BERLIM — O governo alemão aprovou na última quarta (24/7) a Estratégia de Importação de Hidrogênio e seus Derivados, que inclui tanto hidrogênio verde (produzido a partir da eletrólise com eletricidade renovável), como o azul (reforma do gás natural com captura e armazenamento de carbono).
A iniciativa reforça a Estratégia Nacional de Hidrogênio revisada há um ano.
No plano aprovado esta semana, o governo alemão foca no hidrogênio verde no longo prazo. Mas em um primeiro momento, abrange também as rotas com baixo teor de carbono – como a azul, para viabilizar o suprimento da demanda crescente.
A organização ambiental Ajuda Ambiental Alemã (DUH, na sigla em alemão) criticou os planos do governo federal pelo enfraquecimento dos critérios de sustentabilidade para as parcerias de hidrogênio.
“Sem um compromisso claro com o hidrogênio verde sustentável e abordagens concretas para uma utilização eficiente, o efeito climático esperado vai se tornar absurdo”, disse o diretor geral da DUH, Sascha Müller-Kraenner.
“Apelamos, portanto, a uma rejeição clara da importação de hidrogênio azul fóssil”, completa.
O Greenpeace alemão ressaltou que o armazenamento de CO2 não é econômico e não foi suficientemente testado.
“Se quisermos travar a crise climática, não podemos planejar com hidrogênio a partir do gás natural. Os combustíveis fósseis não têm lugar num sistema energético sustentável”, defendeu Mira Jäger, especialista em energia do Greenpeace.
Sinalização de demanda ao mercado
Segundo o ministro da Economia e Proteção Climática, Robert Habeck, a iniciativa é uma sinalização ao mercado internacional, na medida que grande parte da demanda alemã por hidrogênio será, a médio e longo prazo, suprida por importações.
“A estratégia de importação fornece a estrutura necessária, enviando um sinal claro aos nossos parceiros estrangeiros de que a Alemanha espera uma grande e estável demanda interna por hidrogênio e seus derivados, posicionando-se como um parceiro confiável e um mercado-alvo para esses produtos”
“Com isso, a estratégia cria segurança para investimentos na produção de hidrogênio em países parceiros, na construção da infraestrutura de importação necessária e para a indústria alemã como consumidora”, completou o ministro.
As estimativas do governo apontam para uma demanda nacional de hidrogênio e seus derivados entre 95 e 130 TWh até 2030, sendo que aproximadamente 50 a 70% (45 a 90 TWh) deverão ser importados.
A expectativa é que essa proporção aumente após 2030, com o consumo total de hidrogênio atingindo entre 360 e 500 TWh até 2045, além de cerca de 200 TWh em derivados de hidrogênio.
Objetivos da estratégia
A estratégia de importação visa garantir um fornecimento sustentável e seguro de hidrogênio e derivados.
Outro ponto é a diversificação de produtos, que além do hidrogênio, incluem derivados como amônia, metanol, nafta e combustíveis sintéticos, além de carreadores como LOHC.
O país também espera ampliar a colaboração com parceiros europeus e internacionais para diversificar ao máximo as fontes de fornecimento.
Isso inclui parcerias dentro dos mais de 30 acordos climáticos e energéticos e acordos específicos de hidrogênio estabelecidos com diversos países parceiros nos últimos anos, incluindo o Brasil.
Contudo, a Alemanha pretende cobrir grande parte de suas necessidades por meio de importações via gasoduto ou navio, com foco geográfico nas regiões do Mar do Norte, Mar Báltico e Mediterrâneo, e centros de produção na Península Ibérica e Norte da África.
Na área de infraestrutura, a estratégia definiu como prioridade o desenvolvimento de pipelines para importação e de transporte marítimo – que será essencial para importações de regiões técnica e economicamente inviáveis de serem conectadas por gasodutos.
Rede de gasodutos para hidrogênio
Também nesta semana, o governo alemão recebeu a primeira proposta, em uma candidatura conjunta, para a criação da rede principal de hidrogênio, que deve interligar áreas de produção, consumo, armazenamento e importação até 2032.
A rede principal proposta inclui linhas com uma extensão total de 9.666 km, muitas das quais estão qualificadas como Projetos Importantes de Interesse Europeu Comum (IPCEI), recebendo financiamento especial dos governos federal e estadual.
A operação das primeiras linhas está prevista para começar em 2025, com a conclusão total esperada para 2032. Cerca de 60% das linhas serão conversões de gasodutos atualmente utilizados para o transporte de gás natural.
“A implementação da rede principal é um passo crucial para a construção da infraestrutura de hidrogênio. Ela delineia especificamente onde e quando os futuros operadores de rede construirão e adaptarão linhas para abastecer locais centrais de hidrogênio em toda a Alemanha, criando segurança de planejamento para todos os envolvidos”, afirmou Habeck.