Diálogos da Transição

Hidrogênio deve ser usado para descarbonizar indústrias sem outras opções

Energia renovável deve ser priorizada para a geração de eletricidade e não de H2, defende o E+

Laboratório de Hidrogênio e Combustíveis Avançados – H2CA (Foto: Renata Moura)
Laboratório de Hidrogênio e Combustíveis Avançados – H2CA (Foto: Renata Moura)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Análise dos think tanks E+ Instituto de Transição Energética e Agora Indústria defende a priorização do uso do hidrogênio na indústria para aplicações “sem arrependimento”, ou seja, onde outras opções como eletricidade de fontes renováveis ou biomassa e derivados não são uma opção.

A visão é que o país deve aproveitar o máximo possível a eletrificação a partir de sua matriz predominantemente renovável. E encarar o hidrogênio de forma complementar, onde o uso direto de eletricidade renovável é inviável.

“A energia renovável deve ser priorizada para a geração de eletricidade e não de H2”, diz o estudo (.pdf) publicado na última semana.

Para o E+, faz mais sentido aumentar a eletrificação e o uso de biocombustíveis na indústria, nas edificações e nos transportes em médio e longo prazo como estratégia de descarbonização.

No setor de transportes, por exemplo, onde algumas montadoras desenvolvem veículos movidos a células a combustível hidrogênio, o estudo aponta que tecnologias mais maduras – como o etanol – podem limitar o potencial de crescimento desse mercado.

“Biocombustíveis são a principal estratégia para a descarbonização do transporte no Brasil, inclusive com o desenvolvimento de células a combustível etanol. No longo prazo a eletrificação de parte do setor pode complementar o papel dos biocombustíveis”, explica.

Já no transporte pesado e de longa distância feito por caminhões, em que a eletrificação é mais desafiadora e o uso de H2 é visto como uma alternativa, a falta de infraestrutura pode ser uma barreira à disseminação da tecnologia.

Onde o H2 faz sentido?

Ferro, aço, combustíveis sintéticos, fertilizantes e produtos químicos. Esses são produtos elencados como os com maior potencial de aproveitamento do hidrogênio produzido pelo Brasil.

São indústrias que consomem muita energia e, consequentemente, emitem muitas toneladas de gases de efeito estufa.

Com a pressão internacional por produtos menos agressivos ao meio ambiente aumentando, o Brasil pode se posicionar como um grande fornecedor de ferro e aço verdes, por exemplo, enquanto reduz sua dependência por fertilizantes para produção de alimentos.

Também poderia fornecer e-metanol e amônia para abastecer o transporte marítimo, e SAF (combustível sustentável) para a aviação.

“Esperamos que o hidrogênio de baixas emissões possa servir de base para a neoindustrialização verde do Brasil, promovendo o nosso desenvolvimento socioeconômico e permitindo que o país dê uma contribuição significativa para a transição energética global”, resume a diretora-executiva do Instituto E+, Rosana Santos.

Corrida com obstáculos

O potencial brasileiro para geração eólica e solar tem atraído a atenção de investidores para desenvolver projetos de hidrogênio, muitos deles visando a exportação para Europa.

Já são mais de 50 projetos mapeados pela Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), com potencial de trazer R$ 70 bilhões para a economia nacional até 2030. Para sair do papel, no entanto, esses investimentos precisam de um marco legal que dê segurança jurídica – e há duas propostas em análise pelo Congresso Nacional.

Mas há uma série de outras questões no planejamento energético que precisam de atenção.

De acordo com o E+, os desafios vão desde planejamento intrassetorial em áreas como energia, indústria, transporte, infraestrutura e meio ambiente; até boas condições de governança que viabilizem novos investimentos, passando pelo aproveitamento eficiente dos recursos energéticos regionais.

“A viabilidade desse desenvolvimento também está ligada ao fato de que o hidrogênio de baixa emissão deve ser considerado no país não apenas do ponto de vista energético, mas também por sua importância em termos de mudanças climáticas, o que abre a possibilidade de combinar instrumentos de financiamento das duas áreas”, completa.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Hidrogênio em motores diesel

A Shell vai investir R$ 17,7 milhões em uma iniciativa para explorar o potencial do hidrogênio adicionado em motores de combustão interna de navios-sonda e navios-tanque. O projeto é desenvolvido em parceria com a Ocyan e a LZ Energia (unidade de negócios Protium Dynamics), que tem a patente da tecnologia. Objetivo é descarbonizar operações offshore reduzindo o consumo de diesel.

Macaúba para aviação

A Acelen Renováveis realizou na última quinta-feira (18/4) o plantio experimental de mais de 1,3 mil mudas de macaúba, uma planta nativa brasileira não domesticada. Uma área de aproximadamente 30 mil m² em Piracicaba (SP) recebeu as mudas da planta cujo óleo está sendo estudado como matéria-prima para fabricação de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) e diesel verde (HVO).

Economia de combustível

A Azul estima que economizou combustível equivalente a 20 mil voos entre Rio e São Paulo, nos últimos dois anos, com o programa APU Zero, que reduziu consumo em mais de 50 milhões de litros de QAV. A iniciativa de diminuição do uso da APU (Auxiliary Power Unit) também possibilitou uma redução de 128 mil toneladas de CO2, equivalente à absorção de CO2 por aproximadamente 5,8 bilhões de árvores ao longo de um ano.

Mulheres eletricistas

A Manserv contratou sete eletricistas recém-formadas pela Escola de Eletricistas do Grupo Equatorial em parceria com o Senai de Santana/AP para atuar na instalação de postes, transformadores, e na passagem de fios e cabeamento em diversas cidades amapaenses – de Vitória do Jari ao Oiapoque, passando pela capital Macapá. O grupo de trabalho formado só por mulheres já está operando.

Neoindustrialização em Pernambuco

Especialistas se reúnem nesta terça (23) no Cinema do Porto Digital, no Recife, para um diálogo sobre o potencial do Nordeste para a concretização de investimentos em Powershoring. Organizado pelo Governo do Estado de Pernambuco, em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS), o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) e a International Finance Corporation (IFC), o encontro é presencial, das 8h30 até 12h. Inscrições no link

Menos plástico

Em um ano, a Serasa Experian conseguiu reduzir 2,3 toneladas de emissão de CO2 com ação para evitar plástico de uso único (SUP). A empresa deixou de utilizar itens feitos com o material, substituindo, inclusive, os 500 mil copos utilizados anualmente nas operações do Brasil. O resultado com a campanha “Minha Caneca Faz a Diferença” evitou o descarte de cerca de 1.200 kg de SUP, além de gerar uma economia de mais de R$ 157 mil com a compra de insumos.