No quinto dia de crise provocada pela greve dos caminhoneiros, a dificuldade do governo em estancar a crise virou combustível para os presidenciáveis de esquerda que criticam também a política de reajustes da Petrobras. Enquanto Meirelles e Alckmin evitaram as redes sociais, Rodrigo Maia tentou acordo pela Câmara e foi criticado pelo Planalto.
No campo da centro-esquerda, os candidatos aproveitaram a crise para capitalizar. Nos últimos dias, sobraram críticas à política de preços da Petrobras e à fala do presidente da companhia, Pedro Parente, que na noite de quarta-feira afirmou que a prioridade da Petrobras é dar retorno aos investidores. Para Manuela d’Ávila (PCdoB) “a lógica de uma empresa estratégica como a Petrobras não pode ser a de dar lucro aos seus acionistas. Mas a gestão de Parente, um homem do mercado financeiro, está centrada nisso”.
Ciro Gomes (PDT) adotou um tom parecido nas críticas à postura da empresa frente à crise. “Toda a eficiência da Petrobras deve ser transferida para o interesse público brasileiro e é isso que nós vamos fazer”, afirmou o candidato pelo Twitter na manhã de quinta-feira.
Ciro ainda afirmou que a política de preços de combustíveis da empresa “está equivocada e desrespeita sua política de custos”.
Guilherme Boulos (Psol) criticou nessa sexta a decisão do governo de acionar o exército para combater as obstruções de estradas. Para ele o uso das forças armadas é demonstração da incapacidade do governo de lidar com a crise criada, afirma, por Pedro Parente, presidente da Petrobras.
“Temer age com covardia, com uma política de preços de combustíveis que se ajoelhou diante do mercado. E agora apela para a força militar”.
Boulos vem defendendo também o fim da atual política de preços da Petrobras. “Não vamos privatizar o custo de vida das pessoas”, disse, defendendo que o preço dos combustíveis precisam ser controlados pelo governo. “A política de preços da Petrobrás encheu bolsos em Wall Street e esvaziou as bombas de gasolina no Brasil”, postou na quinta, 24.
Meirelles elogia acordo do governo e se pronuncia por nota contra “empresas transportadoras”
O candidato governista, Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda de Temer e articulador da política de preços da Petrobras, soltou uma nota nessa sexta-feira em que criticou o que considera ação de empresários na paralisação e voltou a clamar pela reforma da previdência e por uma reforma tributária.
“É inaceitável que, além dos problemas graves e reais dos preços do petróleo e derivados, haja um componente político-ideológico e empresarial nessa aliança de entidades politicamente engajadas com empresas transportadoras”, afirmou. “”Para resolver o problema definitivamente, temos que reduzir as despesas federais e abrir espaço para diminuir os impostos, inclusive dos combustíveis. Para isto, é necessário fazer a reforma da Previdência. No nível estadual, é preciso realizar uma reforma tributária visando a redução de impostos nos combustíveis”.
Nas redes sociais permanece sem tocar no assunto da greve dos caminhoneiros. A última postagem do presidenciável aconteceu na quarta-feira, dia 23, em celebração ao lançamento do documento “Encontro com o Futuro” pelo MDB, evento em que seu nome foi chancelado pelo presidente Temer como pré-candidato do partido. Meirelles aproveitou a ocasião para lançar um vídeo promocional intitulado “meu caminho”.
Ontem à noite Meirelles elogiou o acordo firmado entre governo e representantes dos grevistas como “bastante ponderado”. Para ele o governo mostrou-se preocupado com a população e a atividade econômica. O acordo capitaneado pelo ministro Eliseu Padilha, Casa Civil, vai subsidiar a Petrobras com um custo estimado pelo próprio governo em até R$ 5 bilhões nos próximos sete meses até dezembro.
Há quinze dias, em evento em Niterói, Meirelles foi questionado por jornalistas acerca da alta dos combustíveis. Na ocasião o ex-ministro defendeu a redução dos impostos sobre os combustíveis como forma de combater a alta puxada pelo preço do petróleo no mercado global e afirmou que um plano com esse conteúdo fora gerido no ministério da Fazenda sob seu comando.
