Energia

Custo do hidrogênio verde precisa cair a US$ 3/kg para ser competitivo, diz diretor da Prumo 

Executivo aposta em modelo que combina eólica, solar e hidrelétricas para fornecimento de energia barata

Mauro Andrade aposta em modelo que combina eólica, solar e hidrelétricas para fornecimento de energia barata
Mauro Andrade aposta em modelo que combina eólica, solar e hidrelétricas para fornecimento de energia barata

Para Mauro Andrade, diretor executivo de Desenvolvimento de Negócios da Prumo, o hidrogênio verde (H2V) só será competitivo quando seu custo estiver entre US$ 3 e US$ 4 o quilo. Hoje, esse preço está em média de US$ 6, chegando a quase US$ 9 em algumas regiões do mundo, segundo levantamento da PWC.

A Prumo, empresa responsável por operar o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, está desenvolvendo negócios na área de hidrogênio no Brasil, e espera transformar o Açu em um hub de H2V nos próximos anos.

Em entrevista à agência epbr, o executivo explica que o primeiro caminho para derrubar custos será a energia renovável barata, uma vez que quase 80% do capex do hidrogênio verde provém de gastos com eletricidade.

“Para conseguir produzir hidrogênio verde competitivo precisamos de um preço de energia que não exceda US$ 25 por megawatt”.

Outro ponto, é o custo dos eletrolisadores para separação do hidrogênio da água.

“Para gerarmos nesse nível de 3 dólares, os eletrolisadores precisam cair 50%”, acrescenta.

Solução híbrida

O diretor da Prumo acredita que, em um primeiro momento, a solução mais barata de energia será um modelo híbrido, combinando eólica, solar e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

“Esse mix dá um preço competitivo de energia para produzir hidrogênio verde no Sudeste de forma competitiva”, avalia.

Mauro destaca o enorme potencial fotovoltaico de Minas Gerais, e a grande quantidade de PCHs na região que já foram completamente amortizadas e agora finalizam seus contratos de longo prazo.

Além disso, na visão do executivo, o Brasil é um dos poucos países do mundo onde é possível combinar eólica e solar, garantindo quase 24 horas de geração sem necessidade de bateria e armazenamento de energia.

“Em alguns lugares do mundo mais avançados em produção de H2V, eólica e solar somam no máximo 17 horas por dia”, diz.

Mas tanto o processo de eletrólise, como o processo de transformação do hidrogênio em amônia verde necessitam de energia firme e contínua, quase que 24 horas por dia, para que sejam viáveis economicamente.

“O Brasil tem a capacidade de ter uma combinação de eólica e solar de 20, 21 horas por dia de energia renovável contínua. Solar de manhã, eólica à noite e pequenas e médias hidrelétricas na base para compensar. Essa é a estratégia que todos os que estão olhando para o hidrogênio verde estão  perseguindo”, completa.

Competitividade de eólicas offshore deve demorar

Apesar das altas apostas nos novos parques eólicos offshore — apresentados como fontes essenciais de energia para os futuros projetos de H2V –, Mauro acredita que a competitividade com outras fontes ainda vai demorar.

“Eólica offshore custava US$ 250 por MW há cinco anos, hoje custa 70. A queda de preço está muito grande, e a escala que esses parques eólicos têm obtido é muito grande. Dá para imaginar que até 2030, quando os projetos de hidrogênio verde provavelmente estarão entrando de fato, [teremos] um preço bastante mais competitivo da eólica offshore, mas ainda menos competitivo que eólica onshore”.

Recentemente, a Prumo iniciou o licenciamento ambiental de parques eólicos offshore com 2.160 MW de capacidade instalada, e pretende atrair sócios para desenvolver os quatro parques Ventos do Açu.

Os dados iniciais já foram enviados ao Ibama.

Além disso, o Açu também fechou um acordo com a Equinor para desenvolvimento de uma planta de geração solar fotovoltaica na retroárea do Porto, até o ano que vem.

Hub de hidrogênio no Açu

Esse ano, o Porto do Açu assinou um memorando de entendimento com a australiana Fortescue Metal Group para estudar a viabilidade de implementação de uma planta produtora de hidrogênio verde e amônia verde para exportação.

Mauro conta que o Açu já possui outros acordos de confidencialidade com empresas interessadas em fazer parte do hub de hidrogênio verde no porto.

“Estamos olhando outros atores. Temos acordos de confidencialidade firmados com outras empresas do setor, não podemos divulgar o nome, mas são entre quatro e seis (…). Há um outro player para hidrogênio azul, estamos acertando um escopo de MOU”, diz o executivo.

Segundo ele, será necessário buscar múltiplos atores da cadeia do hidrogênio verde para tornar viável grandes projetos no segmento.

“É muito difícil a gente imaginar que um único player vai conseguir desenvolver um projeto de hidrogênio verde na América do Sul, ou no Brasil.  Vai ser provavelmente um ecossistema de empresas para desenvolver isso”.

Para formar esse ecossistema, a companhia está dialogando com empresas de geração de energia renovável e de hidrogênio verde, além de possíveis compradores do combustível.