Biocombustíveis

Cinco rotas para descarbonizar o transporte marítimo

Biodiesel, metanol, hidrogênio, amônia verde e imposto de carbono estão no horizonte do setor de transporte marítimo

Cinco rotas para descarbonizar o transporte marítimo
Além do biodiesel, setor conta com alternativas como metanol, hidrogênio e amônia verde - Foto: Pixabay

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 23/12/21
Apresentada por

Editada por Nayara Machado
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Parceria entre a multinacional dinamarquesa Bunker One e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) vai estudar a viabilidade de adição de 7% de biodiesel ao óleo diesel marítimo.

De acordo com Flavio Ribeiro, presidente da Bunker One, a empresa já desenvolve projetos deste tipo em outros países e o Brasil é um mercado importante.

No longo prazo, a multinacional espera se posicionar como fornecedora global de combustível marítimo com biodiesel.

A estratégia é uma dentre diferentes iniciativas do setor para tentar se descarbonizar – e contribuir com o esforço de limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5ºC até o fim do século.

Em novembro, durante a COP26, em Glasgow, 22 países assinaram a Declaração de Clydebank para apoiar corredores de transporte verdes, isto é, rotas de transporte com emissão zero entre dois portos.

A declaração foi projetada para complementar o trabalho da Organização Marítima Internacional (IMO, sigla em inglês) no corte de emissões – a meta da IMO é reduzir pela metade as emissões de carbono do setor até 2050.

O Brasil não assinou a declaração. Mas o governo federal criou este ano um subcomitê no programa Combustível do Futuro para discutir alternativas para reduzir emissões neste setor, que está entre os mais difíceis de descarbonizar.

Pelo mundo, além do biodiesel, outras soluções já estão no horizonte de empresas e governos, como imposto de carbono para financiar novos biocombustíveis, metanol, hidrogênio e amônia verde.

Há quem esteja disposto a pagar um pouco mais pelo frete sustentável. Levantamento do Boston Consulting Group (BCG) com 125 empresas que dependem de transporte marítimo mostrou que 71% pagariam mais caro por um frete neutro em carbono, enquanto 67% estão menos inclinados a trocar de fornecedor caso ele seja neutro em carbono.

Em média, os clientes afirmam que pagariam 2% a mais em um frete sustentável.

Um sinal positivo, mas ainda longe do ideal. O BCG calcula que a taxa teria de aumentar de 10% a 15% para financiar a transição do transporte marítimo rumo ao net-zero em 2050 — o setor precisa de US$ 2,4 trilhões em investimentos.

Cerca de US$ 1,5 trilhão desse montante seria destinado aos setores de energia e químico para desenvolver combustíveis alternativos baseados em hidrogênio e para construir ou aprimorar instalações de refino, armazenamento e distribuição de combustível.

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Alternativas no horizonte do transporte marítimo

Imposto de carbono e fundo para combustíveis. No início de outubro, representantes da indústria naval enviaram à IMO um documento detalhando medidas urgentes para ajudar o setor a atingir emissões líquidas zero de CO2 até 2050 — uma pressão também para dobrar a ambição atual.

Entre as propostas, está a criação de um imposto global sobre as emissões de carbono dos navios, o que seria o primeiro para qualquer setor industrial.

Os recursos iriam para um fundo climático da IMO que, além de fechar a lacuna de preço entre os combustíveis convencionais e os novos, seria usado para implantar a infraestrutura de abastecimento necessária em portos em todo o mundo para fornecer combustíveis como hidrogênio e amônia.

Biodiesel. Os estudos da Bunker One no Brasil devem durar oito meses. A companhia, fornecedora global de combustíveis (bunker oil) e lubrificantes para navegação, espera aproveitar a experiência brasileira na produção de biodiesel – o país é o segundo maior produtor do biocombustível no mundo.

Segundo o presidente da Bunker One, a mistura de 7% de biodiesel ao combustível marítimo já é reconhecida pela Organização Internacional de Padronização (ISO, sigla em inglês), mas o uso em escala comercial ainda depende de ajustes na norma da IMO sobre limites de emissões de óxidos de nitrogênio (NOx).

Metanol. Analistas da S&P Global Platts Analytics indicam o metanol como um favorito, já que os custos para modificar os motores existentes para metanol são significativamente mais baixos em comparação com outros combustíveis alternativos.

Em agosto, a dinamarquesa Maersk anunciou a encomenda de oito navios capazes de operar com metanol neutro em carbono e prometeu encomendar apenas novas embarcações que possam usar combustível limpo.

Também considera o uso de combustíveis de lignina, e-metanol, biodiesel e amônia verde. Mas os custos ainda são uma barreira.

Hidrogênio. A largada para o hidrogênio de baixo carbono foi dada. O ano de 2021 foi marcado por uma série de anúncios de investimentos para viabilizar a produção em larga escala de hidrogênio verde (energia renovável) e azul (gás natural com captura de carbono).

Com 228 projetos de hidrogênio verde (H2V) anunciados pelo mundo, os investimentos previstos no setor já somam mais de US$ 80 bilhões.

Mas a aplicação no transporte marítimo ainda dá os primeiros passos. Em abril, a francesa Compagnie Fluvial de Transport (CFT) anunciou o desenvolvimento do primeiro navio de carga movido a hidrogênio do mundo.

Além da França, um outro navio do tipo deve ser construído para navegar na Noruega.

Amônia verde. Também deve desempenhar um papel fundamental ao viabilizar o comércio global de hidrogênio verde, explica Anne Robba, gerente de Future Energy Signposts da Platts.

“Pode ser usada diretamente, por exemplo, como combustível de navio, ou convertida novamente em hidrogênio e consumida na infraestrutura de gás natural”, explica a gerente da Platts.

Tem sido apontada, inclusive, como a escolha de empresas que pretendem produzir hidrogênio verde no Brasil para exportação, como Qair (Porto do Pecém e Supe), Fortescue (Pecém e Açu), Enegix (Pecém) e AmmPower (Porto Central).

Votar e agir por um 2022 mais verde. Para tentar desacelerar o aquecimento, o próximo mandatário brasileiro deverá ter a coragem, com apoio do Congresso Nacional, de zerar o desmatamento na Amazônia e dar os rumos da transição para uma economia verde, escreve o economista Sergio Margulis.

Em artigo, o pesquisador sênior do Instituto Clima e Sociedade (iCS) também explica como as emissões de carbono estão atreladas ao nosso consumo e como reduzi-las evitando o transporte individual e priorizando reuniões virtuais – ao invés de viagens de avião – por exemplo. Leia na epbr

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