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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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Levantamento anual da iniciativa Force for Good alerta que a lacuna de financiamento para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS da ONU) aumentou para até US$ 135 trilhões após a invasão da Ucrânia pela Rússia somada a outros desafios internacionais, como a emergência climática.
Os ODS são metas de sustentabilidade a serem alcançadas até 2030 em diferentes áreas: meio ambiente, educação, igualdade de gênero e racial, saúde e governança.
Publicado para subsidiar os debates da Assembleia Geral da ONU que ocorre este mês, o relatório Capital as a Force for Good indica um aumento de 35% na lacuna de recursos destinados ao desenvolvimento sustentável.
Esse hiato considera os recursos aplicados até o momento em projetos que levam ao cumprimento das metas dos ODS e os previstos, e varia de US$ 102 trilhões a US$ 135 trilhões.
Já o custo total para alcançar os ODS aumentou em até 25% no ano passado, de US$ 116-US$ 142 trilhões para US$ 134-176 trilhões.
“No ponto médio entre a sua criação e a data-alvo de 2030, o mundo não está no caminho certo para atingir as metas, com uma necessidade significativa de financiamento de US$ 134-176 trilhões”, dizem os pesquisadores.
O grupo também destaca que os ODS não serão alcançados até 2030 e correm o risco de precisar de muitas décadas mais.
Entre os motivos estão o subfinanciamento climático e a crise energética gerada tanto por questões climáticas quanto pelo desencadeamento político da invasão da Rússia na Ucrânia.
“O progresso em vários ODS foi desfeito, incluindo a pobreza global, com mais de 100 milhões de pessoas em extrema pobreza desde 2019. Em relação à educação, 100 milhões de crianças adicionais caíram abaixo dos níveis mínimos de proficiência em leitura no mesmo período e, adicionalmente, mais 210 milhões de pessoas estão experimentando insegurança alimentar aguda”, alerta.
Segurança x sustentabilidade
Para Ketan Patel, presidente da Force for Good, um dos grandes desafios para destravar o financiamento necessário é mudar a visão de governos e empresas em relação aos ODS, que deveriam ser observados como oportunidades de investimento.
“Os eventos globais correm o risco de atrair foco e financiamento da sustentabilidade em nome da segurança, na crença equivocada de que essas são prioridades concorrentes e não inextricavelmente vinculadas”, diz Patel.
No setor público, um exemplo é como os países têm reagido ao corte no abastecimento de combustíveis da Rússia — transição no longo prazo; óleo, gás e carvão no curto prazo para garantir segurança.
Novos planos para o carvão fizeram a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) elevar as projeções de consumo para 2022, que deve chegar a 8 bilhões de toneladas. E não vai sair mais barato: Gás e carvão disparam com corte definitivo da Rússia para a Europa
“Desbloquear quase metade da riqueza do mundo para financiar sustentabilidade e segurança exigirá o alinhamento de todos os grupos de partes interessadas, de clientes e consumidores a governos e empresas”, completa Patel.
De acordo com o relatório, a riqueza global é de US$ 450 trilhões, mas a disposição de empresas e pessoas de exercer pressão sobre o sistema financeiro é baixa.
Até 50% da população mundial desconhece os ODS, o que limita seu papel em forçar mudanças como clientes do setor financeiro ou como consumidores.
Na questão climática, mesmo entre as 2.000 maiores corporações do mundo, 62% não se comprometeram com emissões líquidas zero.
Cobrimos por aqui:
- Financiamento climático de países ricos ainda abaixo dos US$ 100 bi
- Setor financeiro coloca plano de transição net-zero sob consulta
- Financiamento para conter o metano está em um décimo do necessário
- Transição energética precisa resolver lacuna de investimentos em emergentes
Escravidão aumenta à medida que crises alimentam a pobreza
O número de pessoas forçadas a formas modernas de escravidão aumentou em um quinto nos últimos anos para cerca de 50 milhões em meio a um aumento na pobreza e outras crises, mostra relatório da Organização Internacional do Trabalho da ONU (OIT).
A situação foi agravada por crises como a pandemia de covid-19, conflitos armados e mudanças climáticas que deixaram mais pessoas em extrema pobreza e forçadas a migrar, disse a OIT. Reuters
‘Herança maldita’
A área de alertas de desmatamento na Amazônia cresceu 81% em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado. Com 1.661 km2 de devastação registrados pelo sistema Deter-B, do Inpe, foi o segundo pior agosto da série histórica, quase empatado com 2019, primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro (PL), que registrou 1.714 km2.
Como o desmatamento na Amazônia é medido pelo Inpe de agosto de um ano a julho do ano seguinte, a série de dados de 2023 começa já com alta.
Se confirmadas as pesquisas eleitorais até o momento, a conta fica para Lula (PT), que lidera a disputa ao Planalto.
“Isso vai demandar ação determinada e planos muito concretos, mas até agora os candidatos à sucessão de Bolsonaro têm falado muito pouco sobre como pretendem retomar o controle da região, que abarca metade do território nacional”, critica Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
MP do RenovaBio
Em ofício ao ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, deputados da Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio) advertem o governo sobre riscos de alterar regras do RenovaBio por Medida Provisória como anunciado pela pasta.
No documento, a FPBio afirma que as mudanças do tipo precisam passar por discussão e que o adequado é que ocorram via projeto de lei. Ao todo, 11 propostas são alvo de críticas, em linha com as preocupações dos setores de etanol, biodiesel e biometano.
Entre elas, o reconhecimento da parcela renovável de combustíveis coprocessados como biocombustível e a transferência de obrigação de compra de CBIOs. Veja o ofício (.pdf)
Para a agenda
13/9 — O Ministério de Minas e Energia (MME) realiza às 15h um webinar para apresentar o Estudo de Atendimento à Região de Matopiba, com o planejamento da expansão de linhas de transmissão de energia elétrica na região. O evento será transmitido pelo canal do MME no YouTube.
13/9 — Especialistas da Wood Mackenzie revisam emissões de escopo 1, 2 e 3 para campos de petróleo e gás em todo o mundo, com a ferramenta Emissions Benchmarking. Serão analisadas diferentes configurações de produção e fornecimento de petróleo e gás, com exemplos concretos e uma perspectiva regional. Informações e inscrições no site