Diálogos da Transição

Ceará se junta a eólica, solar e biogás em pacto pelo hidrogênio renovável

ABH2 defende espaço para fósseis em marco legal do hidrogênio

Ceará se junta a eólica, solar e biogás em pacto brasileiro do hidrogênio renovável. Na imagem: Vista aérea de embarcações no cais do porto do Pecém, com sol refletindo no mar na coloração "prateada" (Foto: Divulgação CIPP)
O Pecém (CE) já tem diversos MOUs assinados para a instalação de hubs de H2V, integrados a eólicas offshore (Foto: Divulgação CIPP)

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Editada por Nayara Machado
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O governo do Ceará se uniu nesta quarta (9/8) às associações da indústria eólica, solar e de biogás em um pacto brasileiro pelo hidrogênio verde.

A iniciativa, lançada pela Abeeólica, Absolar, Abiogás e Câmara Brasil-Alemanha (AHK), em maio, mira a definição de um marco regulatório para aumentar a competitividade do combustível no Brasil e no exterior, além de marcar posição sobre as rotas de produção que devem ganhar apoio político.

O Ceará já possui 30 memorandos de entendimento com empresas interessadas em integrar o hub de hidrogênio verde no Porto de Pecém. Segundo o estado, os projetos representam investimentos de US$ 29,7 bilhões.

No Pecém, o foco é a produção a partir da eletrólise, que utiliza eletricidade renovável para separar as moléculas de H2 da água. Uma parte dos projetos em estudo no porto combinam investimentos em eólicas offshore – outro segmento pendente de definições regulatórias.

Segundo maior porto do Nordeste brasileiro, o Pecém anunciou em 2021 sua ambição de atrair investimentos para produção e fornecimento do novo energético e, de lá para cá, vem firmando acordos com o governo e empresas como AES BrasilFortescue, Linde, Qair, Voltalia, TransHydrogen Aliance, Eren do Brasil, Casa dos Ventos, Engie, EDP Renováveis, White Martins, Mitsui e Lightsource bp.

Foco em renováveis

A adesão do Ceará ao movimento das associações de energia renovável promete fortalecer as articulações por um marco legal que privilegie fontes renováveis.

O governador do estado Elmano de Freitas (PT) chegou a defender que a reforma tributária incluísse incentivos fiscais ao hidrogênio verde, tais como os que existem para as energias eólica e solar fotovoltaica.

“O H2V é estratégico para o país e decisivo para o desenvolvimento do Ceará. A criação de uma sensibilização política e social é importante para que o hidrogênio se torne prioridade em todo o país. Temos no hidrogênio verde um setor que pode alavancar diversos outros setores. É algo único para o Ceará”, disse Elmano nesta quarta (9/8).

Em dezembro do ano passado, a EDP Brasil produziu no estado a sua primeira molécula de hidrogênio verde.

Obtida na unidade de geração de São Gonçalo do Amarante, marcou a primeira etapa do projeto piloto no Complexo Termelétrico do Pecém (UTE Pecém). A planta conta com uma usina solar com capacidade de 3 MW e um módulo eletrolisador com capacidade de produzir 250 m3/h do gás.

Após produzir a primeira molécula, o Ceará agora quer produzir hidrogênio verde em grande escala, afirma Elmano.

Espaço para fósseis

O marco legal é discutido em diversas frentes: na Câmara, no Senado, no governo federal e nos estados, que começaram a desenhar suas próprias regulações.

Em um país com dimensões continentais e muitas opções de fonte de energia, as possibilidades de rotas para o hidrogênio são muitas e, naturalmente, todo mundo quer entrar na onda dos incentivos.

Na visão da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2), a inclusão de rotas mais baratas facilitará o avanço da regulação brasileira de hidrogênio e a abertura de mercados na corrida global pela molécula.

Além de garantir um fornecimento constante de energia, visto que a disponibilidade dos recursos renováveis varia ao longo do ano.

“[Mesmo] com o potencial de geração eólica, solar e hidráulica, é importante que o Brasil tenha várias rotas porque as energias renováveis são intermitentes. Desta maneira, o Brasil terá eletricidade firme durante o ano inteiro”, explica o presidente da ABH2, Paulo Emílio Miranda.

Ele participou de audiência na Comissão Especial de Transição Energética e Produção do Hidrogênio Verde (CEHV) nesta terça (8/8). A comissão planeja apresentar, ao final dos trabalhos, um marco legal para o hidrogênio no Brasil. Leia na epbr

Cobrimos por aqui:

Curtas

GOL comprará créditos de aéreas que usam SAF

Como Brasil ainda não tem uma cadeia produtiva de combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês), a companhia aérea fará compensação pelo sistema book & claim que permite comprar créditos de carbono de outras empresas.

Aliás, você sabe de onde vem o SAF?

Atualmente, a única rota fornecendo SAF em escala comercial é a de Ácidos Graxos e Ésteres Hidroprocessados ​​(HEFA, em inglês), que utiliza óleos e gorduras.

E ela deve continuar predominante nos próximos dez a quinze anos, até que as de querosene parafínico sintético (FT-SPK) e de alcohol-to-jet (ATJ) ganhem mercado. Conheça as rotas de produção aprovadas internacionalmente e entenda o potencial desse mercado para o Brasil.

Piloto na Coppe

A Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ) vai inaugurar na sexta (11/8) uma planta piloto de produção e aplicabilidade de hidrogênio verde na Coppe/UFRJ. Dentre os estudos previstos, está o de catalisadores para a produção de biocombustíveis e SAF empregando H2 verde como matéria-prima renovável e CO2 capturado.

COP28 pressionará pelos US$ 100 bi

Em visita ao Brasil para a Cúpula da Amazônia, o presidente designado da COP28, sultão Al Jaber, disse que manterá a pressão sobre os países ricos para cumprir a promessa de US$ 100 bilhões em doação para os países emergentes fazerem sua transição.

O sultão se reuniu com o presidente brasileiro Lula (PT), e ambos concordaram em agendas como combate ao desmatamento, incentivo à bioeconomia e fortalecimento da adaptação. No entanto, a reforma do financiamento climático internacional e o reforço da implantação de energia limpa “foram identificados como áreas específicas de foco conjunto a serem perseguidas da COP28 até a COP30”, diz o comunicado.

Produção agrícola ameaçada pelo clima

A safra brasileira será uma das mais prejudicadas do mundo pelo fenômeno climático El Niño, que deve provocar calor intenso e seca a partir do quarto trimestre e principalmente em 2024, prevê um estudo da seguradora Coface.

Os analistas observam que o El Niño está ocorrendo com muito mais rapidez do que as frequências históricas, amplificando os efeitos negativos das mudanças climáticas na Ásia-Pacífico, África do Sul e Leste e nas Américas.

A análise global da Coface alerta que colheitas mais pobres colocarão pressão nas cadeias de valor agroalimentares como um todo, e é provável que 2024 seja um ano de extrema tensão entre oferta e demanda para o setor.