Energia

Açu e Toyo Setal anunciam parceria em fertilizantes, enquanto governo busca solução para o gás

Projeto no Porto do Açu usará gás natural como matéria-prima, mas mira, num 2º momento, produção de amônia verde a partir de H2V

O Porto do Açu e a Toyo Setal anunciaram nesta quarta (12/7) uma parceria para desenvolvimento conjunto de uma fábrica de fertilizantes nitrogenados no complexo portuário localizado em São João da Barra, no norte do Rio de Janeiro
Operação de fertilizantes no Terminal Multicargas no Porto do Açu, Rio de Janeiro (Foto: Divulgação Prumo Logística)

RIO – O Porto do Açu e a Toyo Setal anunciaram nesta quarta (12/7) uma parceria para desenvolvimento conjunto de uma fábrica de fertilizantes nitrogenados no complexo portuário localizado em São João da Barra, no norte do Rio de Janeiro.

O foco inicial é numa tecnologia que utiliza o gás natural como matéria-prima, mas o Porto do Açu e a Toyo Setal miram, no futuro, a produção de amônia verde a partir do hidrogênio via eletrólise da água.

Este ano, o Açu deu início ao licenciamento ambiental de um cluster de hidrogênio de baixo carbono no porto, com 4 GW de capacidade instalada.

A parceria entre o Açu e a Toyo, nos fertilizantes, envolve desde a estruturação do projeto ao seu desenvolvimento, licenciamento ambiental e busca por investidores estratégicos.

A previsão é que a unidade tenha capacidade para produzir 1,38 milhão de toneladas de ureia e 781,5 mil toneladas de amônia por ano.

Gás para fertilizantes é prioridade de Lula

A parceria entre o Porto do Açu e a Toyo Setal é selada num momento em que a Unigel enfrenta dificuldades para sustentar a produção nas fafens de Sergipe e Alagoas; e enquanto o governo federal estrutura o Gás para Empregar — um programa para aumentar a oferta de gás natural a preços competitivos e que tem o setor de fertilizantes como uma de suas prioridades.

Há duas semanas, Lula reafirmou que a produção doméstica de fertilizantes a partir do gás natural é uma prioridade do seu terceiro mandato.

“Temos que ter capacidade, competência e disposição política de transformar esse país num país autossuficiente. Inclusive de nitrogenados”, disse. “E nós vamos fazer, estejam certos”.

Para aprofundar:

Nitrogenados – o “N” do composto NPK – são produzidos a partir do gás natural.

A substituição de importações de fertilizantes do tipo, altamente dependentes da Rússia, encontrou espaço no discurso de posse de Lula, em 1º de janeiro.

O Ministério de Minas e Energia (MME) calcula que seriam necessários 10 milhões de m³/dia de gás natural para reduzir a dependência brasileira de nitrogenados atual a 10%; hoje beira os 90%.

A produção de fertilizantes a partir do gás é, historicamente, um desafio do ponto de vista econômico, no Brasil. Exige preços bastante competitivos para o gás natural.

Nas gestões passadas, durante o governo Bolsonaro, a Petrobras decidiu fechar as unidades por falta de retorno. Hoje, no novo governo, a companhia ainda entende que o custo de oportunidade é elevado – e descarta subsídios para a retomada das fábricas de fertilizantes de Sergipe e Bahia, arrendadas à Unigel.

Com um gás natural caro, em boa parte associado à produção de petróleo em campos marítimos, o fertilizante doméstico tem dificuldade para competir com o importado, em condições normais de mercado.

É o que tem levado a empresa a afirmar nos bastidores que o Brasil é um país petrolífero, não gasífero, ao contrário de grandes fornecedores mundiais do insumo agrícola, como os EUA, a Rússia e o Qatar, grandes produtores de gás natural – e barato.

Fontes da companhia e do governo, contudo, tentam moderar, nos bastidores, uma nova promessa de “choque de gás barato” – a exemplo da que fracassou no governo passado, quando a solução seria a venda de ativos da Petrobras e aprovação da nova Lei do Gás.

A companhia rebate lembrando dos custos da produção offshore e que ainda é preciso importar gás natural liquefeito (GNL) e gás da Bolívia para assegurar o cumprimento dos contratos.

Internamente, equipes técnicas que participam das discussões com o governo rejeitam um papel por vezes atribuído à companhia, de garantidora do suprimento nacional. Afirmam que é preciso manter práticas de mercado.

Açu dá primeiros passos nos fertilizantes

O Porto do Açu começou a movimentar fertilizantes, em 2021. Desde então, já foram movimentadas cerca de 100 mil toneladas de fertilizantes pelo porto – que ganhou, este ano, mais dois armazéns que aumentam em quatro vezes a capacidade de armazenamento.

O complexo portuário mira, agora, a instalação de uma unidade misturadora de fertilizantes na retroárea do porto e quer abrigar, no futuro, uma fábrica de nitrogenados.

Já a Toyo Setal possui uma tecnologia própria de produção de fertilizantes, presente em 87 projetos de amônia e 112 projetos de ureia no mundo.