Buscando apoio do MDB, Alckmin evita criticar governo
Em São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB/SP) afirmou ontem que faltou diálogo do governo com os grevistas e defendeu que os reajustes da Petrobras na venda de combustíveis às refinarias sejam feitos com um intervalo maior, semanalmente ou quinzenalmente para dar maior previsibilidade ao setor de cargas.
O tucano também discordou das críticas do vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima, seu correligionário que defendeu na tribuna a demissão de Pedro Parente e a revisão imediata da política de preços da Petrobras.
Alckmin, que ainda busca aliança com o MDB para ter Meirelles como vice de sua chapa também evitou o tema nas redes sociais durante toda a semana. O candidato focou suas postagens em criticar o candidato do PSL, Jair Bolsonaro. Ontem Alckmin anunciou nomes que vão elaborar propostas para educação no seu plano de governo. Ontem a escassez de combustível impediu o candidato tucano de viajar para fazer campanha em Rondônia.
Rodrigo Maia atua no começo da semana e sai de cena sob críticas de Marun
Ainda no domingo, Rodrigo Maia (DEM/RJ) foi o primeiro presidenciável a criticar abertamente a inoperância do governo frente ao anúncio de greve dos caminhoneiros. Nas redes sociais o presidente da Câmara afirmou que “o preço dos combustíveis, no nível em que se encontra, começa a impactar negativamente o dia a dia dos brasileiros”.
Na segunda-feira o presidente da Câmara dos Deputados juntou-se a Eunício Oliveira (MDB/CE), presidente do Senado, e articulou um acordo com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia para zerar a CIDE sobre o diesel. Sem acalmar os motoristas grevistas, Maia articulou na quarta a votação do PL 8456/17 que reonera cerca de 50 setores para incluir no texto a proposta capaz de zerar PIS/Cofins sobre diesel até dezembro.
O acordo calculado pela Câmara com impacto de R$ 3 bilhões sobre a União, estressou ainda mais a relação de Maia com o governo e foi criticado duramente pelo Planalto.
Na noite de quinta, após participar do anuncio do acordo com associações e motoristas e transportadoras, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, classificou a proposta como um “erro grosseiro” de cálculo.
Marina defende teto para ICMS e investimentos em biocombustíveis
Pré-candidata do Rede à presidência, Marina Silva também criticou os reajustes diários praticados pela Petrobras na venda de combustíveis às refinarias e afirmou que a empresa tem “margem para manejar essa situação”. Marina falou ontem em sabatina promovida pelo SBT com a Folha e UOL. Para ela, “o governo estava bastante perdido em relação a essa situação, que é grave e está criando sério prejuízo para o nosso país”.
A candidata ainda defendeu a proposta do senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP) de impor um teto ao ICMS sobe combustíveis, mas frisou que a crise lembra a importância de se investir em biocombustíveis.
“Uma boa parte do custo do combustível tem a ver com os tributos. Claro que controlar esses tributos pode ajudar aí na contenção do custo”, afirmou na sabatina.
Bolsonaro se diz a favor dos caminhoneiros mas não comenta sobre Petrobras
Na extrema-direita, Bolsonaro (PSL/RJ) se posicionou a favor da greve mas contra o bloqueio das estradas. Na última quarta em Salvador, o presidenciável afirmou que a Petrobras não pode ter o monopólio do preço dos combustíveis “para tapar buraco de corrupção e ajudar governadores”, que arrecadariam mais com ICMS. No único comentário sobre a tributação dos combustíveis, ponto crítico levado pelos caminhoneiros ao governo para encerrar a greve, Bolsonaro afirmou apenas que “quando aumento o ICMS do combustível vai refletir mais dinheiro no caixa do governo. Só pode desaguar no que está desaguando”.
Nas redes sociais o candidato do PSL fez uma postagem no primeiro dia de greve criticando a ineficiência do Congresso e do governo em responder às demandas dos motoristas. “Os caminhoneiros não têm encontrado eco no legislativo e sobrou-lhes o executivo que teia a se omitir”.
Novo defende privatização
João Amoedo, pré-candidato do Partido Novo, defendeu a privatização da Petrobras como a saída para a redução dos preços. “Infelizmente, é isso que acontece com a maioria das estatais, como a Petrobras: servem apenas para benefício dos políticos. No final a conta vem para todos os brasileiros. Para termos produtos mais baratos precisamos acabar com as estatais, com os monopólios e abrirmos o mercado”, afirmou em sua conta no Twitter.