Nos próximos dias, a mineradora australiana Fortescue deverá assinar um memorando de entendimento com o governo do Ceará para construção de um planta de hidrogênio verde no estado.
O novo projeto, junto ao anunciado em março pela também australiana Enegix Energy, somará mais de US$ 10 bilhões de investimentos previstos no hub de hidrogênio verde do Porto do Pecém, segundo informações do secretário do Desenvolvimento Econômico do Ceará, Maia Júnior.
A partir dos memorandos, as empresas passam a analisar a viabilidade dos projetos.
O governo do Ceará busca parcerias para o desenvolvimento de uma cadeia de valor para o hidrogênio verde, se antecipando ao lançamento do Programa Nacional do Hidrogênio, cujas diretrizes estão em fase de definição pelo governo federal.
A elaboração do programa foi aprovada em abril pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Coordenada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), a proposta de ser publicada no fim de junho.
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Empresas de energia buscam investidores
No mês passado, o governador cearense, Camilo Santana (PT), recebeu uma comitiva da companhia liderada pelo presidente da Fortescue para a América Latina, Agustin Pichot, para discutir detalhes dos investimentos.
“Nós temos aqui várias empresa na área de energia renovável, essas empresas também são parceiras nossas. Na busca de um mercado para energias renováveis, elas também nos ajudam a identificar quem seriam os possíveis investidores na produção de hidrogênio verde”, explicou a secretária da Indústria, Roseane Medeiros, à epbr.
Empresas de energia renovável atuantes no Ceará estão fazendo a ponte entre investidores interessados no hub e o governo.
No caso da Fortescue, o CEO da Omega Desenvolvimento, Rogério Zampronha, foi um dos articuladores.
A empresa de energia renovável possui três projetos eólios onshore no Ceará, com capacidade somada de 3,5 GW, e será responsável por fornecer energia para a produção de hidrogênio da mineradora.
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Cadeia de valor da energia renovável
Roseana afirma que a demanda por energia renovável para viabilização de projetos de hidrogênio é gigante e que a capacidade necessária ainda não está disponível.
“Essa energia ainda não existe. Esse ambiente vai se estruturar para que as coisas aconteçam simultaneamente”, observa.
Além dos projetos solares e de eólicas onshore já em operação, há 5.000 MW em parques eólicos offshore sendo licenciados no Ibama, quase o dobro da capacidade em operação (2.394 MW) e outorgada (238 MW) em terra.
São projetos da Neoenergia (Jangada), BI Energia (Camocim e Caucaia) e Eólicas do Brasil (Asa Branca).
Caucaia (576 MW) foi o parque com o licenciamento mais adianto, mas o Ibama entendeu que faltaram alguns estudos para emissão da licença. Com Camocim (1.200 MW) e os projetos da Eólicas do Brasil (400 MW) e Neoenergia (3.000 MW).
A geração de energia eólica offshore é apontada como uma solução para entregar a grande quantidade de energia necessária para a eletrólise nas plantas de hidrogênio.
Migrar os parques para o mar tem a ver com escala, a busca por ventos mais fortes e menor intermitência.
Além da licença ambiental, há uma discussão entre diversos órgãos do governo e no Congresso Nacional sobre os direitos de exploração das áreas offshore.
Recentemente, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, garantiu a publicação de um marco regulatório até o fim do ano, mas não está definido se o governo vai propor um projeto de lei ou tratar o assunto exclusivamente pelo CNPE.
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Hidrogênio e amônia verde no mercado doméstico
Em reunião com Camilo Santana, a Fortescue também anunciou que pretende implantar no Pecém uma usina para a produção de amônia verde com capacidade de 1,7 milhão de toneladas/ano.
A mineradora tem outras inciativas neste sentido, como o estudo para construção de uma planta de amônia verde na ilha da Tasmânia, na Austrália, voltada ao suprimento do mercado do Japão.
Em março, a Fortescue assinou um memorando do tipo com o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, também voltado ao desenvolvimento de uma unidade de produção de hidrogênio verde.
Ainda que parte da estratégia de negócios da empresa no Brasil, assim como da Enegix, seja a produção de hidrogênio e amônia verde para exportação, Roseane Medeiros observa que a necessidade de escala desses projetos prescinde de uma cadeia de negócios no país, com a ajuda de políticas públicas que estimulem o consumo doméstico.
No caso da amônia verde, por exemplo, ela destaca que vem articulando com agentes da agronegócio.
“Temos conversado com empresas produtoras de fertilizante”, diz.
“Outra coisa que se tem pensado é na mobilidade. Como fazer essa ponte com prefeituras, ainda que de forma piloto, para essa transformação no combustível dos transportes,” conta a secretária.
No radar, como potenciais indústrias consumidoras do Ceará, também estão a Companhia Siderúrgica e a fábrica da Votorantim Cimentos, ambas no Porto do Pecém.
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