Plano de outorga

Abihv e Abeeólica cobram antecipação de estudo para expansão da transmissão que atenda plantas de hidrogênio verde

Projetos bilionários de hidrogênio verde precisam de garantias de conexão para chegar a decisão final de investimento

Tanque de armazenamento de hidrogênio no projeto de P&D Pecém H2V, da EDP, no Ceará (Foto Divulgação EDP)
Tanque de armazenamento de hidrogênio no projeto de P&D Pecém H2V, da EDP, no Ceará (Foto Divulgação EDP)

RIO — Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (Abihv) e Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica) enviaram uma carta ao Ministério de Minas e Energia (MME) solicitando a antecipação do cronograma de entrega do Plano de Outorgas de Transmissão de Energia Elétrica (Potee).

Emitido pelo MME, o plano relaciona os próximos empreendimentos de transmissão que devem ser outorgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), seja através de licitação ou via autorização.

As associações destacam que a conclusão desse estudo está prevista apenas para dezembro de 2025, e que este prazo estaria desalinhado com os cronogramas de decisão de investimento de importantes projetos em andamento de hidrogênio a partir de eletrólise, classificada como uma atividade ultra-eletrointensiva, isto é, que demanda elevado consumo de energia elétrica.

“Vale destacar que a programação da conclusão dos estudos relativos ao Potee para dezembro de 2025 está descasada com as datas de decisão final de investimento de importantes projetos, ora em análise no país”, pontua a carta.

Plantas de hidrogênio verde no Ceará (Casa dos Ventos, Fortescue e Voltalia), no Piauí (Solatio), em Pernambuco (European Energy) e em Minas Gerais (Atlas Agro), esperam chegar à decisão final de investimento (FID) ainda em 2025.

Segundo a Abeeólica e a Abihv, para que isso seja possível e para que que as obras necessárias no sistema de transmissão sejam concluídas entre 2029 e 2030, é fundamental que esses estudos sejam finalizados ainda no primeiro semestre de 2025.

“Para dar continuidade ao desenvolvimento dos projetos de hidrogênio e cumprir as metas nacionais e internacionais de descarbonização, é de suma importância a aceleração dos processos de desenvolvimento e licitação de novas linhas e reforços no sistema de transmissão”, afirma o documento assinado pelas associações.

Desalinhamento de cronogramas

A preocupação é que haja um desalinhamento entre a expansão do sistema de transmissão elétrica e a demanda de projetos de hidrogênio verde no Brasil. 

“A eventual falta de acesso desses projetos ao sistema elétrico pode significar, portanto, um risco concreto de futura não implantação total dessa nova indústria no país e a consequente frustração dos investimentos bilionários a ela associada”, diz a carta. 

Investimentos anunciados para hidrogênio a partir de fontes renováveis no Brasil já somam R$ 188,7 bilhões, segundo estudo da CNI.

São projetos que chegam a potências impressionantes, com alguns alcançando até 12 GW de capacidade instalada ao longo dos anos, segundo dados da EPE. Para colocar em perspectiva, a maior carga conectada à rede de transmissão brasileira hoje é de 800 MW. 

O contraste entre esses números mostra como o hidrogênio verde exige uma nova abordagem, para ajustar as estratégias diante da dinâmica desse mercado, uma vez que os investimentos bilionários em unidades de produção requerem garantias de conexão. 

De acordo com as informações divulgadas pelo MME, em setembro de 2024, havia onze projetos com pedidos para conexão à rede elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN), que juntos somam uma capacidade instalada de 45 GW até 2038.

Pedidos de acesso à rede

Paralelamente, também está em dicussão o aprimoramento da regulação para pedidos de acesso à rede elétrica por consumidores ultra-eletrointensivos. O tema está sendo tratado na consulta pública 23/2024 da Aneel, atualmente em fase de consolidação das contribuições.

A medida visa evitar uma nova “corrida do ouro”, semelhante com a que foi vista no setor a partir de 2021 — quando projetos de geração eólica e solar sobrecarregaram de pedidos o sistema de transmissão —, e sinalizar adequadamente a necessidade de expansão da malha de transmissão. 

Hoje, o setor de geração renovável vem sofrendo constantemente com o aumento de cortes e limitações de acesso à rede, o que também foi destacado pela Abihv e Abeeólica como sinais de preocupação.

Esse cenário, segundo as associações, coloca em risco a sustentabilidade das usinas renováveis e pode afastar investidores.

“A instabilidade desses acessos e cortes de geração afugentam investimentos para onde haja garantia de fornecimento de energia elétrica renovável, segura e estável”, destacam as entidades. 

*Atualizada para corrigir uma informação. Abeeólica e Abihv solicitaram a antecipação do Potee, emitido pelo MME, e não do R1, emitido pela Empresa de Pesquisa Energética, como foi informado anteriormente na reportagem. O R1 é um dos passos para a elaboração do Potee.

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