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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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A estratégia do governo brasileiro para o hidrogênio de baixo carbono coloca como meta 2035 para consolidar hubs no país, reunindo produtores e consumidores, geradores de energia, logística de distribuição e transporte.
Antes disso, pretende disseminar plantas pilotos em todas as regiões do país até 2025 e se posicionar como o supridor mais competitivo do mundo até 2030.
Há cerca de US$ 30 bilhões em projetos de hidrogênio de baixo carbono mapeados pelo governo no Brasil.
Como chegar lá, no entanto, ainda não está muito claro. Apresentada ao mercado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) na última quarta (16/8), a atualização do Plano Trienal 2023-2025 do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) foi recebida com cautela.
Apesar de observarem alguns avanços em relação ao documento anterior, agentes da cadeia de hidrogênio esperam mais detalhes sobre a estratégia do Brasil para desenvolvimento desta indústria.
Uma das críticas é em relação ao enfoque inicial em projetos pilotos.
“Se queremos ser os mais competitivos do mundo em 2030 deveríamos estar focando em plantas em escala industrial”, comenta Eduardo Tobias, coordenador da Força-Tarefa de Hidrogênio Verde da Absolar.
Tobias participou na quinta (17/8) da live Diálogos da Transição, realizada pela agência epbr.
“O resto do mundo já está no processo de grande escala, e não em plantas pilotos”, completa.
A Absolar integra o recém lançado Pacto pelo Hidrogênio Renovável, junto com Abiogás, Abeeólica, Câmara de Comércio do Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK Rio) e governo do Ceará.
O grupo mira a definição de um marco regulatório para aumentar a competitividade do combustível no Brasil e no exterior, além de marcar posição sobre as rotas de produção que devem ganhar apoio político. Leia na cobertura de Gabriel Chiappini
Consumo na indústria e nos transportes
Um dos destaques na atualização do plano trienal foi a inclusão do termo “neoindustrialização” em um dos eixos do PNH2, atendendo a pedidos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), que defende a inclusão do hidrogênio em política industrial.
Além da indústria, o setor de transporte pesado é mais um mercado promissor para o H2.
“Fizemos várias entrevistas e o setor que possui maior demanda hoje é o de transportes. Falamos com empresas de navios e automóveis (…), é um setor que será bastante impactado, junto com a agroindústria e siderurgia”, conta Paula Bucchianeri, especialista de Desenvolvimento Industrial do Senai.
A maioria dos projetos mira a substituição dos combustíveis fósseis (55%), seguida pela produção de hidrogênio verde (29%) e produção de bens e equipamentos (10%).
Mas, enquanto 74% das indústrias estão desenvolvendo iniciativas utilizando o hidrogênio sustentável, apenas 6% idealizam projetos focados em mobilidade. Um dos motivos é o custo do energético.
Durante audiência na Comissão Especial de Hidrogênio Verde (CEHV) do Senado esta semana, a gerente executiva ambiental da CNT, Erica Marcos, disse que o H2 é visto como promissor para descarbonizar o frete, mas o avanço da tecnologia vai depender de subsídios.
“O preço é o problema. É muito acima do que podemos abarcar em escala. Precisamos dos incentivos corretos para viabilizar a parte econômica”, afirma. Leia na matéria de Millena Brasil
Matéria-prima para SAF
A aviação é outro segmento que vai demandar toneladas de hidrogênio.
Este mês, a produtora de eletrocombustíveis (eFuels) HIF Global fechou um acordo comercial com a Honeywell para o uso da tecnologia que permite a produção de eSAF, combustível sustentável de aviação (SAF) derivado do metanol verde (eMetanol).
O eSAF faz parte do grupo dos combustíveis sintéticos produzidos a partir de hidrogênio verde (de eletrólise) combinado ao dióxido de carbono (CO2).
Um desafio para o avanço dessa tecnologia, no entanto, é o preço – muito mais alto que o do querosene fóssil.
A competitividade do novo combustível depende de questões como o custo da eletricidade renovável para a eletrólise e a disponibilidade de CO2 para a produção do metanol.
É nesse ponto que o Brasil pode se beneficiar como supridor global. Mas precisa de definições políticas.
Em entrevista à agência epbr, o diretor de vendas na Honeywell UOP, Leon Melli, aponta que o alto percentual de renováveis na matriz elétrica brasileira favorece a participação do país na cadeia produtiva dos combustíveis avançados. No entanto, é necessário aprovar o mercado regulado de carbono nacional.
“O que falta é a regulação para que se tenha o incentivo econômico necessário que estimule efetivamente o empresário a investir”, diz Melli. Confira na cobertura de Gabriela Ruddy
Cobrimos por aqui:
- Eólica offshore quer política industrial para garantir demanda
- Biorrefino, etanol 2G e captura de carbono no novo PAC
- Empresas brasileiras precisam exportar energia renovável, diz Siemens
- Agenda da COP28 propõe dobrar a produção de hidrogênio até 2030
E ainda…
Eólicas offshore do Ceará não dependem de leilões de energia
Demanda para produção hidrogênio verde seria suficiente para ancorar projetos de geração em alto mar, segundo secretário executivo de energia e telecomunicações do Ceará, Adão Muniz Linhares.
EDF Renewables analisa construção de planta de hidrogênio verde no Ceará
Companhia firmou memorando de entendimento com governo estadual para estudar viabilidade de desenvolver uma indústria no hub de hidrogênio do Pecém.
Congresso retoma articulação para aprovar marco das eólicas offshore
Relator na Câmara, deputado federal Zé Vitor (PL/MG), vai reiniciar o diálogos com agentes e estima que será possível votar o texto em quatro semanas.
Artigos da semana
– O lobby do Brasil pelo hidrogênio de biomassa País tem o desafio de vender a sustentabilidade das matérias-primas na produção de hidrogênio, avalia Gabriel Chiappini
– Nova lei de concessões florestais cria mais possiblidades para créditos de carbono A regulamentação das atividades em concessões florestais fomenta o interesse privado na conservação e gerenciamento sustentável de florestas públicas, avaliam Felipe Boechem, Guilherme Mota, Gabriela Mello e Victoria Weber