RIO – Com políticas de proteção ao aço nacional e incentivos à descarbonização da indústria, o governo acredita que a siderurgia verde – que substitui o carvão por gás natural, eletrificação ou hidrogênio no processo produtivo – pode impulsionar as exportações e a industrialização no país.
“O mundo, quando pensa na questão climática, em transição energética, pensa no Brasil. O Brasil é a bola da vez”, destacou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta segunda (20/5), durante evento onde representantes da indústria siderúrgica anunciaram um investimento de R$ 100 bilhões na expansão da produção de aço nos próximos cinco anos.
A siderurgia contribui, atualmente, com 7% das emissões de CO2 relacionadas à produção e uso de energia.
Em estudo recente, a BloombergNEF, aponta que o Brasil, por conta do potencial de oferta de hidrogênio verde barato, é um dos candidatos a receber siderúrgicas em busca de produção de aço com baixo teor de carbono a preço competitivo.
Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), o aço verde deve ser o “carro-chefe” do Brasil para ganhar mercado internacional.
“Vamos ser mais competitivos se mirarmos na questão verde”, disse Haddad na segunda, ressaltando que a sustentabilidade é essencial para o futuro da indústria brasileira.
“O aço verde terá apelo no mercado internacional”, completou.
Um dos mercados potenciais é a União Europeia, que recentemente adotou o Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono (CBAM, em inglês), para importações de cimento, ferro e aço, alumínio, fertilizantes, eletricidade e hidrogênio.
A política vai precificar as emissões dos produtos importados e, na prática, pode significar um incentivo para países como o Brasil investirem na produção de commodities com menor intensidade de carbono, como o aço verde.
Política industrial
Segundo o vice-presidente e ministro do de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB), o anúncio é uma resposta do setor às medidas adotadas pelo governo brasileiro para fortalecer e dar competitividade à indústria nacional do aço.
“O anúncio de R$ 100 bilhões de investimentos vem ao encontro de dois objetivos do governo: aumentar os investimentos no Brasil e melhorar a competitividade (…) Isso foi entendido por toda a indústria, e o resultado são R$ 100 bilhões de investimentos, melhorando a competitividade, descarbonização, gerando emprego, gerando renda”, destacou.
Entre as ações estão a criação, em abril, de cotas de importação para 11 produtos siderúrgicos. A alíquota para os itens, que antes era de 9% a 12,6%, passou a ser de 25%.
O governo também intensificou as investigações contra práticas de dumping – quando uma empresa envia para o Brasil um produto a um preço de exportação inferior àquele que pratica no seu mercado interno.
Atualmente, há 26 medidas antidumping em vigor contra produtos siderúrgicos originários de 13 países: China, Índia, Alemanha, Rússia, Malásia, Taipé chinês, Romênia, Ucrânia, África do Sul, Vietnã, Tailândia, Indonésia e Coreia do Sul. Além de outras 10 investigações em curso.
Nova indústria
Lançado em maio, o programa Nova Indústria Brasil (NIB) é outra sinalização ao mercado, na medida em que tem entre os objetivos um corte de 30% nas emissões de CO2 por valor adicionado do Produto Interno Bruto (PIB) do setor.
O programa conta com um aporte de R$ 300 bilhões de financiamentos de instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O montante inclui R$ 12 bilhões para a iniciativa Indústria Mais Verde, que financia projetos de descarbonização e R$ 40 bilhões com a criação do BNDES Exim Bank – linha voltada para apoio à exportação.
Demanda aquecida
Um dos objetivos do governo é aumentar a participação do Brasil no mercado mundial de siderurgia.
No ano passado, houve um crescimento de mais de 57% nas importações brasileiras de aço, especialmente de origem da China (que usa carvão nos fornos), enquanto a produção local recuou 6,5%.
Os números indicam um mercado interno em expansão, mas também a necessidade de fortalecer a produção local para atender à crescente demanda.
“Tenho certeza que o consumo de aço vai aumentar muito, ele está num patamar inaceitável”, disse o ministro Haddad.
Em 2023, o mundo produziu mais de 1,888 bilhão de toneladas de aço cru, segundo a World Steel Association, sendo só a China responsável por mais de 1 bilhão de toneladas, ocupando de longe a liderança no ranking. Já o Brasil aparece como o nono maior produtor, com apenas 32 milhões de toneladas.
Uma das principais consumidoras de aço no país é a indústria automotiva, que recentemente também fez grandes anúncios de investimentos no Brasil, após estímulos anunciados pelo governo.
O MDIC estima R$ 130 bilhões de investimentos anunciados pela indústria automotiva desde o início do governo Lula, com a Reforma Tributária e o lançamento do Mover, programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação, ajudando a alavancar os planos do setor privado.