RIO — Cubatão, cidade litorânea de São Paulo, pode se tornar o primeiro hub brasileiro de hidrogênio verde (H2V) fora da região Nordeste. O projeto é fruto de uma parceria entre a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ) e o Ministério de Minas e Energia (MME).
Com previsão de divulgação da versão final do estudo de viabilidade do hub de hidrogênio verde em novembro, a iniciativa está inserida no programa H2Brasil e se junta a outros 15 trabalhos já realizados em parceria com o MME.
Markus Franke, diretor do programa H2Brasil da GIZ, afirma que o potencial em Cubatão é muito grande porque a região reúne todas as precondições necessárias para dar andamento ao novo setor.
“Mas temos que ter esse estudo em mãos para ver o que mais é preciso fazer para acelerar esse processo”, disse em entrevista à agência eixos.
Ele mencionou que uma das vantagens é a presença de diversas indústrias já instaladas, como aço, fertilizantes e petroquímica, que tornam Cubatão um local privilegiado para o desenvolvimento do setor, além da sua conexão ao Porto de Santos.
“Em teoria, temos toda a indústria lá. Temos o porto para importação e exportação. Temos todos os profissionais lá. É muito interessante também porque é o único hub, nesse momento, fora do Nordeste, que está em um certo foco”.
Em setembro, o presidente da Autoridade Portuária de Santos (APS), Anderson Pomini, anunciou que está estudando a produção de hidrogênio verde usando a energia gerada pela Usina de Itatinga – instalada no porto.
O elevado custo da produção de hidrogênio verde seria reduzido pela infraestrutura já existente na usina, que possui capacidade instalada de 15 megawatts/hora.
Além disso, segundo a APS, a Toyota do Brasil demonstrou interesse em firmar uma parceria com o Porto de Santos para viabilizar o projeto.
Possíveis consumidores
A iniciativa ganha relevância não apenas pelo avanço tecnológico, mas também pela transformação que a cidade de Cubatão, outrora conhecida como “Vale da Morte” devido à extrema poluição nos anos 1980, pode alcançar ao se posicionar como referência em transição energética.
Em agosto, o início do estudo da GIZ foi lançado oficialmente com a presença de empresas como Yara, Petrobras e Unipar, que já possuem operações na cidade e veem no hidrogênio verde uma oportunidade de avançar em seus compromissos de descarbonização.
A Petrobras, por exemplo, pretende implantar uma unidade dedicada à produção de diesel 100% renovável e combustível sustentável de aviação (SAF), que futuramente poderá utilizar o hidrogênio verde como matéria-prima.
Já a Yara, grande empresa na produção de fertilizantes, planeja incluir o hidrogênio verde na fabricação de amônia, substituindo o gás natural. A Unipar, por sua vez, pretende usar o combustível limpo para que 80% de seu ácido clorídrico seja fabricado de forma sustentável até 2030.
Desenho de hubs no Brasil
Luciano da Silva, consultor técnico da GIZ, conta que os estudos produzidos pela instituição estão explorando especificidades regionais para a implementação de hubs de hidrogênio.
“Começamos com estudos mais amplos, como potencial de produção, cenário de demanda, e agora caminhamos um pouco para estudar potencialidades regionais”.
Segundo ele, isso está em linha com o Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2), que tem como meta consolidar polos de hidrogênio de baixa emissão no Brasil até 2035.
“Está um pouco alinhado, porque o governo brasileiro também tem na agenda o olhar para hubs regionais, ou até projetos mais específicos.”
Recentemente, o MME anunciou junto ao Reino Unido e o fundo internacional Climate Investment Funds (CIF) um financiamento de R$ 6 bilhões para projetos do tipo, o que pode acelerar ainda mais a implantação de hubs de hidrogênio verde no Brasil e no mundo.
A chamada está aberta para recebimento de propostas no site do MME.