: hidrogênio, biometano e metano sintético. Nosso objetivo é controlar a produção destas energias em todas as etapas até a distribuição para toda a rede”, diz a companhia.

Procurada por meio de sua assessoria no Brasil, a Engie preferiu não se manifestar. O espaço segue aberto.

Não há regulação específica para a produção natural de hidrogênio branco, mas o Ministério de Minas e Energia (MME) vem sinalizando ao mercado que a legislação vigente é suficiente e detalhes serão tratados nas agências.

Hidrogênio verde no Ceará

Além do hidrogênio branco, a Engie já confirmou o interesse em produzir hidrogênio verde — produzido por meio de eletrólise a energia renovável — no Brasil.

Em outubro do ano passado, a companhia assinou com o governo do Ceará um memorando de entendimento para estudar o investimento na produção de hidrogênio verde no Porto de Pecém, que desenvolve em parceria com o estado um hub de projetos, com foco na exportação do combustível.

No Pecém, a empresa pretende começar com 100 MW a 150 MW de capacidade instalada de eletrólise, em até cinco anos. A meta global é chegar em 2030 com 4 GW de capacidade.

“Na nossa visão, o hidrogênio é um vetor estratégico para a descarbonização, pois permite uma melhor integração das energias renováveis, além de ajudar a reduzir as emissões em setores difíceis de atingirem suas metas”, disse o vice-presidente executivo de Desenvolvimento de Negócios Globais da Engie Green Hydrogen, Raphael Barreau, na ocasião.

Gás natural no São Francisco

A Bacia do São Francisco é uma potencial produtora de gás natural não convencional, que demandaria campanhas de fraturamento hidráulico, técnica que sofre com moratórias e obstáculos judiciais no Brasil.

Não apenas ambientalistas, mas organizações de produtores rurais fazem oposição à prática. Questionam a segurança operacional, o risco de contaminação de fontes de água e temem conflitos pelo uso de recursos hídricos.

Investimentos na região não avançaram.

Foram identificadas na região reservas potenciais de tight gas, um tipo de formação em que há maior dificuldade para o energético fluir das rochas geradoras e ficar aprisionado em acumulações tradicionais.

Atualmente, o MME trabalha no Poço Transparente, incluído no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) no fim de 2021.

É um projeto piloto para monitoramento e estudos sobre a segurança do fraturamento hidráulico, em uma tentativa de reabrir a possibilidade de exploração dos recursos não convencionais em terra, com foco no gás natural.